O QUE NÃO TE CONTARAM SOBRE A MONOGAMIA

  • Ingrith Oliveira

Foto: Canva


Por: Ingrith Oliveira

É possível amar e ser amado por mais de uma pessoa. Relações afetivas grupais são muito mais antigas do que a gente imagina. O novo padrão e aceitável pela maioria das sociedades são as relações monogâmicas. Contudo, a história está aí para nos provar que por muito tempo não foi assim. 

Fica difícil de compreender essa possibilidade depois de anos do patriarcado, com as relações centradas em um homem e várias mulheres, mesmo sem o consenso delas. Mas já vivemos em períodos da nossa história, situações em que homens e mulheres podiam amar e ter relações sexuais com outras pessoas livremente.

O ser humano passou a ser monogâmico após a revolução agrícola, quando deixou de viver em grupos e passou a se firmar em terras particulares e acumular posses. O homem passou a ser o centro familiar, comandando as riquezas de seu núcleo ao longo da história.

As religiões oficializaram esse contrato como uma ordem divina e desde então a monogamia se tornou um padrão normativo. Mas claro que esse parágrafo é o resumo do resumo de tudo que aconteceu.

Um amor baseado em negócios

Com a consolidação da sociedade patriarcal, os herdeiros deveriam assegurar a herança das próximas gerações, logo seria inviável a possibilidade de dividir sua mulher com outro homem. A mulher que antes usufruía da mesma liberdade de seus parceiros, tornou-se uma posse legal negociada entre o pai e o futuro marido, sem muita voz e com o intuito claramente reprodutivo.

Para o discurso ser mais tragável e manter essa dinâmica por tanto tempo, traduzimos tudo isso para “você tem a sua cara metade e precisa de um homem para ser mais feliz”. E ainda hoje, muitas mulheres são afetadas por esse discurso e passam uma vida toda em busca da felicidade e acabam se frustrando em relacionamentos ruins, envoltos de muita traição e mentiras.

Com isso, não estou dizendo que a não-monogamia é a chave dos nossos problemas amorosos, mas que entender nosso papel social nos garante mais liberdade na escolha do par, independente do formato do relacionamento.

Indico a leitura do livro Histórias íntimas: sexualidade e erotismo na história do Brasil¹, para melhor compreensão de como fomos condicionadas a viver a nossa intimidade. Ele será um divisor de águas no entendimento de tudo que nos foi privado.

Homem trai por natureza?

Ou será que eles se aproveitam de um discurso que os favorece para viver seus ímpetos e desejos sem culpa? É injusto demais relativizarmos a fidelidade, enquanto nos privamos de viver nossos próprios desejos e liberdade.

Se um pode ambos podem. Ou os envolvidos respeitam os acordos monogâmicos da relação ou essa liberdade será negociada para todos.

E antes de trazer algumas possibilidades de relações não-monogâmicas, já adianto que não estou falando sobre fantasia sexual, orgia e libertinagem, mas sim de configurações não convencionais de amor e liberdade sexual. As mais conhecidas e debatidas são o poliamor, as relações abertas e o amor livre. Cada uma com suas próprias dinâmicas e regras.

Poliamor, relacionamento aberto e amor livre

Como o próprio nome sugere, o poliamor envolve a conexão afetiva de três ou mais pessoas em um mesmo relacionamento. A interação sexual pode ser entre todos os envolvidos ou centrada em uma única pessoa.

Além disso, o policasal pode se relacionar com pessoas de fora, se a relação for aberta ou apenas entre eles se for fechada. Nesse último caso, temos um acordo de fidelidade, que se rompido também se configura como traição.

O relacionamento aberto mantém a exclusividade afetiva no casal ou policasal, com a possibilidade de interações sexuais com pessoas de fora. Normalmente, cada casal possui regras próprias, com alguns limites previamente estabelecidos. Como por exemplo, se pode ter sexo com pessoas conhecidas ou repetir o encontro. 

Já o amor livre é mais do que um formato de relacionamento, é um movimento político-social, em que a liberdade individual não é negociável. Ou seja, não existe acordos de fidelidade, sejam amorosos ou sexuais, como previstos na monogamia e poligamia. Outro ponto, a relação não é centrada em nenhum dos envolvidos, todos possuem o mesmo peso na relação.

Nem um nem outro 

É possível também que algumas pessoas simplesmente não tenham a pretensão de firmar contrato com ninguém, contudo desejam usufruir da sua liberdade sexual, baseado exclusivamente na amizade, tesão, química e compatibilidade.

Na verdade, tem gente que já vive assim e se sente feliz, só não se rotula. É válido, desde quando haja responsabilidade e transparência com as outras pessoas.

E por aqui encerro o início do debate sobre novas possibilidades de amor e sexo. Bem provável que eu traga mais discussões. Mas que fique bem claro que o intuito desse texto não foi impor a não-monogamia a ninguém, e sim propor reflexões importantes, baseados em dados concretos, sobre a nossa sexualidade e afetividade.

Para quando ou se surgir situações em que um dos lados se sinta atraído afetivamente e sexualmente por pessoas de fora, haja mais maturidade e sinceridade na resolução. Afinal, a traição é o caminho mais fácil, admitir os seus desejos de forma sincera é para quem tem coragem, amor e responsabilidade com o próximo.

Dica: fique de olho nessa coluna, que numa próxima eu volto aqui com orientações e direcionamentos para você que sente vontade de viver um relacionamento não-monogâmicos.

  • Mary Del Priori


Ingrith Oliveira

Prazer, conexão e autoestima, esses são os pilares da especialista em sexualidade Ingrith Oliveira em seu trabalho. Ciente do seu propósito, ela divide com o mundo um universo cheio de possibilidades no Ezili Sex Shop, junto ao seu companheiro Vinícius Santos. A autora também realiza palestras e encontros para mulheres e casais que desejam expandir sua vida sexual. Ingrith Oliveira também é jornalista por formação.

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