Após 21 anos, lendário Agosto de Rock volta e reacende a chama de um movimento que marcou a região Sudoeste

  • Por Fábio Agra
  • Atualizado: 17/06/2024, 03:50h

Há 21 anos, com homenagem a Chico Science, Vitória da Conquista via as cinzas que resultavam de uma grande chama se espalharem por vários grotões da cidade e região. Os bons ventos que as levaram para os quatro cantos reconectam agora cada fagulha, transmutada em cada corpo, para resultar na nova edição do lendário Agosto de Rock.

Surgido em 2001, o Agosto de Rock continua sendo um movimento não só de bandas autorais que subiram nos palcos das três primeiras edições (2001, 2002 e 2003), mas também de um público que amadureceu ao longo desses anos e que agora se reúne através das novas tecnologias de comunicação, como em um grupo de Whatsapp que chega a ter quase 500 membros, para debater e preparar com os produtores a organização da próxima edição do Agosto de Rock.

Nos dias 30 e 31 de agosto de 2024, na mansão Lost, próximo ao Vila América e Urbis 6, o Agosto de Rock terá sua chama acesa, terá sua quarta edição após duas décadas.

“São mais de duas décadas e mesmo assim as pessoas não esqueceram, as pessoas não perderam o carinho, não perderam a identidade, porque assim, em todos os lugares que a gente vai as pessoas dizem: ‘Ah, vai voltar o Agosto?’ É porque realmente é uma coisa que marcou a vida de muita gente”, diz o produtor-executivo Adão Albuquerque.


Adão Albuquerque, Maurício Franco e Alan Kardeck em entrevista à Mega Rádio sobre o Agosto de Rock

No melhor estilo de um Woodstock, como diz o idealizador do evento, Alan Kardeck, o Agosto de Rock expressa toda a liberdade que um movimento tão contracultural quanto revolucionário permite. Sem perder o passado de vista, mas também acompanhando as tendências da música, das artes e das novas tecnologias de comunicação, a edição de 2024 promete ser mais diversa em atrações, desde a música até as muitas atividades que acontecerão no local. O público terá espaço para camping, oficinas, música eletrônica, rap, grafite, hip hop, salão de jogos, por exemplo, e, obviamente, muitas bandas de rock dividindo os dois palcos que serão montados.

“Sobre o movimento Agosto de Rock e pensar nesse vácuo, nessa lacuna, tem hora que entram umas injeções de acordar, de lembrar que se passaram 20 anos e a ideia não morreu. Tem hora que eu mesmo não acredito e fico muito surpreso porque a gente perdeu muita coisa, o mundo perdeu muita coisa, a cultura, a arte perdeu muita coisa. Então de fato é uma nova era, completamente duas décadas, onde todas as revoluções possíveis, digitais por exemplo, chegaram e o Agosto tem que acompanhar. Tem que ser nostálgico, tem que trazer o antigo, entre aspas, mas a gente tem que se situar e a gente está tentando fazer isso da melhor forma possível”, ressalta Alan Kardeck.

A ideia que movimentou uma região

Se voltarmos há pouco mais de 20 anos, a ideia de fazer um grande festival de rock em Vitória da Conquista, inspirado em Woodstock, surge a partir de uma montagem de um estande de rock por Alan Kardec, no Centro Integrado de Educação Navarro de Brito, escola localizada no Bairro Brasil. Dali brotam os primeiros acordes do que viria a ser o Agosto de Rock.

“Duas coisas que eu já sabia que ele seria: afastado da cidade, não na zona urbana, e que teria acampamento, essa coisa do Woodstock que era muito forte estava na minha cabeça. Então daí surge o Agosto de Rock. Vou fazer um evento num sítio com acampamento e aí começam as criações. São vários eventos dentro de um evento só”, relembra Alan Kardeck.

A primeira edição do Agosto de Rock fez uma homenagem a Raul Seixas e contou com 12 bandas das cidades de Vitória da Conquista, Jequié, Poções e Ilhéus, que subiram ao palco nos dias 25 e 26 de agosto de 2001, no Sítio Viver.

No ano seguinte, o Agosto de Rock homenageou Janis Joplin. Foram 13 bandas. Além de Vitória da Conquista, Jequié, Poções e Ilhéus, presentes na primeira edição,  Salvador também teve representação no evento, Dr. Cascadura e Scambo estiveram na grande daquele Agosto de Rock que aconteceu em 24 e 25 de agosto, novamente no Sítio Viver.

Cartaz do Agosto de Rock de 2002. Imagem: Memória Musical do Sudoeste da Bahia

Chico Science encerra essa primeira fase de homenageados, em 2003, que seria até então a última. Naquele ano há uma virada na programação e na quantidade de dias de evento, que passa a ter três. Há também uma expansão de fronteiras musicais. Além das bandas da região e de Salvador, como Headhunter, quando Vitória da Conquista ainda trazia poucos nomes conhecidos do rock nacional, a banda paulistana Tihuana, em um grande momento na carreira, se jogou e se juntou a outras bandas para formar a grade do festival e ver todo um movimento de pessoas acampadas por três dias naquele inverno conquistense.

“E uma coisa que ficou muito na minha cabeça registrada do Agosto foi quando a gente chega no sítio e que a banda inteira, Tihuana, esmurrava o teto da van gritando que eles não acreditavam que estavam na Bahia, em Vitória da Conquista. Quando eles viram o camping, que a gente já tinha em média 100 barracas, inclusive um palco, tudo muito arrumado, tudo muito organizado, aquele tanto de gente com a camisa com um nome só Agosto de Rock, eles piraram”, relembra Adão Albuquerque.

Barracas de camping montadas ao longo do Rancho Uchôa, um sítio em direção à Barra do Choça, mantinham aquecidas pessoas de toda a região naquele último Agosto de Rock, realizado nos dias 22, 23 e 24 de agosto de 2003. Algumas daquelas pessoas ainda tinham coragem para mergulhar em uma piscina do sítio madrugada adentro, enquanto rolava muito som no palco ou na tenda eletrônica, uma novidade para época.

Homenagens

Após três edições, sempre homenageando um ícone da música, o Agosto de Rock retorna não somente como uma reunião daqueles que sentiam falta do que foi o mais genuíno festival de rock de Vitória da Conquista, mas também para prestar homenagem a Rita Lee, um dos grandes nome do rock brasileiro.

Rita Lee morreu em 2023, deixando um legado para a música brasileira a partir da sua carreira solo e também com os Mutantes.

“Por tudo que representa para o rock, pela vida dela, pela história. Então a gente vai contar a história dela em palestra, a gente vai cantar a história dela em show. A camisa traz a imagem da Rita Lee. Então, assim, até nisso eu acho que a gente teve um acerto muito grande e as coisas estão acontecendo de uma forma muito natural, a maior parte das coisas do Agosto a gente não criou, elas vieram”, diz Adão.

No momento também está em cartaz em São Paulo o musical “Rita Lee: Uma Autobiografia Musical”. Os organizadores do Agosto de Rock estão em contato com parentes da cantora e produtores para tentar viabilizar uma pequena exposição durante o evento.

“Por exemplo, a exposição que a gente está tentando trazer a gente nem gosta de falar muito porque é uma ousadia. Está tendo uma exposição de Rita Lee e a gente queria trazer nem que seja um microfone. E a gente está em contato. Olha as coincidências. Está acontecendo uma exposição muita grande e a gente está em contato com a produção, com os herdeiros”, completa Alan Kardeck.


Agosto de Rock em 2003. Foto: Memória Musical do Sudoeste da Bahia

Agosto de Rock 2024

Se nas edições anteriores o Agosto de Rock proporcionou para a cena conquistense e região shows de bandas autorais de Vitória da Conquista, Poções, Jequié e Ilhéus, por exemplo, além de praticamente ser pioneiro da música eletrônica em um festival na cidade, atrelado aos espaços para montagem de barracas, o Agosto de Rock de 2024 resgata tudo isso e promete incrementar as mudanças que ocorreram nos últimos 20 anos.

A grade desse ano foi escolhida a partir de critérios que obedeceram a longevidade das bandas na estrada, mas também de qualidade e representatividade, entre outros. O produtor-executivo Maurício Franco disse que o Agosto de Rock terá bandas com longa experiência e bandas que surgiram há seis meses.

“Os critérios que a gente resolveu utilizar contemplariam tanto bandas que nasceram nesse ano quanto bandas que tocaram no Agosto de Rock, no passado, que é o caso da 5 Contra 1 (5C1), que tocou no Agosto de Rock e ainda está na ativa. Então como a gente iria fazer esse trabalho que contemplasse bandas que têm mais de 20 anos e bandas que têm seis meses? Então a gente utilizou aqui experiência comprovada em apresentações ao vivo para bandas que já tinham estrada e tudo, potencial para atrair e entreter o público no evento, diversidade, inovação e representatividade, qualidade técnica, popularidade, contribuição para fortalecimento da cena local e regional. Então a gente conseguiu agregar nesses critérios tanto bandas que já tinham estrada, uma história, uma carreira aí, público e seguidores, quanto bandas novas também”, informa Maurício Franco. 

Entre as atrações estão a clássica banda paulista de punk Garotos Podres, formada no início dos anos 1980. Nomes da cena do Trash Metal, como Korzus, também de São Paulo, subirão ao palco. A cena rap de Vitória da Conquista estará presente com nomes como Lívia Ellen e Hemisfério Rael. Djs e apresentação de uma tríade de Hip Hop vão formando a extensa grade. Há ainda uma atração surpresa que será divulgada no dia do evento. 

A reunião de cada fagulha que resultará na chama do Agosto de Rock será concreta. Assim, cada corpo manterá viva a fogueira que se materializará nos dias do evento.

“No camping mesmo vai ter uma fogueira que vai ser acesa, oficialmente, quando começar e só vai apagar quando ele, o festival, tipo uma pira olímpica, (terminar). E quem vai ficar responsável por essa fogueira são os próprios habitantes do camping. Ela não pode apagar. A chama não pode morrer”, conclui Adão.

Os ingressos para o Agosto de Rock começarão a ser vendidos em 1° de julho na loja Oficial do evento, no Shopping Conquista Sul. 

Grade do Agosto de Rock 2024

 

 

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