Setembro Amarelo: especialista alerta que dor crônica pode levar à depressão, uma das principais causas de suicídio

Paciente deve ser tratado de maneira multidisciplinar, considerando suas dores físicas e psíquicas

Foto: Divulgação


Além de fatores psicológicos, culturais e socioambientais, a limitação da saúde física também afeta negativamente a saúde mental. Sentir dor, por exemplo, afeta diretamente o nosso humor. Quando essa dor deixa de ser aguda, pontual, e dura mais de três meses, ela é considerada crônica, e as limitações e efeitos negativos provenientes dessa dor são ainda mais perceptíveis, não só no aspecto físico, mas também no mental e no emocional do paciente, deteriorando sua qualidade de vida de forma geral (1).

Setembro é o mês dedicado à prevenção ao suicídio, o que estimula as discussões sobre saúde mental e a necessidade de se procurar ajuda profissional. De acordo com o Ministério da Saúde, são registrados cerca de 12 mil suicídios todos os anos no Brasil e mais de 1 milhão no mundo, sendo que cerca de 96,8% dos casos estão relacionados a transtornos mentais: em primeiro lugar a depressão, seguida do transtorno bipolar (2).

O diagnóstico da depressão requer a identificação de sintomas como humor deprimido, distúrbios do ciclo do sono, fadiga e dificuldades de concentração por ao menos duas semanas causando sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social. Caso o adoecimento psíquico não seja devidamente tratado, a depressão pode levar a ideações suicidas. E, associadas ao sofrimento físico do paciente, existe a possibilidade dessas condições serem agravadas quando o paciente sofre de dor crônica (3).

Segundo o anestesiologista João Garcia, vice-presidente da Associação Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP) e especialista em dor crônica, é comum os pacientes que sofrem com essa condição terem dificuldades em encontrar o tratamento correto para suas dores. “Muitas vezes a pessoa que está sofrendo com a dor e com a depressão busca tratamento apenas para um dos problemas, ou o físico ou o mental. No entanto, é necessário que a dor total seja tratada, incluindo as dores psíquicas e associadas. Por isso, uma abordagem personalizada e multidisciplinar da dor crônica é muito necessária. Caso contrário, a dor crônica não tratada adequadamente pode gerar o sofrimento psíquico, e um problema pode agravar o outro em um círculo vicioso que prejudica gravemente a qualidade de vida do paciente”, explica o médico.

A declaração do expert está de acordo com as mais novas diretrizes no manejo da dor crônica estipuladas no XIV Congresso Latino-Americano de Dor, realizado no último mês. Esse encontro reuniu 21 representantes de 14 sociedades médicas latinoamericanas, onde foi estabelecido o incentivo a uma abordagem multidisciplinar, ou seja, recomenda-se que a dor crônica seja gerenciada a partir das diferentes especialidades médicas relacionadas à dor, visando assim obter melhora em todas as áreas da vida do paciente, uma vez que o transtorno afeta dimensões físicas, cognitivas, emocionais, comportamentais e sociais.

Um exemplo de como a saúde física afeta a mental é a relação demonstrada cientificamente entre dor crônica e depressão. Um estudo de 2017 feito pela parceria de um pesquisador da Universidade de Jilin, na China, e outro da Universidade do Alabama, nos Estados Unidos, aponta que “a dor crônica, como estado de estresse, é um dos fatores críticos para determinar a depressão, e sua coexistência tende a aumentar a gravidade de ambos os transtornos” (4). Outro artigo de 2020, publicado na Revista Psicologia e Saúde por cientistas brasileiros pela Universidade São Francisco (USF), apontou a relação entre os sintomas de depressão e dor crônica em 80 mulheres, com idades entre 31 e 82 anos, com fibromialgia e/ou câncer (5).

Sem o tratamento correto, os distúrbios de ordem mental podem piorar a dor crônica, e o contrário também é válido: a dor pode agravar problemas como depressão, ansiedade, transtornos do pânico e insônia.

Impactos no dia a dia

Uma possível razão para a associação entre dor crônica e depressão pode ser o fato de que ambas as doenças partem de respostas cerebrais, mas existem fatores mais tangíveis, no cotidiano do paciente, que podem agravar essas condições. Segundo o doutor João Garcia, a principal é a perda de funcionalidade.

O especialista aponta que, por sentir dor, a capacidade do paciente de realizar atividades cotidianas como trabalhar, ir ao mercado, limpar a casa, fazer atividades físicas, entre tantas outras, pode ser restringida. Essas limitações podem despertar sentimentos e pensamentos negativos e, se as dores (física e psíquica) não forem tratadas corretamente, existe a possibilidade do problema evoluir para quadros de ansiedade e depressão.

O mesmo pode acontecer por conta do isolamento que o paciente de dor crônica acaba sentindo, por exemplo, por ser muitas vezes privado de fazer atividades fora de casa e socializar com amigos, já que sofre com a dor. A falta dessas interações no cotidiano também pode ser um gatilho para os distúrbios se agravarem.

Como procurar ajuda

Caso precise conversar, o Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias. Mais informações no site https://www.cvv.org.br/.

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