Quando a gentileza no trânsito ainda é uma surpresa

Foto: Nando Chiapetta/DP
  • Júnior Patente
  • Atualizado: 20/02/2025, 02:36h

Hoje, uma cena comum, mas profundamente revelada, chamou a atenção de um observador no trânsito. Um jovem, mochila às costas, talvez a caminho da escola ou do trabalho, parou na faixa de pedestres, hesitante, como se já esperasse que os carros não respeitassem seu direito de passagem. Surpreendentemente, um motorista parou, sinalizou para que ele atravessasse e foi recompensado com um olhar de gratidão e espanto. Sim, espanto. Porque, infelizmente, é raro que um pedestre seja tratado com a dignidade de que a lei e a educação básica sejam desativadas.

Essa cena, aparentemente trivial, é um retrato de uma realidade mais ampla e preocupante: a falta de gentileza e respeito no trânsito. O jovem pedestre, ao virar-se com um olhar de surpresa, revelou uma triste verdade: muitos motoristas ainda ignoram as faixas de pedestres, como se o asfalto pertencesse exclusivamente aos veículos. E isso não é apenas uma questão de legislação, mas de humanidade.

O trânsito é, por natureza, um espaço de convivência. Nele, pedestres, ciclistas e motoristas acompanham o mesmo ambiente, cada um com seus direitos e deveres. No entanto, é inegável que o pedestre é o mais frágil dessa cadeia. Enquanto o motorista estiver protegido por uma estrutura de metal, o pedestre fica exposto, vulnerável. Um atraso para o motorista pode significar alguns minutos a mais no trajeto; para o pedestre, pode significar a perda de uma aula, um emprego ou, em casos extremos, a própria vida.

A legislação brasileira é clara: o pedestre tem prioridade na faixa. Mas a lei, por si só, não é suficiente. O que falta, muitas vezes, é a consciência de que o trânsito é um espaço coletivo, onde a gentileza e o respeito devem prevalecer. Parar para o pedestre não é um favor; é um dever. E quando isso se torna uma exceção, e não a regra, é sinal de que algo está profundamente errado.

Recentemente, mudanças no Código de Trânsito Brasileiro geraram debates acalorados. A introdução de testes de conhecimento do código para condutores, por exemplo, é uma medida que pode ajudar a reforçar a importância de conformidade com as principais autoridades no trânsito. No entanto, mais do que leis e tentativas, o que precisamos é de uma mudança cultural. Precisamos entender que o trânsito não é uma competição, mas um espaço de coexistência.

A cena do jovem pedestre e do motorista que parou para ele deve servir como um lembrete. Um lembrete de que pequenos gestos de gentileza podem transformar o trânsito em um ambiente mais seguro e humano. E, acima de tudo, um lembrete de que, no fim do dia, todos somos pedestres. Todos já estivemos do outro lado do volante, esperando que alguém nos passasse.

Que essa cena deixe de ser uma surpresa e se torne corriqueira. Que os pares não sejam por obrigações, mas por respeito. E que os pedestres possam atravessar as ruas sem medo, sabendo que sua segurança é prioridade. Afinal, a gentileza no trânsito não é apenas uma questão de educação; é um reflexo da nossa humanidade. E é nela que devemos apostar para construir um trânsito mais seguro e solidário.

Por Júnior Patente

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