AMOR SÓ DE MÃE E TAMBÉM PELAS MÃES

  • Laís Sousa

Foto: NETFLIX/série Maid


 

Por Laís Sousa

 

Estamos cercados por uma cultura que idolatra o amor materno, sobretudo no Dia Das Mães. Não é à toa que a data é a segunda maior e melhor para estratégias de publicidade e comercialização como oferta de gratidão e afeto. Mas da idealização à prática, a reciprocidade desse amor tem muito a se desenvolver para fazer valer o clichê do “todo dia”… 

Embora existam casos em que a ausência ou excesso de afeto na relação com a mãe seja prejudicial aos filhos, até a crença no “amor de mãe” como espécie incondicional equiparado ao divino e que, em comparação, fazem outros tipos de amor incapazes de tamanha devoção, pode se tornar mais um fardo para elas, que podem se sentir inaptas ao tempo em que precisam também serem amadas e se amar.  

Todos somos filhos e não há como desconfiar de quem é a mãe. É natural o reconhecimento àquelas que, ainda tendo legalmente podado o direito de escolha sobre seu corpo e sua vida, lidam com a aprendizagem e exercício de gerar, criar e cuidar de outros seres. Por vezes sendo criticadas, julgadas, além das tantas outras vezes em que simultaneamente lidam com a violência, abandono e/ou péssimas condições de sobrevivência. 

Entre a pressão social que cobra a maternidade da mulher e o reconhecimento cultural do amor simbólico às mães, é preciso que se trace um caminho de condições - políticas, mas também sociais - que tornem mais fácil a realidade dessas mulheres. Por elas, o amor não parece tão singular assim…

Na série Maid, lançada pela Netflix como adaptação do livro “Superação: Trabalho Duro, Salário Baixo e o Dever de Uma Mãe Solo”, de Stephanie Land, vemos na história da protagonista Alex (Margaret Qualley) as dificuldades para sobreviver à violência psicológica e fuga para encontrar felicidade sem, no entanto, desistir ou abandonar a filha Maddy, de 3 anos. 

Em contraponto, ao compartilhar um pouco da sabedoria da aldeia africana Dagara no livro O espírito da Intimidade, a Sobunfu Somé conta como a chegada de uma criança é vista como uma responsabilidade coletiva em que todos se envolvem no desenvolvimento dela (não são pitacos sobre certo e errado da criação).

Por aqui, mulheres que não se encaixam no perfil “casar para ter filhos” que a sociedade tem como constituição “normal” de família, são julgadas inconsequentes e questionadas do “porque não se cuidou” ou “como deixou acontecer” - como se conceber um filho fosse tarefa de uma pessoa só; mães solos, que enfrentam sozinha a difícil missão de ter um filho, podem ser sentenciadas ao solteirismo frente ao preconceito para novos relacionamentos; mães são criticadas pela falta de pudor em amamentar em ambientes públicos; mães precisam sair para trabalho ou lazer, mas não têm com quem deixar as crias; mães saem e são questionadas sobre as suas responsabilidades; mães precisam se alimentar, mas não têm como quem compartilhar a necessidade de colo e segurança para o bebê; mães também se irritam com o choro intermitente, mas são olhadas como culpadas quando não conseguem fazer parar… 

O estresse feminino é, culturalmente, tomado como comum. Mas não é!  Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), as mulheres trabalham cerca de 7,5 horas a mais do que os homens em uma semana e isso se deve à jornada dupla de trabalho, entre emprego e atividades em seu próprio lar.  Além do esgotamento físico, esta rotina pode também causar início a transtornos psicológicos, depressão e Burnout.

Existem milhares de histórias e desdobramentos complexos ao nosso redor. Mulheres que podemos amar em episódios cotidianos, de sororidade ou apoio. Entender que há formas de agredir que não sejam físicas. Há formas de abandonar que não seja através de um status. Mas também há muitas formas de refletir o amor que acolhe, que compreende, que não desiste e que se torna simbólico no segundo domingo de maio.

 

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Sobre a autora: Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas vagas e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e comentarista por esporte sorte. Vamos fugir!

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Laís Sousa

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