Onde nasce e morre o desejo?

  • Ingrith Oliveira

O desejo nasce na troca de olhares. Em um longo beijo sem pressa. O desejo nasce na atitude

Sabe aquela fase que tudo acontecia naturalmente, em uma intensidade fugaz? Aqui estamos falando do desejo espontâneo. Aquele que só de pensar na pessoa o seu corpo arrepia e a imaginação vai longe.

Mas esse tipo de desejo não dura para sempre e a verdade é que muitos casais não se preparam para isso. Depois de um tempo juntos, esse desejo tende a se tornar responsivo. O que significa que ele não morreu, mas que precisa de um estímulo erótico para que a intimidade, prazer e conexão fluam entre o casal.

Esses termos não são aleatórios, especialistas em comportamento e sexualidade estudaram a dinâmica sexuais dos casais, analisando como funciona a relação do desejo sexual com o passar do tempo e é evidente que o responsivo acaba prevalecendo na maioria dos relacionamentos, especialmente os de longa data.

O desejo se esvai quando apenas um dos dois se esforça para mantê-lo vivo. Frequentemente escuto em meus atendimentos: “essa é a minha última tentativa para salvar o relacionamento”. Quando essa disponibilidade e interesse pelo sexo se tornam muito desproporcional, as coisas desandam de vez.  E aqui temos o fim de muitos relacionamentos.

O desejo é o combustível da relação, não somente entre quatro paredes. Afinal, é no desejo de estar perto, de dividir a vida, as conquistas, novas descobertas que todo relacionamento se solidifica e fortalece.

O que vem antes do desejo?

A admiração! Nós não desejamos aquilo que não admiramos. Certamente, lá na fase do desejo espontâneo, algo em seu par te despertou esse tipo de admiração: a aparência, como a pessoa te tratou, a boa conversa... Em cada etapa da vida, nós admiramos algo diferente em nossa parceria.

Vou me colocar como exemplo. Eu, Ingrith, admiro muito a disponibilidade e profundidade do meu parceiro em conversar sobre diversos assuntos. Não importa o quanto sua aparência mude, porque o que me atrai nele, desde sempre, é a sua intelectualidade.  Em alguns momentos chega a ser sexy para mim ouvir o seu ponto de vista em uma conserva.

Não estou dizendo que as pessoas não podem mudar ao longo da vida, ter novas opiniões ou ideias. Mas que pontos fortes sobre o outro que nos atraíram lá no início podem sim influenciar na relação no momento atual.

Quais atributos dele(a) fazem você admirá-lo(a) até hoje? Te proponho essa reflexão. A partir dela você vai encontrar muitas respostas.

Rotina, filhos e um novo relacionamento

Aqui estamos falando de vida real. De noites sem dormir nos primeiros anos. Das novas preocupações na fase escolar. Na expectativa de criar juntos um ser humano para vida. Eu sou mãe de uma criança de 7 anos e esse papel sem dúvidas é o mais desafiador que desempenho.

Como esperar que o relacionamento seja o mesmo de antes dos filhos chegarem? Não será! A disponibilidade de tempo, a rotina e convivência mudam completamente. Até mesmo a nossa perspectiva sobre o outro muda.

Vou trazer um exemplo bem corriqueiro. Se a mulher se responsabiliza sozinha pelo cuidado e educação dos filhos, esse comportamento do parceiro vai gerar uma quebra de expectativa nela e consequentemente vai afetar a sua admiração e desejo. 

Casualmente este homem vai reclamar sobre a falta de sexo, sobre como essa mulher deixou de ser sensual e outras coisas que eram frequentes antes dos filhos. E aqui que muitos casais desandam mais uma vez.

O casal precisa repensar com muita franqueza os papéis que desempenham nessa nova rotina, para que o sexo não vá para última posição na lista de prioridades. Programar na agenda um dia só do casal também é importantíssimo.

Desafio, conquista e provocação

Um relacionamento pode ter muito afeto, admiração e uma convivência bacana e ainda assim o desejo se esfriar. Porque existe um outro elemento muito importante no processo de excitação, que alguns deixam de lado: a conquista!

Imagine fazer sexo da mesma forma, com a mesma pessoa, por longos anos seguidos. O que antes era prazeroso pode se tornar tedioso, previsível e cansativo.

Quando ambos movimentam a relação com novidades, gera aquele sentimento gostoso de desafio e conquista, muito presente nos primeiros encontros do casal. No início a gente quer impressionar, entregar nossa melhor performance, para conquistar a pessoa e não a deixar escapar. Por que que deixamos de fazer isso depois?

 A novidade na relação pode ser uma fantasia que vocês ainda não realizaram, uma posição diferente, aquela rapidinha inesperada antes de ir trabalhar, um brinquedo erótico, uma lingerie nova... Tantas possibilidades! No Ezili com certeza vocês vão encontrar uma novidade para o relacionamento e a gente sempre dá muitas sugestões durante a consultoria também.

E aí, o que mata o desejo afinal? Para mim o desejo morre no desinteresse.


Ingrith Oliveira

Prazer, conexão e autoestima, esses são os pilares da especialista em sexualidade Ingrith Oliveira em seu trabalho. Ciente do seu propósito, ela divide com o mundo um universo cheio de possibilidades no Ezili Sex Shop, junto ao seu companheiro Vinícius Santos. A autora também realiza palestras e encontros para mulheres e casais que desejam expandir sua vida sexual. Ingrith Oliveira também é jornalista por formação.

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