Alto número de acidentes de trânsito vai muito além da falta dos radares
Foto: Divulgação / PMVC
Por: Lucas Tinôco e Daniel Morais
Dirigir, pilotar e caminhar em Vitória da Conquista está se tornando cada vez mais perigoso. Isso porque desde o início de 2023, o terceiro maior município da Bahia passa por um salto dos números de acidentes de trânsito. O aumento desse índice, no entanto, não passa somente pela retirada dos Medidores Eletrônicos de Velociade (MEV), popularmente conhecido como radares.
Os radares ficaram ativos pelo período de um ano, que compreende abril de 2022 a abril de 2023, quando foram desinstalados. A Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista (PMVC) não renovou o contrato em período hábil e, desde então, a cidade tem percebido um aumento de imprudência por parte dos condutores, seja de carros, motos e até de transporte coletivo.
Dados do Simtrans e SAMU 192 apontam o registro de 440 acidentes de trânsito em Conquista no último mês de abril, sendo que 283 não tiveram vítimas e outros 157 foram com vítimas. Esse número representa um aumento de quase 13% em comparação com o mesmo mês em 2022. Os dados de maio, por ora, ainda não foram fechados pelos órgãos responsáveis.
O aumento já demonstra o impacto positivo que os medidores de velocidade tiveram para Vitória da Conquista. Entretanto, isso fica ainda mais claro quando se vê o comparativo entre os anos de 2021 e 2022, em que a cidade, no geral, registrou uma redução de 21,65% dos acidentes sem vítima e outros 28,99% nas infrações com vítimas. No total, o ano passado teve 4.437 acidentes contra 5.919 do ano retrasado.
Radares tiveram impacto positivo, mas comportamento dos condutores piorou
No geral os números não mentem: houve redução dos números de acidentes em Vitória da Conquista de 2021 para 2022. No entanto, o comportamento dos condutores de veículos piorou a partir de dezembro passado. Nesse sentido, a partir do respectivo mês, a cidade vivenciou um aumento dos problemas de trânsito, tanto nas infrações que não ocasionaram algum tipo de lesão corporal, quanto nas que acarretaram em ao menos uma vítima.
Vale lembrar, portanto, que de dezembro de 2022 a março de 2023 os radares ainda estavam em pleno funcionamento na cidade. Ainda assim, os números cresceram. Em dezembro de 2021 o número total de acidentes com vítimas foi de 127, enquanto no mesmo mês do ano passado saltou para 163. Naquele período, contudo, o número total de acidentes ainda foi menor em 2022. Mas a quantidade de infrações que levaram a óbito anunciava uma tendência que se seguiu nos meses seguintes.
Em janeiro de 2022 foram registrados um total de 361 acidentes, sendo 136 com vítimas. Já em janeiro de 2023, o total foi de 363, sendo 154 com vítimas. Do mesmo modo, em fevereiro e março, tanto os casos sem vítimas, quanto os com vítimas tiveram aumento em relação ao ano anterior. Em resumo, de janeiro a abril de 2023 houve um aumento de 10,5% nos acidentes sem vítima e 17,2% nas infrações com vítimas na cidade. Isso demonstra que o problema maior do trânsito conquistense é o comportamento dos condutores e não somente a falta de fiscalização.
"A sensação de impunidade que o condutor tem é o que leva ao fator de risco preponderando no trânsito. O condutor que só coloca o cinto de segurança porque viu a fiscalização, que só deixa de ultrapassar em local proibido porque está vendo uma viatura logo atrás... Esse sentimento de respeitar a legislação apenas com medo do poder pecuniário, da multa, é o que leva ao comportamento em risco no trânsito. Não é preciso ter esse sentimento de que está sendo fiscalizado para respeitar a legislação. A norma de conduta, o condutor sabe o que seguir, a velocidade da via ele sabe qual seguir... Então não obrigatoriamente a gente tem que ter um radar em cada esquina ou em cada metro para que ele obedeça a velocidade. Claro que a fiscalização tem que ocorrer, mas o comportamento do condutor é o principal para a mudança. Se não tiver mudança de comportamento, a gente vai ter que ser fiscalizado 24 horas por dia, sem intervalo", afirmou Tiago Barros, coordenador de Trânsito de Vitória da Conquista à Mega.
Todos esses fatores, no entanto, não isentam a Prefeitura, que não renovou o contrato dos radares. Além disso, deveriam haver mais campanhas visando a conscientização no trânsito. Vale lembrar que, até mesmo quando os medidores de velocidade foram implementados, pouco se viu um trabalho por parte dos órgãos públicos para instruir melhor os condutores conquistenses.
*OBS: Acidentes com vítima são aqueles com qualquer tipo de lesão corporal
*Fonte dos gráficos: Coordenação de Trânsito