A literatura em Vitória da Conquista refletida por um escritor conquistense

  • Danilo Souza
  • Atualizado: 13/11/2023, 10:36h

Conquista da Literatura é uma série da Mega Rádio VCA sobre escritores independentes de Vitória da Conquista. Neste primeiro episódio, Nélio Silzantov, escritor indicado à semifinal do Prêmio Jabuti 2023, conta sobre os desafios de ser um autor independente, como começou a escrever e sobre o Foro Literário Sertão da Ressaca.

Produção e entrevista de Danilo Souza; Edição de áudio de Pablo Hernandez; Direção Geral de Fábio Agra

Vitória da Conquista é a terceira cidade com mais habitantes em todo o estado da Bahia, possuindo quase 400 mil pessoas em seu território. Porém, mesmo em meio a tantos rostos diferentes, pouco se sabe sobre os escritores e a literatura local. Para buscar uma solução para essa problemática, o projeto Foro Literário Sertão da Ressaca produz atualmente um trabalho de pesquisa e ampliação das obras conquistenses para os leitores.

Um dos nomes por trás da iniciativa é Nélio Silzantov, professor de Filosofia licenciado pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e autor das obras “Desumanizados” (2020) e “BR2466” (2022), que foi indicada à semifinal do Prêmio Jabuti 2023. Em conversa com Danilo Souza, o escritor comentou como surgiu o seu interesse e as primeiras experiências com a literatura.

“Eu comecei a escrever com mais afinco por volta da virada do milênio, ou pelo menos é a primeira experiência que eu tenho de uma memória bastante vívida de que eu parei para escrever algo muito mais na tentativa de entender como funcionava a escrita em termo de construção de personagens, espaço, enfim, todos os elementos da narrativa. Eu não tinha nenhuma base teórica sobre isso e comecei a escrever para experimentar.”  

Ao ser questionado acerca das dificuldades enfrentadas como escritor independente para conseguir realizar a publicação das obras, o professor destacou alguns dos caminhos que podem ser seguidos para os autores que passam pelo mesmo problema. 

“A regra geral para todo mundo que começa e talvez uma das maiores dificuldades é não saber para onde ir. O escritor iniciante geralmente tem alguns caminhos: a autopublicação, que é pagar para poder imprimir um livro e publicá-lo, e todo o custo fica por conta do escritor. O outro é a publicação em formato de ebook, onde você coloca o livro nas plataformas de venda, e o terceiro, que foi o que eu escolhi, foi o de procurar as editoras pequenas. A primeira editora para quem eu mandei, a Penalux, leu o material, gostaram bastante e já aceitaram.”

A ideia de criar um projeto para trazer a memória literária do município ao público surgiu através de um descontentamento de Nélio ao notar que conhecia poucos escritores da cidade. 

“A cidade não tem uma cena literária, onde os escritores se reúnem, compartilham as suas obras, discutem sobre elas. É muito comum você ir a um lançamento de um livro e encontrar um ou dois escritores. Isso pra mim é algo bastante angustiante.” 

O autor comentou também como funciona a administração do Foro Literário: “Eu administro sozinho as publicações e a questão editorial, dou uma olhada nos textos que me enviam quando alguém vai participar de algum lançamento de algum escritor e aí essa pessoa envia, a gente troca uma ideia e publica tanto no Facebook quanto no Instagram, e tem um blog também.” 

Uma questão para debate foi a aparente falta de interesse que a  população tem em buscar conhecer as obras e os escritores locais. A respeito disso, Nélio deu sua opinião sobre o que ele considera que pode ser uma via para que esse problema seja minimizado.

“A partir do momento em que os escritores vão se aproximando do público leitor e há também um movimento inverso, do público leitor ir buscar esses escritores, isso acaba motivando ainda mais a interação entre os dois e a expansão do que eu chamo de “Cena Literária”, que é a interação não só do escritor com o leitor ou do leitor com a obra, mas da tríade que o Antonio Candido, que é um teórico da literatura e da arte de modo geral, coloca, que é essa tríade literária: o escritor, a obra e o público. Esse diálogo tem que haver.”  

Entre os dias 15 e 19 de novembro acontecerá a Feira Literária de Vitória da Conquista, evento em que Nélio estará presente para o lançamento do seu próximo livro intitulado "A Finitude das Coisas". Durante a conversa com Danilo, o escritor abordou quais são as expectativas para a feira e comentou com exclusividade para a Mega Rádio sobre a sua próxima obra. 

“Houveram outros movimentos anteriores que criaram algo parecido, mas não nessa mesma dimensão da FliConquista. É um desejo antigo, justamente por isso, para que as pessoas conhecessem quem são os escritores e o que eles estavam fazendo. A expectativa é essa, que a feira literária possa contribuir para esse movimento de aproximação que já vem sendo feito pelos escritores.” 

Sobre o livro “A Finitude das Coisas” 

“A Finitude das Coisas é uma continuação sobre Vitória da Conquista que aparece como um pano de fundo, ou como segundo personagem. A história se desenvolve na vida de quatro amigos, quatro jovens que enfrentam a transição da juventude para a vida adulta e a transição da década de 90 para o novo milênio, que tem alguns marcos que vão mudar a maneira como a gente vivencia algumas coisas hoje, como o ‘boom tecnológico’. Eu tento falar sobre isso, o modo como a gente encara essas finitudes e o término das coisas.”

“A finitude das coisas” (2023), de Nélio Silzantov

Outro propósito do projeto literário é conseguir visibilidade para os autores conquistenses em atividade, sobretudo os que estão estreando. Nélio aproveitou a oportunidade para citar alguns desses escritores e o futuro deles dentro da cena literária da cidade.

“A gente tem uma galera nova que tá aparecendo, como o Linauro Neto, que lançou recentemente o seu primeiro livro, o Nem Tosco Todo e a Ana Luz, que já tem uma trajetória bacana. E a gente espera que futuramente outros possam lançar o seu primeiro livro, como a Hortência Gonçalves, Juliana SBrito,  Maris Stella, Eber Chaves, Edson Prado, Leon Lacerda e o Caio Aguiar Sirino. A gente está tentando lançá-los numa coletânea no final do ano. Vai ser bacana ver o texto deles circulando por aí e espero que a galera goste bastante do que vier.” 

Para acompanhar os próximos trabalhos de Nélio Silzantov e do coletivo Foro Literário Sertão da Ressaca, siga o perfil oficial do projeto no Instagram. 

O segundo episódio da série Conquista da Literatura estará disponível em breve. Acompanhe a série Conquista da Literatura aqui na Mega. 

 

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