Dança dos dragões: a diferença quando o crime encontra a cor

  • Laís Sousa

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Num país onde a cor da pele ainda define o tratamento que se recebe, o comediante Nego Di cometeu dois erros graves. O primeiro foi lavagem de dinheiro e estelionato, crimes sérios, claro. Mas o segundo erro, talvez o mais fatal, foi não perceber que, apesar do nome e do sucesso, ele ainda é negro. Sim Negrão, ilusão pensar que você iria rir por último porque, por aqui, isso faz toda a diferença.

Nego Di acreditou que sua conta bancária e sua fama lhe garantiriam um tratamento similar ao de figuras como Renato Cariani, que desviou insumos para produção de drogas e continua postando alegremente no Instagram, ou ao tio da Damares (aquela preocupada com o rosa e azul), pego com um avião carregado com quilos de maconha concentrada e saindo ileso. Ou quem sabe, pensou estar no mesmo patamar de seu ídolo, Bolsonaro, que segundo o STF embolsou milhões com a venda de joias e outros tantos crimes provados que meia quebra de sigilo basta para nos deixar contagem regressiva…

Esse equívoco de Nego Di é quase cômico, se não fosse trágico. Ele esqueceu que, ao contrário de seus colegas de colarinho branco, ele carrega a pele preta. E no Brasil, isso significa que quando a conta chega, ela chega pesadona e sem direito a pano passado por Ratinho. Porque aqui, o sistema distingue bem onde pesa a mão e fica cego, surdo e louco.

Enquanto, nada mais justo, Nego Di enfrenta as consequências de seus atos, do outro lado do hemisfério, o defensor armamentista Trump abaixou ao ouvir tiros em um comício. A ironia ao pé do ouvido? Um episódio que só tende a fortalecer sua base de lutadores apoiadores. Afinal, no Brasil, foi uma facada que catapultou Bolsonaro à presidência. Pelo menos Trump teve um pouco de decência sangue, porque aqui nem foi preciso. Seguimos ansiosos pela justiça que tanto pedimos, enquanto Bolsonaro segue com a certeza da impunidade fazendo até planos para a posse do amigo americano, mesmo com passaporte caçado.

A moral da história? No jogo das aparências e das influências, alguns podem se ver como heróis, enquanto outros são tratados como vilões antes mesmo de pronunciar defesa. Pense bem, se você acha que sua conta bancária, suas amizades ou seu endereço te tornam menos negro, reveja, a justiça te alcança de forma peculiar. E assim, seguimos vendo quem realmente paga a conta na mistura de poder e privilégio. A nós, resta a esperança de que um dia, a justiça não faça distinções de trono nesta dança de dragões. É fogo! (Que tiro foi esse?)


Laís Sousa

Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!
@laissousa_
laissousazn@gmail.com

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