Posições de Bolsonaro podem prejudicar Brasil durante conflito na Ucrânia, diz especialista

Ao menos 16 regiões da Ucrânia já foram atingidas pela Rússia, cujo presidente prometeu retaliação àqueles que tentarem interferir

Foto: Alan Santos/PR/Divulgação


Em meio à crise com o Ocidente, a Rússia iniciou, nesta quinta-feira (24), um ataque à Ucrânia – e o Brasil, neste cenário, assume um posicionamento de "neutralidade à brasileira", embora Jair Bolsonaro (PL) tenha afirmado, em recente visita ao país, ser "solidário à Rússia". Especialista em direito internacional, Acácio Miranda Filho afirma que o encontro de Bolsonaro com o presidente russo, Vladimir Putin, acende o entendimento de que, sim, o Brasil tem um lado.

"Historicamente, [o Brasil] opta pela neutralidade. Mas, com isso [a visita], há uma certa tendência. E é, em tese, um lado errado. Já que é um ataque sem autorização da ONU [Organização das Nações Unidas] e realizado nesses moldes", avalia Miranda. Ao menos 16 regiões da Ucrânia já foram atingidas pela Rússia, cujo presidente prometeu retaliação àqueles que tentarem interferir. 

Nos bastidores, segundo reportagem do O Globo, membros do governo brasileiro relatam que a decisão do presidente russo de reconhecer a independência de regiões separatistas da Ucrânia faz com que o Brasil reflita sobre qual postura adotar. Na prática, contudo, não há qualquer declaração de Bolsonaro neste sentido. Por meio de nota emitida nesta quinta-feira, o Ministério das Relações Exteriores, por sua vez, pede "uma solução diplomática para a questão, com base nos Acordos de Minsk". A pasta afirma que devem ser levados em conta "os legítimos interesses de segurança de todas as partes envolvidas e a proteção da população civil".

Miranda explica que a guerra, para a Rússia, é muito mais comercial do que em nome de uma bandeira ideológica – que é justamente onde há a inclinação de Jair Bolsonaro para o lado Russo, defende o advogado. Com um governo que já demonstrou fragilidade em conflitos diversos, o Brasil pode sofrer as consequências deste conflito, acrescenta o advogado. 

"Em tese, o Brasil não tem nada a ver com isso, mas é um posicionamento equivocado de Bolsonaro, porque temos muito mais relação com os Estados Unidos e União Europeia do que com a China [que já sinalizou apoio à Rússia]", diz ele, ao acrescentar os entraves que envolvem a venda do gás russo à Europa, sobretudo à Alemanha, e os abalos que o conflito pode acarretar à economia mundial. 

Um cenário mais distante, exemplifica Acácio Miranda, em que houvesse condições impostas pelos EUA e União Europeia, o Brasil estaria em maus lençóis. "Aí teríamos um problema grave, porque há uma relação substancial, mas acho que neste momento não acontecerá". O especialista faz votos de que, por ora, os esforços sejam concentrados em salvaguardar os brasileiros residentes na Ucrânia.

Metro1

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