Ídolos do Flamengo da era Zico falam sobre o futebol nos dias de hoje
Um clima de nostalgia tomou conta do amistoso que reuniu apaixonados pelo futebol e nomes que marcaram época no esporte. Em campo, o time local contou com figuras queridas da torcida, como os atacantes Tatu e Rafael da Granja, além do experiente capitão Silvio, que liderou a equipe em uma partida repleta de emoção.
Do outro lado, o Flamengo trouxe um elenco de respeito, composto por ex-campeões que escreveram capítulos importantes da história do clube mais popular do país. Entre os rubro-negros presentes estavam ídolos como Rondinelli, Mozer, Andrade, Fernando, Jean, Toró e Beto — jogadores que, cada um à sua maneira, contribuíram para as recentes conquistas do Campeonato Brasileiro e da Copa Libertadores da América.
Uma pena as arquibancadas vazias para este jogo festivo. Jogadores que marcaram época em grandes elencos rubro negros e os que defenderam os clubes da cidade proporcionaram um bom jogo, com seis gols marcados, sendo o empate do time rubro negro acontecendo há dois minutos do fim do jogo.
Ídolos eternos do Flamengo falaram do futebol atual
Mozer, sempre reflexivo ao falar de futebol, relembrou no amistoso o que moldou sua trajetória como zagueiro de elite. “Quando eu era jovem, foi um conjunto de coisas que me formou, mas sobretudo a disciplina. Tive muitos ídolos na infância e um deles está aqui hoje: o Rondinelli. Meu primeiro jogo como profissional foi ao lado dele. Eu treinava e depois ficava observando a postura, a conduta. Fui me moldando com os grandes jogadores do país. Sou uma mistura de cada um, dentro e fora de campo.”
O ex-capitão rubro-negro também comentou a mudança na forma de jogar no Brasil. “Depois que voltei em 2016, percebi uma inversão de pensamento no nosso futebol. Melhoramos em alguns aspectos, mas perdemos o fundamental: nossa essência. Passamos a jogar como os europeus dos anos 80, conduzindo demais, correndo demais, brigando demais. E os europeus passaram a jogar como nós jogávamos: com técnica, dois toques, circulação de bola. Hoje, poucas equipes dominam o jogo com posse qualificada. Precisamos resgatar o futebol dos anos 70, 80 e 90 dentro da modernidade.”
Ao recordar o Mundial de 1981, Mozer ressaltou que o foco daquele grupo nunca foi status. “A gente só pensava em devolver ao público aquilo que eles tanto desejavam ver. As viagens eram difíceis, tudo era mais complicado, mas sempre tivemos como prioridade respeito, entrega e vitória.”
Ele também fez uma crítica ao cenário atual: “Falta entendimento do que é intensidade. A gente vê muitos cruzamentos mal feitos, decisões apressadas. Para ter qualidade perfeita, é preciso repetir, treinar muitas vezes. E isso, ao que parece, está sendo bloqueado. O material humano sul-americano é melhor que o europeu, mas já faz quase uma vida que não vencemos eles.”
Por fim, Mozer revelou qual momento da carreira reviveria se pudesse: “O dia 13 de junho de 1980, quando entrei pela primeira vez com a equipe principal no Maracanã, contra o Fluminense. Esse dia eu viveria de novo.”
Já Rondinelli, o eterno Deus da Raça, falou sobre o verdadeiro significado de “raça” nos dias atuais. “As épocas são totalmente diferentes, a forma de se comportar mudou. Mas, na minha opinião, um dos fundamentos principais que essa geração precisa resgatar é o respeito ao 12º jogador. Nós, da geração Zico, somos reconhecidos assim pelo carinho dessa nação rubro-negra. Falta um pouco mais de atenção, de cuidado.”
O ídolo fez uma crítica construtiva ao comportamento dos atletas atuais. “Desce do ônibus sem fone de ouvido. O torcedor fica ali na grade querendo dar uma palavra de carinho, de incentivo. Isso é combustível. É isso que faz o jogador entrar com entusiasmo, determinação, garra, vontade. Essa é a essência de quem veste a camisa do Flamengo.”
Ao lembrar o histórico gol de cabeça no título de 1978 contra o Vasco, Rondinelli ressaltou que nada foi por acaso. “Tudo acontece pelo trabalho que a gente realizou, pela orientação da comissão técnica e também pela nossa vida espiritual. A geração Zico tinha como costume ir toda semana à igreja de São Judas Tadeu, padroeira do Flamengo. Quando chega uma final, é preciso estar totalmente concentrado para colocar em prática tudo o que foi treinado.”
Antes de entrar em campo no amistoso, ele ainda comentou sobre frustrações de jogo. “Se dói mais a jogada perfeita não entrar ou o atacante perder o passe? São situações diferentes, mas com o mesmo peso. Você tem que estar sempre atento, sempre focado, porque qualquer vacilo dá chance ao adversário. E isso só fala quem é raçudo.”
Para Rondinelli, a força do Flamengo vem do mesmo lugar de sempre: “O foco é primordial. Você entra em campo já ouvindo a ovação de 100 mil torcedores. O Flamengo é algo incomensurável. A torcida vai para te entusiasmar, para tirar de você o seu melhor.”
Entrevistas: Ane Xavier
Matéria: Júnior Patente







