INGRITHINDICA: BOA SORTE, LEO GRANDE
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Por: Ingrith Oliveira
O filme retrata o processo de autodescoberta feminina e sexual de Nancy Stocks, depois dos seus 50 anos de idade. A protagonista é interpretada por Emma Thompson, que está simplesmente maravilhosa! Ela se entregou ao personagem e a narrativa com muita intensidade. A produção tem uma estética atraente, com uma fotografia alegre, limpa e iluminada.
Nancy é uma mulher madura, que aparentemente tem tudo sob controle, viúva de um único parceiro por 30 anos, mãe de dois filhos e professora de religião aposentada. Em um determinado momento da sua história, ela percebe que sua vida sexual foi um verdadeiro desastre. Nunca teve um orgasmo, não conhece os próprios desejos e é extremamente insegura. Até que ela resolve contratar um acompanhante de luxo de codinome Leo Grande (Daryl McCormack).
Leo Grande é um jovem bem sensual, gentil e inteligente. O personagem não segue o estigma do homem viril e machão, muito pelo contrário, ele é doce, perspicaz e respeita a história e personalidade de Nancy, estabelecendo uma conexão com muita sabedoria, sem imposições esdrúxulas.
Para relatar esse processo de Nancy, a trama foi dividida em três partes com os quatro encontros de Nancy e Leo. A cada encontro, acompanhamos de pertinho as quebras de tabus com diálogos provocativos e embates que nos imergem nos personagens.
Conflitos
O primeiro encontro foi extremamente conflituoso. Nancy desiste em vários momentos e insiste que Leo vá embora. Ela se sente pouco desejável e insegura com a situação. Leo por sua vez, demonstra-se interessado em dissipar os conflitos que aprisionam Nancy, revelando que esse tipo de contato e experiência são extremamente prazerosos para ele, não somente pela questão financeira.
Nesse primeiro momento, o sexo fica em segundo plano e Nancy confessa o quanto que sua trajetória foi sufocante e repressiva. A tensão, o conflito e autojulgamentos são super compreensíveis, afinal foram décadas de repressão que não são desconstruídas de um dia para o outro. A trilha da liberdade começa no questionamento e rompimento de padrões que não nos cabem mais.
Desejo
Nesse segundo momento da trama, Nancy demonstra estar mais leve, um pouco mais permissiva e curiosa. Ela até faz uma lista de desejo, com coisas básicas para muitas de nós, mas que para ela eram extraordinárias.
Todavia, ela ainda está presa a um sexo roteirizado e programável. Sabemos que um bom sexo tem entrega total das partes envolvidas. Por isso, mais uma vez, Leo a provoca a viver aquelas experiências de forma espontânea e natural.
Desacostumada em ter alguém se importando com seu prazer, Nancy ainda resiste e se sente desconfortável ao ser desejada plenamente por Leo. A narrativa nos mostra como que a sexualidade feminina percorre várias questões, desde a autoestima, a autoconfiança e outras situações que não são intrinsicamente físicas e sexuais.
Outra reflexão muito interessante do roteiro é sobre a beleza não ter prazo de validade. A sensualidade existe em todas nós, cada uma com sua individualidade e personalidade. Presenciar isso na personagem é bem inspirador.
Voa Nancy
Em um desfecho dramático, encantador e emocionalmente, finalmente vemos Nancy conquistando a sua autonomia sexual e pessoal. Isso inclusive, é refletido em seu novo visual e personalidade, agora mais despojado e confiante.
O espectador também é presenteado com cenas mais picantes, cheias de entrega, espontaneidade e desejo. Lindo de se ver!
Essa divisão no roteiro é muito interessante porque nos mostra a densidade e diversas camadas que uma mulher precisar romper para se libertar. A tensão que ela carregava foi dissipada lentamente durante os encontros, até quando ela finalmente chega ao ápice da sua feminilidade, que ultrapassa o prazer sexual, mas também o prazer de sua existência.
SPOILLER: Não espere um romance entre os dois. O enredo é sobre uma mulher que aprendeu a se amar, nos mostrando que não existe idade ou hora certa para isso. A hora é agora!