Modern love e as multiplicidades de maneiras de amar

Modern Love é uma coletânea de 42 histórias publicadas ao longo dos quase 20 anos na coluna homônima, do New York Times. Organizadas pelo editor Daniel Jones, cada capítulo conta uma história real de amor. Engana-se quem pensa que os textos escolhidos para o livro apresentam grandes gestos e floreios amorosos. Na verdade, a maioria das histórias é simples e cotidiana, marcada não apenas por momentos felizes, mas também por desencontros, mensagens que nunca chegaram e ligações que nunca foram atendidas. Mesmo assim, carregam muita beleza em si.

Comecei a leitura de Modern Love achando que iria encontrar apenas histórias sobre amores românticos, mas estava enganada. E que bom! Ao longo das quatro partes em que o livro é dividido (Em Algum Lugar Lá Fora, Acho que Amo Você, Segurando Firme nas Curvas e Assuntos de Família), fui lembrada das múltiplas nuances do amar. Na introdução do livro, Daniel Jones afirma, após ter lido mais de 100.000 histórias desde que a coluna foi lançada, que o amor é a combinação de três sentimentos humanos: desejo, vulnerabilidade e coragem. Durante as 352 páginas do livro, a mistura, nem sempre clara, desses três sentimentos é evidente.

Em "Em Algum Lugar Lá Fora", primeira parte do livro, as histórias são marcadas por relações que, de alguma forma, não foram para a frente. Mas, como o nome da coletânea indica, os textos carregam algo em comum: a ideia de que um final incerto, mas cheio de novas possibilidades, pode ser mais valioso que a busca por um final feliz. Nessa parte, o amor próprio e a aceitação do destino estão presentes, mesmo que de forma implícita, em todas as narrativas.

"Acho que Amo Você", com certeza é a parte mais romântica do livro. Arrisco dizer que a parte mais vulnerável também. Existem diversas histórias de amores dignos de um filme clichê, mas definitivamente o melhor texto dessa divisão carrega o título “Talvez Você Queira Se Casar Com o Meu Marido”. Nele, uma escritora em estágio terminal de câncer, nos seus últimos dias de vida, cria uma espécie de “carta de recomendação” destacando todas as qualidades do seu marido para que ele possa escrever sua nova história de amor com a pessoa certa. 

Se eu pudesse descrever em poucas palavras a terceira parte do livro, diria que 'Segurando Firme nas Curvas', é marcado pela fragilidade de ser. Dentro dessa seção, encontramos uma mãe que tentou, por muito tempo, evitar as músicas dos Beatles porque lembravam sua falecida filha. Um homem que batalhou para superar o alcoolismo para ficar com a sua atual esposa. Uma mulher de meia-idade redescobrindo-se após um divórcio. Nessa parte do livro vemos amores que estão longe de serem perfeitos, mas que ainda assim, valem a pena serem contados. Um lembrete de que o amor permanece, mesmo em meio aos percalços. 

Por fim, "Assuntos de Família" é a minha parte favorita do livro. Nela, encontramos a história de pais que, após passarem muito tempo na fila de adoção de uma criança da China, descobrem que ela tem uma atrofia cerebral irreversível. Quando enfrentam a opção de devolver o bebê devido às futuras dificuldades, decidem ficar com ele. Também acompanhamos a jornada de uma jovem tentando construir sua própria família após a perda da mãe. A história de uma mãe que reencontra seu filho após anos de adoção. Esta parte do livro nos lembra das dores e alegrias intrínsecas à família que escolhemos (ou não) ter, e do privilégio de ter alguém ao nosso lado. Celebra a escolha de permanecer.

Durante a leitura, gostei muito de me lembrar, em vários momentos, que todas as histórias são reais, de pessoas reais. De uns tempos pra cá, percebi que, quanto mais consumo histórias de amor fictícias, mais aprecio as histórias da vida real. "Modern Love", para mim, foi um lembrete de que o amor está sempre presente no cotidiano. Ele se metamorfoseia e se ressignifica, mas permanece, seja nas idas e vindas, nas perdas, no luto ou na rotina. Só basta saber procurar.


Ane Xavier

Estudante de Jornalismo e Ciência Política, apaixonada por comunicação e sempre com um livro em mãos. Também fala sobre leituras no instagram @booksbyane.

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