“Ter um serviço de tratamento oncológico em uma área sem pavimentação é surreal. Eu desconheço onde há serviço público de quimioterapia sem calçamento”, diz Dr. Renato Marinho sobre a rua da Unacon

Rua sem pavimentação asfáltica em frente à Unacon
  • Ane Xavier
  • Atualizado: 18/06/2024, 11:24h

A Unacon (Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia de Vitória da Conquista) surgiu em Vitória da Conquista com o objetivo de ampliar o acesso a serviços oncológicos de qualidade para a região através do SUS.

A unidade atende pacientes de Vitória da Conquista e de cerca de 80 cidades circunvizinhas. No entanto, um problema para os profissionais da saúde e pacientes persiste: a rua em frente à Unacon não tem pavimentação asfáltica.

A rua fica no Lot. Cristo Rei, no bairro Felícia, e tem um trecho de apenas 100 metros. Embora todo o seu entorno seja asfaltado, como as ruas da recém-criada Policlínica Regional, do Hospital Geral de Vitória da Conquista e da UPA 24h, além da rodoviária e Sest Senat, a rua da Unacon não tem recebido a mesma atenção.

Essa situação gera transtornos aos pacientes e acompanhantes, principalmente durante as chuvas, quando a área se torna quase intransitável devido à lama e à poeira. Além do desconforto, a falta de asfalto compromete a acessibilidade, especialmente para pessoas com mobilidade reduzida.

Em entrevista para a repórter Ane Xavier, da Mega Rádio, o médico Renato Marinho ressalta as dificuldades que a falta de pavimentação causa a pacientes e funcionários e diz não entender porque esse problema persiste mesmo depois de tanto tempo.

Mega: Quais as principais dificuldades que a falta de asfalto na rua da Unacon traz tanto para os pacientes quanto para os funcionários que vêm trabalhar aqui?

Dr. Renato Marinho: Acho que tudo começa pela questão de urbanização, né? Se a gente pensa hoje em uma cidade, em linhas gerais, é recomendável que se tenha pavimentação, independente se é uma região de domicílio ou uma região que presta serviço. Então na minha concepção de cidades, se você está dentro de uma zona urbana, imagina-se que deve haver pavimentação. Eu não conheço tão bem as regras e leis em relação à obrigação, mas imagino que dentro de uma cidade é básico ter pavimentação.

Agora, quando você considera pacientes oncológicos, que para mim, como oncologista, são pacientes frágeis e até mesmo pelas leis - temos o Estatuto da Pessoa com Câncer - se a gente pensar em saúde pública, um serviço que presta tratamento a pacientes de quimioterapia, sabemos que no sistema público há muitos pacientes com doenças avançadas que estão ali fazendo tratamento pensando em qualidade de vida. Essa qualidade de vida já é prejudicada ao chegar em um lugar cheio de lama e poeira, afetando até o aspecto visual.

Além disso, há o lado da segurança, principalmente em períodos chuvosos. Já teve risco de pacientes escorregarem e se machucarem. E a gente fica até com medo, porque existem pacientes que têm um risco maior de fraturas. Já tivemos casos de pacientes que caíram e se machucaram. Sem falar dos custos, pois algumas pessoas dependem de Uber e já tivemos pacientes que não conseguiram pegar Uber em dias chuvosos porque os motoristas se recusavam a ir a lugares onde os carros não poderiam passar.

Atualmente, a situação está, entre aspas, menos pior, mas é algo que volta e meia piora com as chuvas. Isso afeta, falando em linhas gerais, a urbanização e o trânsito, criando problemas para a segurança dos pacientes. E quando você pensa que não é só para Conquista, mas para toda a região do Sudoeste que vem tratar aqui, é uma questão de trânsito e segurança que deixa muito a desejar. Até falando do ponto de vista legal, isso é algo que me surpreende muito.

Do ponto de vista de cidadania, tanto para os pacientes quanto para a população em geral, e até para nós como profissionais, é algo que me surpreende. É muita passividade. Ter um serviço de tratamento oncológico em uma área sem pavimentação é surreal. Eu desconheço onde há serviço público de quimioterapia sem calçamento. Já aconteceu de ambulâncias não conseguirem entrar aqui, dificultando o atendimento urgente.

Mega: E como os governantes lidam com essa questão?

Dr. Renato Marinho: Sinceramente, volta e meia conversamos com os governantes. Isso não é de agora, é de muito tempo. É algo que vai passando de gestão em gestão, e sempre pedimos, especificamente eu, e com certeza várias outras pessoas também, tanto a nível municipal quanto estadual. Eu não sei se há algum detalhe legal que impede o asfalto. Mas acho que deveria ser algo público, explicar por que não tem asfalto.


Médico Renato Marinho. Foto: Ane Xavier/Mega Rádio VCA

Mega: Já houve algum diálogo envolvendo autoridades municipais e estaduais em relação a isso?

Dr. Renato Marinho: Já, há muito tempo. E parece que nada é feito. É algo surreal. Parece até teoria da conspiração. Por que não asfaltam essa região? E é um trecho muito pequeno, então é algo surreal. Eu falo que é o metro quadrado de asfalto que seria mais valioso do ponto de vista de impacto social.

Mega: E sobre os problemas de saúde. A falta de asfalto já acarretou outros problemas como, por exemplo, problemas respiratórios por causa da poeira?

Dr. Renato Marinho: Com certeza, principalmente na época da poeira. Pacientes com lesões pulmonares podem ter seus quadros piorados. A poeira é um fator de estímulo inflamatório, então qualquer inflamação pode piorar. Pacientes com doenças pulmonares obstrutivas crônicas, asma, e até ex-tabagistas podem ter sua situação agravada, e por isso o uso de máscaras é obrigatório, para evitar infecções respiratórias.

Mega: Por fim, qual mensagem você gostaria de transmitir às autoridades que possam ler essa entrevista?

Dr. Renato Marinho: Eu imploro, pelo amor de Deus, para que asfaltem o mais breve possível. Do ponto de vista político, não entendo por que não fazem isso, pois teriam um reconhecimento enorme e gratidão de tantos pacientes. Não só de Conquista, mas de toda a região. Muito obrigado.

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