Perfeita: Anos 90, a guerra distantemente próxima e as lutas por direitos

O universo em chamas e eu deitada na minha cama de pijama, evitando obrigações

                                                    

Laís Sousa criança/Arquivo pessoal

 

Como bem canta Giulia Be, “se eu pudesse vivia em câmera lenta ou voltava no tempo pros anos noventa” por entender que, além de ter sido uma criança “perfeita”, vivia em um cenário onde o mundo parecia menor e menos complicado. Eu estava imersa em um redemoinho de brincadeiras, histórias em quadrinhos e desenhos animados. A guerra na Terra Santa parecia muito distante e inatingível. As notícias sobre conflitos em Israel e na Palestina eram transmitidas através da tela da televisão, mas suas implicações raramente penetravam em minha bolha de inocência.

À medida que crescia, a compreensão desses conflitos crescia comigo, na escola, na História, nos assuntos de vestibular para estudar, no Jornal Nacional, no site da UOL. A Terra Santa, um lugar que soava tão mágico e distante, conforme a Igreja, logo se tornou um símbolo dos complexos desafios que enfrentamos como sociedade global. Lembro-me de ouvir debates sobre as raízes do conflito em Israel e Palestina, que pareciam intermináveis e impenetráveis, como se permeiam o universo da religião. Cada facção tinha sua narrativa da única verdade e parecia que eu deveria escolher por quem “torcer” ou “orar”.

No processo de “adultecer”, aprendi que não tomar partido era uma escolha em si - entender que cada um tem sua verdade que motiva (nem sempre justifica). À medida que me tornei consciente das guerras e conflitos em diferentes partes do mundo, percebi que não era necessário alinhar-me a um lado específico. Compreendendo que após perseguição do povo judeu por milhares de anos, quando enfim entenderam que eles precisavam de um país próprio, criam Israel num terreno onde já existia um povo vivendo, os palestinos, árabes mulçumano que se radicalizaram em parte contra a colonização. Me questiono (e a você também) se não é desonesto apontar mocinho e vilão nesta luta tão complexa e devastadora por território em que se perdem tantas vidas inocentes. Eu posso escolher a empatia, o entendimento e o desejo de um mundo em que todas as crianças cresçam em paz, independentemente de sua origem. Paz!

Enquanto minha geração crescia, também testemunhava mudanças profundas no cenário social. Os anos 90 viram o início de avanços significativos nas lutas pelos direitos LGBTQIA+. A visibilidade aumentou, a aceitação cresceu e, veja só, apareceram beijos como demonstração natural de afeto na TV, as barreiras começaram a desmoronar mesmo com índices de violência no topo.

Olhando para o Brasil do presente, vejo um retrocesso alarmante nessa progressão. Como adulta é tão deprimente quanto uma criança que não consegue entender a falta de amor. Direitos conquistados com tanta luta parecem agora ameaçados, com um ambiente político e social que levanta questões preocupantes sobre igualdade e inclusão.

Essa é uma realidade que não podemos ignorar. Desde a minha infância nos anos 90 até o presente, testemunhei mudanças significativas no mundo, tanto na compreensão dos conflitos globais como na aceitação da diversidade. Ainda assim, enfrentamos obstáculos que lembram a importância de não tomar a paz e a inclusão como garantidas e cuidar dessas crianças. Agora somos adultos, cuidemos das nossas crianças!

A infância nos anos 90 nos ensinou a importância de não escolher lados, mas sim escolher valores que nos unam na busca por um mundo melhor. Essa é a lição que levamos adiante, para enfrentar os desafios do presente e moldar um futuro mais “infantil”

Faça o dia feliz, criança. A que habita em você!


Laís Sousa

Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!
@laissousa_
laissousazn@gmail.com

Comentários


Instagram

Facebook