De “mais popular do que Jesus” a assassinado por um fã: O Karma de John Lennon

Durante uma entrevista no ano de 1966, no auge da “Beatlemania”, John Lennon afirmou: “[...] O cristianismo irá embora. Vai desaparecer e encolher. Eu não preciso discutir sobre isso; eu estou certo e ficará provado que estou certo. Somos mais populares que Jesus agora [...]” Porém, o que Lennon não sabia é que sua declaração, posteriormente, se tornaria o karma da sua morte já que o músico foi assassinado por Mark Chapman, um beatlemaníaco. O que leva um fã a assassinar o seu artista favorito?

Fotografia de John Lennon, feita em 1977.
Créditos: Vinnie Zuffante/Getty Images

Antes de chegar a uma resposta, é preciso entender o tamanho de John Lennon dentro da música e da então cultura pop durante o período em que esteve em atividade. O artista britânico era vocalista, guitarrista e compositor - composições essas, em sua maioria, creditadas em parceria com Paul McCartney - da banda The Beatles, um dos grupos mais bem-sucedidos da história da indústria musical. No ano de 1963 foi lançado o “Please Please Me”, álbum de estreia dos Beatles, que trouxe muita visibilidade por conta da qualidade musical dos garotos de Liverpool e que fez com que se apresentassem em programas de televisão na Inglaterra.

Em fevereiro de 1964, a banda tocou ao vivo nos Estados Unidos, no programa “The Ed Sullivan Show”, com mais de 70 milhões de espectadores simultaneamente. A partir daquele momento se iniciava a “Beatlemania”, onde o grupo se tornou o grande centro das atenções de todo o mundo. E assim seria pelos próximos anos, mesmo com mudanças na sonoridade das canções, no estilo e no visual dos integrantes, os fãs permaneceram fiéis e obcecados por tudo o que os Beatles representavam. Uma legião de fanáticos - ou maníacos - que fariam de tudo se fosse preciso para estar perto de um dos Beatles, entretanto, um desses fãs foi longe demais.

O grupo “The Beatles” durante o período da Beatlemania.
Da esquerda para direita: Ringo Starr, John Lennon, George Harrison e Paul McCartney
Créditos: Derek Bayes/Iconic Images

Mark Chapman era um admirador da banda, porém isso começou a mudar após a polêmica declaração dita por John Lennon em que os Beatles “eram mais populares do que Jesus”, além das canções “God” (1970) e “Imagine” (1971), da carreira solo de Lennon, que possuem contextos religiosos e despertaram ódio em Chapman. Outro motivo que despertou raiva foi o estilo de vida do cantor, que pregava “paz e amor” enquanto aproveitava da fortuna conquistada com o sucesso na música. Após meses premeditando a morte do ex-beatle, Mark viaja para Nova York - onde estavam John Lennon e Yoko Ono, sua esposa - em outubro de 1980 para tentar realizar seu plano, mas desistiu e não cometeu o ato naquele dia. Porém, as coisas seriam diferentes no dia 8 de dezembro do mesmo ano.

Alguns fãs de Lennon estavam reunidos na porta do Edifício Dakota para tentar conseguir alguma foto ou autógrafo do astro, que saiu por volta das cinco da tarde para uma sessão de estúdio em que iria gravar uma canção. Quis o destino que um dos fãs a conseguir o tão desejado autógrafo fosse justamente Mark Chapman, que estava frente a frente com seu ídolo naqueles que seriam os últimos momentos da vida do músico. Cerca de cinco horas mais tarde, perto das 23h, Lennon e Yoko retornaram ao edifício e enquanto caminhavam para entrar, Mark sacou a sua arma e atirou cinco vezes contra John Lennon. Chapman não esboçou nenhuma reação pelo o que tinha acabado de fazer e também não tentou escapar. Ele apenas se sentou na calçada do prédio e apenas esperou a polícia chegar.

John Lennon autografando um disco para Mark Chapman. Foto: Reprodução

Lennon foi imediatamente levado para o hospital, mas foi declarado morto logo após chegar. Assim acabava a vida de um dos nomes mais relevantes não só do rock, mas de toda a história da música, pelas mãos de um fã que, ironicamente, assassinou seu maior ídolo pelo fato de querer ter fama. "Não vou culpar ninguém pelo que fiz. Eu sabia o que estava fazendo e sabia que era maldoso, sabia que era errado, mas queria tanto a fama, que estava disposto a tirar uma vida humana", disse Chapman em uma declaração para o jornal The Washington Post em 2022. Atualmente, Mark Chapman está preso em Nova York e cumpre a pena de prisão perpétua desde 1981, o ano em que foi julgado e sentenciado. Desde então, tentou a liberdade condicional por doze vezes - todas elas recusadas. Ele ficou marcado para sempre como o fanático beatlemaníaco - e maníaco no pior dos sentidos - que mostrou para John Lennon que “ser mais popular do que Jesus” tinha um preço alto.

 


Danilo Souza

Estudante de Jornalismo pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), músico e produtor audiovisual independente.

danilosouza.jornalismo@gmail.com (Email)
@danilosouza.jornalismo (Instagram)

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