Cine Movimenta Centro bate recorde de público com as exibições do longa Central do Brasil e do curta Central Conquista Brasil
A noite desta terça-feira (28) foi memorável para os fãs de cinema na cidade de Vitória da Conquista, já que, em comemoração dos 28 anos da gravação de “Central do Brasil”, de Walter Salles, o Cine Movimenta Centro realizou uma sessão especial que exibiu não só o longa de Salles, como também o curta “Central Conquista Brasil”, dirigido por Esmon Primo, que conta sobre os bastidores dos sete dias de gravação da obra no município baiano.
Começando pelo curta, que possui um pouco mais de 15 minutos e que nos convida a entrar no universo da Central do Brasil presente ali na Vila Serrana, durante sete dias, em janeiro de 1997. Os espectadores acompanharam parte dos bastidores registrados pelos olhos e câmeras de um apaixonado por cinema, Jorge Melquisedeque, vivenciando uma oportunidade única: ser testemunha ocular de um filme que, posteriormente, seria indicado ao Oscar e venceria outras tantas premiações famosas do audiovisual, como o Globo de Ouro, por exemplo.
Josué (Vinícius de Oliveira) e Dora (Fernanda Montenegro), na Vila Serrana, em Vitória da Conquista, durante as gravações do longa-metragem Central do Brasil (1998). Foto: Arnaldo Ribeiro
Notou-se que mais do que usar Vitória da Conquista somente como uma parte de um cenário, realmente houve uma aproximação e uma conexão entre a equipe de Central do Brasil e a comunidade conquistense, que, curiosa, acompanhou cada take de gravação durante toda aquela semana. Aproximação essa que foi um momento importante para os cinéfilos da cidade, que estavam ali registrando bastidores de uma obra que se tornaria referência nacional e mundial em um futuro não tão distante.
Em um dos trechos de Central Conquista Brasil, Melquisedeque diz “E eu que, ao ir ao cinema ainda menino, imaginava como seriam os bastidores do cinema na exata hora em que cada cena era filmada, perguntando: onde se colocaria o diretor? Como seriam os atores em carne e osso? E os equipamentos? E a tão secreta câmera cinematográfica?”, reforçando a admiração por aquele momento.
Na exibição de ontem (28), Esmon esteve presente no Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima e viu o seu trabalho chegar a um novo público, como eu, jovem, que não fazia ideia de quão legal é ver um set de filmagens. Já ambientados no contexto e em parte da história do longa, após os 17 minutos do curta, fomos transportados para o Rio de Janeiro, onde tudo começa de verdade.
Vinícius de Oliveira, Caio Junqueira e Walter Salles, no set de filmagem do longa Central do Brasil (1998), em Vitória da Conquista. Foto: Arnaldo Ribeiro
Falar de Central do Brasil é fácil, afinal, é um clássico do cinema nacional e é um outro grande acerto do diretor Walter Salles, que também foi responsável por longas como “Terra Estrangeira”, de 1995, e, posteriormente, também iria dirigir “Abril Despedaçado”, de 2001, e “Ainda Estou Aqui”, de 2024. Mas a sensação de ver num cinema ao invés de ficar em casa e escolher uma plataforma de streaming pareceu diferente para mim.
O envolvente enredo da professora Dora, que escreve cartas para pessoas analfabetas que querem entrar em contato com alguém que está longe, se entrelaça com o destino do menino Josué, que convence a sua mãe a mandar uma carta, pois ele deseja conhecer o pai que foi para o Nordeste. Depois de um acidente na volta para casa, Josué perde a mãe, ficando sozinho na estação da Central, e Dora decide levá-lo para casa com receio de que algo possa acontecer com o garoto.
A relação dos dois, de início, é meio conturbada, com a professora cuidando do Josué “na força do ódio”. Ela chega a vender o garoto para um casal que diz ser responsável por um abrigo de adoção, mas que na verdade faz parte do mercado negro, entretanto, Dora descobre a tempo e consegue salvar o menino. A partir daqui, o que era para ser uma simples carta se torna uma viagem pelo Nordeste em busca de encontrar o pai de Josué através do endereço dito pela mãe ao pedir para Dora escrever a carta.
Dora, de certa forma, se enxerga em Josué e transfere parte das suas próprias frustrações na relação com o pai para o menino. Mas a cada novo quilômetro de viagem, a conexão entre os dois parece aumentar e, ao chegar no Sudoeste da Bahia, mesmo sem um adeus definitivo e digno, a professora e o garoto se despedem, mas com a sensação de reconciliação com eles mesmos e as suas respectivas famílias. Dora passa a lembrar dos bons momentos que viveu ao lado do pai, enquanto Josué começa a morar com os irmãos, Moisés e Isaías, que também anseiam por ver o pai, em Vitória da Conquista.
“[...]Também vai ser melhor pra você ficar aí com seus irmãos. você merece muito muito mais do que eu tenho pra te dar. No dia que você quiser lembrar de mim, dá uma olhada no retratinho que a gente tirou junto. Eu digo isso porque tenho medo que um dia você também me esqueça. Tenho saudade do meu pai, tenho saudade de tudo.
Dora"