DOS CENTAVOS AOS MILHÕES NA RELAÇÃO COM O TRABALHO
Foto: Rawpixel/Shutterstock
Por Laís Sousa
Se tem uma coisa que nos leva dos centavos aos milhões, ou vice-versa, essa coisa é a nossa relação com o trabalho. Por isso, cada 1º de maio, que marca as conquistas de direitos do trabalhador, é marco de celebração, mas também reflexão…
Ao tempo em que vivemos o despertar dos milhões, em que o empreendedorismo faz muitos corações reconhecerem seu valor para desenvolver capacidades com persistência, também somos bombardeados com premissas “coach” de centavos, em que se romantiza o excesso de trabalho como único meio de alcançar sucesso.
É tempo de considerar que, se precisamos fazer hora extra todo dia e viver sempre sem tempo e dinheiro, o ofício para o qual demandamos energia é, no mínimo, ineficiente. Permaneceremos lisos e perdendo tempo no propósito de enriquecer, não necessariamente um outro alguém quando é possível se tornar o próprio pior patrão.
É possível aplicar no trabalho a mesma ingenuidade de quem romantiza a dor e o sofrimento, afinal, o trabalho de ninguém é a materialização do amor. Quer prova? Experimenta falar para o dono de uma cozinha com a pia cheia de pratos sujos que você ama lavar louça… Como moeda de troca para o amor terá uma pia cheia como proposta de trabalho. Não admiração, não reconhecimento, não realização…
A ideia de que é preciso ser apaixonado pelo que faz e o fazer ser fonte da dignidade humana virou uma espécie de mantra. Isso gera decepções, frustrações, falsas esperanças e o mais triste, relações tóxicas de trabalho mediante submissão e exploração.
Como explicar milhões de profissionais que são ótimos fazendo um trabalho que detestam? E como explicar aqueles que adoram o que fazem, mas têm um desempenho de centavos?
A oferta de fazer o que ama parece sedutora quando precisamos abstrair questões que são mais fáceis aceitar: as contas que precisam ser pagas, a moeda em desvalorização, o poder aquisitivo baixo, as coisas estão cada vez mais caras e a insegurança se instalando em todo lugar. Mas o amor definitivamente não paga e você, racional, não tem mesmo que se programar para amar tudo o que precisa ser feito.
Sempre que puder e tiver oportunidades, questione seu modelo de realização e busque relações melhores e mais saudáveis de trabalho. A ideia não é ser escravizado pela perspectiva de felicidade nem se tornar refém dos sonhos. Com esforço, dor e sofrimento talvez consiga um infarto, enquanto os herdeiros vivem o que você guarda para um depois que pode não chegar.
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Sobre a autora: Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas vagas e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e comentarista por esporte sorte. Vamos fugir!
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Laís Sousa
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