Contra crise de audiência, TV aberta surfa em sucessos de BBB, Faustão e The Masked Singer Brasil

Especialistas apontam importância de uso da internet e das redes sociais para o sucesso dos programas

 Foto: Reprodução


Reportagem originalmente publicada no Jornal da Metropole, em 27 de janeiro de 2022

Se, há 20 anos, o sucesso de programas como o Big Brother Brasil era medido pelos milhares de brasileiros que registravam seus votos por ligação telefônica, hoje os números ultrapassam os milhões e são conquistados logo nos primeiros dias da atração. 

Programas como BBB ou mesmo o frisson gerado pela ida de Faustão para a Band demostram a força da TV aberta, mesmo em um cenário no qual a perda de audiência para os streamings tem sido constante. Números de uma pesquisa do Kantar Ibope, divulgados pelo jornalista Ricardo Feltrin ano passado, mostram que a TV Globo (maior do país) já perdeu, desde 2001, cerca de 1 em cada 3 telespectadores diários. 

Em 2001, a média da emissora nas 24 horas do dia em rede nacional era de 20,5 pontos. Hoje essa média é de 15,3 pontos. Nadando contra esta corrente, a vigésima segunda edição do BBB tem pulverizado recordes. Só na primeira semana já superou a audiência de seis das noves edições anteriores em São Paulo, cravando 24 pontos. No Rio, o número foi ainda maior: 27 pontos. 

O número do Ibope é apenas um indicador do sucesso. A quantidade de seguidores que os participantes de reality shows conquistam horas depois de serem anunciados mostra a força de engajamento da atração também na internet, terra nativa dos serviços de streaming. 

Na semana que o BBB estreou, o participante cearense Vynicius, até então um completo anônimo, ganhou mais de 3 milhões de seguidores no Instagram. Dos dez assuntos mais comentados do Twitter, no início da semana, pelo menos seis tinham relação direta com o programa. 

Especialistas no assunto apontam as razões dessa repercussão nas redes sociais. “O cenário hoje é completamente diferente do que se tinha antes, onde a TV aberta estava mais restrita simplesmente à transmissão dos programas. As emissoras tiveram que encontrar formas de se recolocar, justamente na tentativa de manter o seu público”, explica a professora de comunicação da Unifacs, Milene Moura.

Falando especificamente sobre o BBB, a professora analisa como o programa passou a engajar seu público de diferentes maneiras. A novidade deste ano é o lançamento de um aplicativo no qual o telespectador pode apostar nos participantes que vão se dar melhor na competição. Tudo isso em troca de pontos. “O BBB hoje em dia é muito falado mesmo antes de começar. Essa relação com as mídias pauta inclusive a escolha dos participantes. Influenciadores, pessoas que geram polêmica na internet. Até o próprio diretor do programa interage nas redes sociais, muito nessa lógica”, explica a professora. 

Professora da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e articulista do Grupo Metropole, a doutora Malu Fontes aponta peculiaridades desta nova forma de consumir o programa. “ O BBB só funciona na TV aberta e só dá o retorno que dá pra TV aberta porque tem ao redor todo um ecossistema de consumo. Esse burburinho se dá exclusivamente a partir das redes sociais. Não é pelo telespectador na fila do supermercado que viu na TV e comenta com os amigos. Você pode hoje praticamente não ver a Globo, mas saber de tudo o que acontece no programa”, observa.

A fórmula está nas redes 

Apesar de ser o caso mais conhecido, não é exclusividade do BBB gerar repercussão na internet. A lista de programas feitos para a TV aberta que conquistam também seu espaço virtual inclui o reality de culinária Master Chef, da Band, e os cantores mascarados do The Masked Singer Brasil, comandado pela cantora baiana Ivete Sangalo. 

Tantos exemplos fazem vir à tona a pergunta: teria a TV aberta superado uma crise de público causada pela chegada dos serviços de streaming? “Obviamente que a audiência da TV aberta despencou. Mas ela não despencou porque a TV aberta não presta ou ninguém mais quer ver. Ela despencou porque surgiram uma série de outras possibilidades que fizeram a audiência se pulverizar”, explica Malu Fontes. 

O personal trainer Gabriel Dias é um dos que deixou de consumir a TV aberta nos últimos anos. “Me lembro de sentar em família para ver o capítulo final da novela. Até no próprio BBB a gente parava pra assistir ao vivo. Agora meu consumo acontece muito mais pela internet. Quando algo repercute muito e quero ver a cena, vou buscar o vídeo no streaming da própria emissora”, detalha. 

 

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A forma de consumo experimentada por Gabriel virou objeto de estudo. A professora Milene Moura detalha que a expansão do conteúdo da TV aberta na internet deixou de ser apenas a replicação daquilo que é transmitido durante a programação do canal. “Antes, tínhamos uma replicação do conteúdo em várias plataformas e hoje a gente tem uma complementaridade. Isso faz com que as pessoas acessem todos os canais pra ter o consumo completo. Na TV tenho o programa original, no streaming as câmeras ao vivo, se eu quero interagir tem o aplicatvo”, detalha. 

Malu Fontes vai além. “O BBB começou como em programa de entretenimento. Hoje virou outra coisa e a TV aberta é só o que dá o start nesse produto. É uma dinâmica de discussão de país. O que aquela novela foi no passado, o Big Brother passa a ser hoje. É o BBB que vai lançar tendência, vender produto e transformar tudo em produto”, reforça a articulista da Metropole.

METRO1 

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