Julho das Pretas: Mulheres no topo!

Foto: Brenton Edwards/AFP

Por Laís Sousa


Nessa semana, auge do Julho das Pretas, em que o calendário marca no dia 25 o Dia de Tereza de Benguela e Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, eu precisei lembrar o quanto o futebol é ancestral para aproveitar uma boa oportunidade de ver mulheres no topo: Seleção brasileira estreou com tudo na Copa Mundial Feminina.

Há tempos, desde meados de 2013, não acompanho futebol como antes, sobretudo por faltar admiração. Se você consegue se abster a torcer apenas pelo que acontece dentro de campo e pela forma que dominam a bola ali, ótimo, mas a influência daqueles “representantes” rompe barreiras, vira inspiração (ou não), é arte, tem impactos em vários aspectos. Sabemos que quando jogadores declaram voto, são chamados de “macaco” ou sofrem homofobia, xenofobia, ganham salários e incentivos desiguais, isso não se origina na partida nem finaliza ali…

O futebol pode ter sido formalizado pelos ingleses através da unificação de suas regras em 1863, mas possui diversos ancestrais ao redor do mundo, inclusive na América Pré-Colombiana que já praticava esporte com bola antes das invasões. O futebol é um esporte que conecta, que move e que, após décadas para conquista de espaço, sambando miudinho ou jogando capoeira, negros fizeram dos gramados um palco para brilhar, registrar suas identidades, com licença para ascensão social, mudança de vida e perspectiva para jovens marginalizados. Vai muito, mas muito além do campo…

Vivemos num país pluricultural, influenciado pela quantidade de correntes migratórias que recebeu ao longo da história. Somos 169, 5 milhões de brasileiros, dos quais 56% se declara negra (entre pretos e pardos) e 50,79% são do sexo feminino. 44% destas, negras e pardas. Se hoje as mulheres negras são essenciais nos plantéis de clubes e da seleção, por muito tempo elas conviveram no esporte com uma espécie de soma de opressões: de raça, de gênero e de classe. Não foi uma trajetória sem luta e resistência.

Luta e resistência que memoramos esta semana, a começar pelo reconhecimento da “Rainha Tereza”, que viveu no século XVIII, no Vale do Guaporé (MT), e liderou o Quilombo de Quariterê após a morte do marido. Segundo documentos da época, o lugar abrigava mais de 100 pessoas, incluindo indígenas. Sua liderança se destacou com a criação de uma espécie de Parlamento e de um sistema de defesa. No topo!

No topo, como estrear na copa mundial com 4 gols a zero contra a seleção do Panamá, sendo 3 da nordestina e maranhense Ary Barbosa. Neste nosso país, dito “país do futebol”, que chega a decretar feriados em dias ou turnos em que acontecem os mundiais de futebol, masculino, vale especificar, uma vez que ainda não tem o mesmo reconhecimento para prestigiar o futebol feminino, pouco divulgado e até investido, se levar em consideração a diferença de salários entre os melhores de cada gênero.

Mas o que não falta na trajetória feminina é luta e resistência, não é mesmo?! Vou exaltar a grandiosidade da nossa maior e melhor, Martha, para concordar com a zagueira da seleção da Alemanha, Sophia Kleinherne, quando diz que a seleção feminina consegue inspirar com futebol honesto, sem tirar proveito de certas situações. Também “não conheço nenhuma ‘Neymar feminina’, nenhuma jogadora que fique no chão dois ou três minutos”...

A mulher negra é, ainda hoje, a principal vítima de feminicídio, das violências doméstica e obstétrica e da mortalidade materna, além de estar na base da pirâmide socioeconômica do país. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que produz o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, confirmam essa triste realidade. Das 1.341 mulheres vítimas de feminicídio em 2021, 62% negras. Já nas demais mortes violentas intencionais, 70,7% são negras.

Se esses índices permanecem no topo, o mínimo que podemos fazer é continuar lutando, continuar resistindo, continuar nos unindo e torcendo por nós. No comando da treinadora sueca Pia Sundhage, temos um time formado por Bárbara, Lelê ou Camila no Gol; a Zaga cabeceada por Kathellen, Lauren, Monica, Rafaelle ou Tainara; Tamires e Bruninha na Lateral; Ary Borges, Kerolin, Duda Sampaio, Luana, Adriana, Ana Vitória e Angelina como Meia; além de Marta, Debinha, Geyse, Gabi Nunes, Bia Zaneratto, Andressa Alves e Nycole como Atacantes.

O próximo jogo é neste sábado, contra a França, às 7h. Na quarta, enfrentamos a Jamaica às 7h. Com força, foco e fé, vamos desenvolvendo para chegar na final. Você está convocad@ a ligar sua TV de onde estiver, assistir aos jogos sem fone de ouvido e comunicar aos desavisados: estamos na Copa Mundial de Futebol Feminino rumo ao topo!


Laís Sousa

Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!
@laissousa_
laissousazn@gmail.com

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