Sem romantizar, passar pano e fazer vista grossa

Larissa Manoela entre os pais, Silvana e Gilberto (Foto: Reprodução/Instagram)

Por Laís Sousa


Foi-se o tempo de romantizar, passar pano e fazer vista grossa. O caso Larissa Manoela bater recorde de audiência no Fantástico em plena noite do Dia dos Pais (13.08) diz muito sobre como a ausência paterna é problemática, mas uma presença mal-intencionada pode ser tão tóxica e doentia quanto. Na situação compartilhada através de conversas em áudio e print, os pais da atriz de 22 anos, que trabalha há 20, demonstraram que se importam mais com os bens do que com o bem-estar da jovem que pedia até mesmo R$ 10 reais para aproveitar prazeres da vida, e preferiu abrir mão de R$ 18 milhões para ter paz.

Ao contrário do que fez questão de falar o biscoiteiro e ex-namorado digno de esquecimento, Thomaz Costa, acredito que uma vez que brigas na família existem motivadas pelas “boas intenções” que acabam não se provando nada disso, os erros identificados precisam ser questionados, pois o problema nunca será expor e lutar por acertos. Atitudes de libertação poderosas, como a da Larissa Manoela, tira pais do pedestal de deuses, onde humanos nunca poderiam ser colocados, e mostra que não estão sós tantas outras pessoas cuja autonomia e capacidade de discernimento são tolhidas em relações fraternas tão tradicionalmente conservadas numa sociedade adoecida.

Se Sônia Abrão, a mesma que interferiu na negociação da Polícia com o homicida no Caso Eloá, questiona o bom senso da exibição ser televisionada na data comemorativa, há quem questione a data comemorativa. Afinal, há muito tempo o formato de família é tão amplo e diverso que a única justificativa para manter comemorações isoladas para pais, mães, avós - falta tios, não é mesmo?! -, é a lucratividade comercial. Focar propagandas em torno do “Dia da Família” (8 de dezembro) seria valioso para milhões de famílias em que falta o pai (vivo ou registrado na certidão, diga-se de passagem) ou a mãe, são compostas apenas por pais ou apenas mães, ou mesmo cabe a outro membro da família criar e dedicar cuidado, carinho e amor. Se a intenção é exaltar a entidade família e fosse rentável centralizar todos os presentes para uma data só, pensar no bem-estar das crianças não seria tão difícil, não é?

O capitalismo fica insano quando o valor do dinheiro se torna superior ao de pessoas, laços, relações. Se a mãe de Larissa Manoela ao dizer que não abriria mão de um centavo para cuidar do dinheiro da filha, afirmou que ela só teria o “título de mãe” ao invés de uma mãe na posição em que deve ocupar, existem crianças que viram adultos carentes do que dinheiro algum pode comprar. Pensando nisso, eu compartilho o filme Papai é Pop que assisti disponível no catálogo do Prime Video. A comédia conta a história de Tom (Lázaro Ramos), um homem comum que vê sua vida mudar ao se tornar pai. Ao lado da esposa Elisa (Paolla Oliveira), Tom precisa aprender na prática como cuidar da filha, e em meio a situações divertidas e emocionantes da vida cotidiana, apresenta uma transformação interior que conflita com a forma como a sociedade enxerga um pai presente. É sobre como não é o dinheiro que ensina, aproxima e forma relações…

Fato é que, mais que nunca, independente da estrutura familiar ou poder aquisitivo, saúde mental e autoconhecimento virou artigo de luxo que deve ser requisitado desde a tenra infância. Se afeto não se pode comprar, está aí uma coisa em que se deve investir, encontrar pretextos e olhar atentamente, muito mais que presentes. Foi-se o tempo de romantizar, passar pano e fazer vista grossa…


Laís Sousa

Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!
@laissousa_
laissousazn@gmail.com

Comentários


Instagram

Facebook