The Xote Side Of The Moon: artista brasileiro recria icônico álbum do Pink Floyd com versões em Forró
Um dia desses eu estava no Instagram e encontrei um storie que vi algumas vezes para ter certeza que li certo mesmo; um artista brasileiro, chamado Lanari, estava regravando o álbum “The Dark Side of The Moon”, do Pink Floyd, inteiro em ritmo de Xote e Forró. Eu, super fã da banda britânica e que considero o disco como o melhor da história da música, lógico, fiquei curioso para ver sobre aquilo e a boa notícia é que esse trabalho chegou nesta quinta-feira (20) nas plataformas de áudio. Eu não sabia que precisava tanto disso até alguém ter a genial ideia de executar.
The Dark Side of The Moon: o conceito do álbum
Lançado em primeiro de maio de 1973, o álbum The Dark Side Of The Moon é o oitavo disco de estúdio do Pink Floyd, além de ser o primeiro de uma sequência com quatro álbuns criados a partir de uma história que une todas as músicas do início ao fim. O conceito para a sua criação teve grande influência da saída de Syd Barrett, um dos membros fundadores do grupo, mas que foi despedido por conta das suas condições mentais, afetadas pelo uso excessivo de drogas.
Uma das interpretações para esse álbum é que o lado escuro da Lua seria como o momento em que o indivíduo está em sua própria realidade paralela, isolado em seus pensamentos e próximo da loucura. Outros temas, como a ganância, presente em “Money” e como lidamos com o tempo, na faixa “Time”, são algumas reflexões que indiretamente levam ao mesmo caminho: a loucura.
Capa do álbum The Dark Side Of The Moon (1973), do Pink Floyd. Foto: Reprodução
Como surgiu a ideia da regravação em Forró
Para entender melhor sobre essa ideia, falei com o André Lanari, que produziu e interpretou o The Xote Side of The Moon. No início do nosso contato, falamos brevemente sobre sua carreira. “Eu sou músico a minha vida inteira e atualmente trabalho como músico e técnico de som em navio de cruzeiro, então eu passo muito tempo embarcado viajando o mundo como técnico de som ou como músico”, contou André, que já se apresentou na Argentina, Canadá, Índia, Espanha, entre outros países, ao longo dos anos.
O músico e técnico de som, André Lanari. Foto: Instagram/@lanari.music
Após essa introdução sobre o artista, passamos a conversar sobre os primeiros passos da ideia de misturar o forró com outros estilos. “Essa ideia do forró e do xote veio desde muitos anos atrás quando eu tocava com uma banda chamada 7 Estrelo, e a gente até passou por Vitória da Conquista [...] a gente viajou muito tocando e era uma mistura de música eletrônica com canção, e foi aí que eu ficava pensando ‘cara, e se a gente fizesse uma mistura de forró com música eletrônica?’”, disse o músico.
A versão de Forró do The Dark Side The of Moon, curiosamente, surge a partir de uma outra regravação, a “The Dub Side of The Moon”. “Há uns vinte anos eu escutei uma versão do The Dark Side que se chama ‘The Dub Side of The Moon’, de uns jamaicanos, e falei ‘cara, isso é genial’, porque o xote é como se fosse o nosso reggae, dava para fazer e ia combinar muito. Aí há um ano e meio eu decidi fazer isso”, completou Lanari.
E como foi o processo de produção?
Na nossa conversa, André definiu o processo de produção do disco como “curioso”. “O processo do disco foi curioso porque o sanfoneiro eu ainda não conheci, foi tudo pela internet, eu o achei pelo Facebook, o tecladista acabou que virou meu amigo, que é de Belo Horizonte, mas também foi tudo feito pela internet, e o percussionista gravou o disco inteiro em três horas. A ideia do disco era fazer o Pink Floyd em xote, mas sem perder a essência mais psicodélica do disco, que são os sintetizadores e essa coisa mais viajada. E não tem guitarra, então o David Gilmour vai ficar bravo”, relatou.
O músico ainda adiantou que o projeto ganhará uma versão ao vivo, que será publicada no YouTube, e também uma turnê. “Semana que vem a gente vai pro estúdio para gravar o show ao vivo, tocando na íntegra com todos os integrantes juntos, eu só vou conhecer o sanfoneiro agora, pra você ter ideia, e lançar no Youtube como um DVD para as pessoas verem. A ideia é fazer uma turnê e agregar músicas nesse show, que vão desde as raízes brasileiras, com Luiz Gonzaga, Rolando Boldrin e Dominguinhos e passar por outras interpretações que a gente tá avaliando, como Gênesis, Os Mutantes, pegar um pouco do Rock”, finalizou Lanari.
Capa do álbum "The Xote Side of The Moon" (2025), de Lanari. Foto: Reprodução
O que eu achei de The Xote Side of The Moon
O xote é um estilo que é conhecido e respeitado em todo país, mas, claro, tem muito mais força no Nordeste. E para mim, sendo um nordestino, escutar esse trabalho foi um prazer imenso. Os instrumentais são tão belos e completos quanto os da versão original, mas aqui com solos de sanfona e percussões características, como o triângulo e a zabumba, por exemplo.
Algumas canções se destacam, ao menos para mim. Entre elas estão “The Great Gig In The Sky”, “Time”, “Eclipse” e “Any Colour You Like”. Apesar de ter minhas favoritas, não consigo nem mesmo as ranquear emalguma ordem específica ou dizer qual é a melhor, até porque, na verdade, nenhuma faixa me deu vontade de parar de ouvir pela metade ou de pular para a próxima, assim como acontece com o disco original, e eu acho legal perceber que esse detalhe foi preservado e respeitado na regravação.
“The Xote Side of The Moon” é uma ideia inusitada, bem executada, que mantém coisas importantes da gravação original, até mesmo detalhes mínimos nos contextos das canções, como o som das batidas de um coração em algumas das faixas, por exemplo, mas também se permitindo a trazer o seu próprio estilo de forma impecável. Podem me chamar de louco, mas ouso dizer que, para mim, enquanto brasileiro e nordestino, essa regravação chega a ser tão boa quanto a regravação feita pelo próprio Roger Waters, compositor e criador do conceito do disco, lançada em 2023, em comemoração aos cinquenta anos do primeiro lançamento do álbum.
Você que, assim como eu, é um fã do Pink Floyd, já deve estar conformado que nunca mais veremos a banda tocando ao vivo mais uma vez, ainda mais com os conflitos entre Waters e David Gilmour, além da morte do tecladista, Richard Wright, que impede uma reunião com os membros originais. Contudo, ainda há tempo de aproveitar essa respeitosa homenagem que, acredite, vai te colocar para dançar aí de casa. Confia em mim e aperta o play.