E a cabeçada foi só o primeiro golpe do ataque

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Foto: Reprodução/TVE 


 

Por Lays Macedo

 

No último domingo, dia 10, o agora ex-técnico do time Desportiva Ferroviária, Rafael Soriano, deu uma cabeçada no rosto da árbitra assistente do quadro da CBF, Marcielly Netto, durante uma discussão no meio de uma partida de futebol. Dentre o trio da arbitragem, o treinador decidiu que a sua força física seria usada contra a única mulher presente em campo. Foi transmitido ao vivo pela TV Educativa, do Governo do Espírito Santo, mas, ainda assim, na saída de campo, Rafael Soriano negou a agressão. Todos podemos ter acesso ao ocorrido por meio de vídeo que circula na Internet. 

"Se você disser que eu te agredi, a gente vai para a delegacia. A gente vai fazer corpo de delito. Se não, eu vou te processar, vou te processar. Ela está dizendo que eu agredi. Mentira. Está se usando porque é mulher. Está querendo aproveitar de uma situação porque é mulher. Gonzalo (Latorre) foi encurralado, ela empurrou os jogadores e agora ela quer dizer que foi agredida. Mentira" - declarou o treinador, em entrevista à TV Educativa segundo matéria do site Globo Esporte. Mix de audácia e prepotência, certeza de impunidade, segurança do seu gênero. 

O treinador foi demitido e foi suspenso pelo Tribunal de Justiça de Desportiva do Espírito Santo por 30 dias. A vítima, além de lidar com a dor do ataque físico, ainda lida com um ataque contra a sua moral (mesmo televisionado, é chamada de mentirosa, de ter inventado a agressão) e uma ameaça de ter que responder judicialmente por ter usado a sua voz diante da violência que sofreu. 

Isso, infelizmente, não é exclusividade do caso de Marcielly. Agressores, em regra, mentem, invalidam, diminuem. Eles fazem isso quando cometem a primeira violação e assim se mantêm para fazerem suas defesas. Sinto muito por Marcielly e me solidarizo com a sua dor. Marcielly, você não está só, você não está louca, você não mereceu nenhuma das violências. Marcielly, você só está ousando ao trabalhar num espaço majoritariamente masculino e desafiando ao quebrar o silêncio contra ataques misóginos naturais a estes ambientes.

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Sobre a autora: Lays Macedo é jornalista - orgulhosa por ser da Uesb - e estudiosa do feminismo - ativa e atuante. Também faz parte do quadro da segurança pública da Bahia. Adora conversas e tudo aquilo que disseram para ela que mulher não pode.

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