Lula lança pré-candidatura: veja alianças e cinco principais desafios
Foto: Ricardo Stuckert / Divulgação
Considerada improvável devido ao histórico de disputas, a chapa formada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSB) será apresentada oficialmente neste sábado (7), em um evento para 4.000 pessoas em São Paulo.
Com a formalização da pré-candidatura, a dupla terá então pouco menos de cinco meses para superar desafios, que vão da formulação de um programa econômico à neutralização da força do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas redes sociais.
A notícia, divulgada na tarde desta sexta-feira, de que o ex-governador está com Covid-19 estragou um pouco o clima, já que impedirá a sua participação no evento, que contará com lideranças políticas, artistas e líderes de movimentos sociais. O discurso de Alckmin será transmitido pela internet e exibido em um telão.
Mesmo antes da formalização da pré-candidatura, Lula trocou o marqueteiro e o seu coordenador de comunicação. O baiano Sidônio Palmeira substituirá Augusto Fonseca no marketing da campanha. O deputado federal Rui Falcão (SP) e o prefeito de Araraquara, Edinho Silva, vão substituir Franklin Martins na comunicação do partido.
O ex-presidente enfrenta o desafio de modular as suas falas para evitar declarações que sirvam de munição aos adversários, como quando, em entrevista à revista Time, disse que o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, é tão responsável pela guerra quanto o russo Vladimir Putin. Também houve uma gafe na semana passada com a afirmação de que Bolsonaro “não gosta de gente, gosta é de policial”, que levou Lula a se desculpar.
Em outro episódio, no começo do mês passado, o ex-presidente disse que todo mundo deveria ter direito ao aborto. Algumas dessas falas foram exploradas por bolsonaristas nas redes sociais para atacar o petista. A campanha terá que acertar o tom para enfrentar a superioridade de Bolsonaro nas redes sociais.
A chapa Lula-Alckmin nasce com o apoio de sete partidos (PT, PCdoB, PV, PSB, Solidariedade, Rede e PSOL). Mas ainda há, entre os aliados do ex-presidente, a expectativa de atrair outras siglas. Um dos principais desejos é ter o MDB na chapa ainda no primeiro turno, o que seria uma sinalização de forma mais clara ao eleitorado de centro.
Há expectativas menores em relação ao PSD. Mesmo dentro dos partidos aliados ainda há uma resistência importante a ser quebrada: a ex-ministra Marina Silva (Rede). Petistas trabalham para promover uma reaproximação entre ela e Lula.
Nos estados, o principal problema hoje é Minas. O desejo é ter o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil como aliado no segundo maior colégio eleitoral do país, mas há divergências sobre a vaga ao Senado da chapa.
O PT quer lançar Reginaldo Lopes e o PSD, o atual senador Alexandre Silveira. Há também problemas em relação à vaga ao Senado no Rio, com Alessandro Molon (PSB) e André Ceciliano (PT) em disputa pelo posto, mas a aliança com o pré-candidato a governador do PSB, Marcelo Freixo, está certa. A pré-candidatura também precisará lidar com os palanques duplos que podem gerar desconforto.
São os casos, por exemplo, de São Paulo e do Rio Grande do Sul. Nas duas disputas, há hoje pré-candidatos colocados do PT e do PSB, o que pode gerar desconforto para que Lula e Alckmin cumpram agendas juntos nesses locais.
Na eleição paulista, estão o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) e o ex-governador Márcio França (PSB). No Rio Grande do Sul, são pré-candidatos o deputado estadual Edegar Pretto (PT) e o ex-deputado Beto Albuquerque.
A pré-candidatura vai precisar administrar as suas diferenças internas para apresentar um plano econômico. Lula tem defendido de forma veemente uma mudança na política de preços da Petrobras, colocando-se contra as privatizações e o teto de gastos, defendendo uma revisão da reforma trabalhista de 2017.
Em eleições passadas, Alckmin era defensor das privatizações e da paridade internacional dos preços dos combustíveis. Não há ainda um nome forte da área que sirva como porta-voz com o mercado e o empresariado.
Quando questionado, Lula costuma afirmar que, se quiserem saber o que ele pensa sobre economia, basta olhar para os seus dois governos. Petistas, entretanto, reconhecem que hoje a realidade do país é diferente da encontrada em 2003.
A polarização tem esquentado o clima entre apoiadores de Lula e Bolsonaro. A campanha do petista vai precisar tomar medidas para driblar ações de bolsonaristas dispostos a constranger o ex-presidente em suas atividades de campanha.
Já de olho nesse problema, a assessoria de Lula evita informar detalhes de deslocamentos do ex-presidente, por exemplo. Na última quinta-feira, em Campinas, um pequeno grupo de apoiadores do atual presidente protestou na porta do condomínio onde Lula fez uma visita a um professor da Unicamp. Em atos públicos, o petista conta também com mobilizações do MST para evitar a aproximação de bolsonaristas.
O Globo