O palco, assim como o palhaço, é montado por nós


 

Por Lays Macedo

 

Temos acompanhado dois casos repercutindo agilmente nas redes sociais: o tapa de Will Smith em Chris Rock e o “mendigo” de Brasília. Duas histórias que trazem protagonistas homens em suas chamadas, mas, em ambas as situações, têm mulheres como foco de violência de gênero. Não vou entrar na discussão sobre as ações adotadas pelos homens para lidar com as questões (só lembrando que masculinidade ensina isso, eles cumpriram o que uma socialização patriarcal espera), eles estão lidando justa e injustamente com os seus próprios resultados, minha reflexão é quanto aos lugares que estas mulheres foram empurradas pelas repercussões dos ocorridos dentro dos nossos condicionamentos machistas.

Não quero dar muito palco, vou só contextualizar para quem não sabe o que rolou. Primeiro fato: a atriz Jada Pinkett Smith foi atacada por "piadas" do, muito sem graça, comediante Chris Rock durante premiação do Oscar, por conta de uma questão de saúde que a leva a raspar os cabelos, a alopecia. Seu esposo, Will Smith, movido pelo incômodo causado especialmente a Jada, levantou e deu um tapa no apresentador. Segundo fato: uma mulher foi flagrada pelo marido mantendo relações sexuais dentro do seu carro com um homem em situação de rua em Brasília. O marido espancou o “morador de rua” e afirma ter pensado se tratar de um estupro contra esposa. O vídeo do acontecimento viralizou na internet.

O trê-lê-lê do Oscar tem se dado principalmente acerca do tapa de Will, pouco espaço para as discussões sobre a violência cometida contra a atriz. Sim, ela foi brutalmente violentada quando o “comediante” tentou ridicularizá-la e constrangê-la por sua aparência. Sim, cabelo pode ser uma pauta sensível para mulheres, especialmente quando fazemos recorte de raça e consideramos tudo que o cabelo representa na resistência da mulher negra, especialmente quando a ausência de cabelo se dá por uma questão de saúde, não apenas por preferência da mulher. A “piadinha” não foi só de mau gosto, foi infeliz, ofensiva e desrespeitosa com a vulnerabilidade de uma mulher. Muitos riram.

Ao que vem sendo divulgado pela imprensa, sobre o segundo caso, a mulher possui histórico de transtornos psicológicos desde o ano de 2017, até com o indicativo para a internação para tratamentos. Mas, ninguém liga. O “mendigo” tem se tornado celebridade, por conta de toda exposição detalhada da relação sexual, e consequentemente da mulher, com reconhecimento e idolatria inclusive de outras mulheres. Há informações de que ela estava em surto, inclusive, durante o ato sexual (o que pouco importa também para a espetacularização do fato). A “fama” do cara tem se dado a partir do cometimento de um crime contra a honra de uma mulher (espalhar detalhes de relação íntima é crime de difamação!). Muitos riem.

A negativa de humanidade a mulheres tem um preço caro para nós, para nossa saúde e dignidade. A mão do machismo é pesada. E cobre toda dor feminina a troco de qualquer coisa “boba”- até mesmo de risadas dadas apenas por pessoas com senso de humor bastante duvidoso. Engraçado, para mim, tem sido é poder evidenciar a misoginia de tantos ataques públicos fantasiados como comédia. E aqui, muitas choram.

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Sobre a autora: Lays Macedo é jornalista - orgulhosa por ser da Uesb - e estudiosa do feminismo - ativa e atuante. Também faz parte do quadro da segurança pública da Bahia. Adora conversas e tudo aquilo que disseram para ela que mulher não pode.

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Lays Macedo

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