SUBMISSÃO: FETICHE OU MACHISMO?

  • Ingrith Oliveira

Foto: Arquivo pessoal do Ezili


Por: Ingrith Oliveira

Os fetiches fazem parte da sexualidade humana e refletem desejos profundos como um caminho de prazer e satisfação pessoal. Eles são tão diversos que é impossível catalogar todos. Dentro do BDSM (Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo) temos os fetiches mais famosos. Ao contrário do que muitos imaginam, essas práticas não são reflexos de um mundo moderno e perverso, na verdade elas são bem antigas, estima-se que desde a Grécia Antiga. 

O jogo de poder presente na submissão sexual levanta questionamentos sobre a interferência do machismo e subserviência das mulheres ao longo da história. Mas antes de adentrar nesse ponto especifico, é importante reforçar que no BDSM o papel de submissão não é exclusivo às mulheres, assim como o papel de dominação não é exercido apenas por homens.

A submissão sexual consentida pela mulher durante o sexo é diferente da submissão em que a mulher está presa a uma situação de abuso, violência e repressão. Ser amarrada e apanhar durante o sexo consensualmente não é a mesma coisa de ser violentada durante uma briga ou relação forçada. É importante ter essas diferenciações bem claras em mente, até mesmo para que a mulher se sinta livre para praticar o que quiser, inclusive seus fetiches.

A submissão, assim como outras práticas não-normativas, é uma via de prazer para pessoas que não se contentam com o sexo tradicional focado na penetração e em genitálias. Inclusive, muitas das que são submissas entre quatro paredes, são mulheres independentes e que estão em posição de poder e controle. 
 

Mas quando é machismo?

Todos os contratos dentro do BDSM devem ser pautados na consensualidade entre os envolvidos. Para isso, é indicado que os praticantes conversem sobre seus limites e estabeleçam códigos verbais e não-verbais de segurança que indicam quando a ação deve ser interrompida. Isso vale para todas os fetiches que envolvem castigo, dor e restrição de movimento.

Mas ainda assim, sabemos que homens machistas estão em toda parte e dentro desse contexto não seria diferente. Fique atenta se perceber que ele está fugindo do combinado ou tentando te manipular a ceder em algo que te deixa desconfortável. Deixou de ser consensual já é abuso e violência, essa é a sua fita métrica de segurança.

Lembrando que a submissão não se restringe a dor e castigo e pode ocorrer de várias formas, com comandos divertidos, acessórios sensuais e muitos jogos eróticos. Então, se você se interessa por práticas não convencionais no sexo, antes de iniciar as vivências, estude muito sobre o assunto, interaja em comunidades virtuais, veja filmes e séries. Indico a série Bonding (Amizade Dolorida em português) que trata o tema de forma leve e dinâmica. Todo esse conhecimento vai te ajudar a compreender melhor quais são os seus próprios limites e a se impor quando necessário.

A historiadora, escritora e ex-dominatrix Dommenique Luxor trouxe alguns alertas em suas redes sociais, que ajudam as praticantes identificarem os abusadores em cena:

Foto: imagem da rede social de Dommenique Luxor
 

Nos comentários ela ainda complementa com mais orientações e observações:

“Por isso é importante atentar à motivação do parceiro: ele quer que você g0ze (sic)e aproveite muito (com desejos de comum acordo) ou quer que vocês vistam roupinha e etc para ele fazer o que ele ACHA que ambos gostam e te esculhambar?
(Não esquecendo que você pode ter o fetiche de ser um total objeto, mas deve verbalizar e determinar limites.)
Ele verbaliza o bem-estar e é coerente com essa intenção?
Uma pessoa pode errar quando está aprendendo bdsm, isso é normal. Não é violento, são os riscos de toda atividade erótica.
Mas se ela não tá nem na intenção de aprender nada, nem de dividirem coisas juntos, nem de ouvir, fica na pilha de “adivinhar” o que você tá pensando e fazer o que você “secretamente” está querendo... pelamor (sic): violência pura!”

O machismo não está no fetiche, mas sim no praticante e desses a gente corre. Até porque a submissão sexual é uma atividade erótica em que as mulheres podem se satisfazer, portanto devem sim ter a liberdade de vivê-los, desde quando seja consensual e tenham seus limites respeitados.

Se você se interessou por esse assunto fica ligadinho lá em nosso instagram que logo mais traremos uma entrevista com relato de uma mulher que prática a submissão e outros fetiches.


Ingrith Oliveira

Prazer, conexão e autoestima, esses são os pilares da especialista em sexualidade Ingrith Oliveira em seu trabalho. Ciente do seu propósito, ela divide com o mundo um universo cheio de possibilidades no Ezili Sex Shop, junto ao seu companheiro Vinícius Santos. A autora também realiza palestras e encontros para mulheres e casais que desejam expandir sua vida sexual. Ingrith Oliveira também é jornalista por formação.

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