Monogamia: a origem da doidice não está no amor

  • Laís Sousa

 

Imagem: Jusbrasil

 

"Diziam pra mim que essa moda passou

Que monogamia é papo de doido"

 

Pera Lu… tira o cavalinho da chuva ou o coração do alvo. Vem cá, me dá aqui a mão, junta sua loucura na minha e vamos pensar na origem desse papo e na base que mantém esse - “princípio” ou “delírio coletivo”? Spoiler: romântica é que não é!

Enquanto os versos de “Chico” continuam a ecoar em nossos ouvidos, a tradição ou tese da monogamia permeia nossos relacionamentos e, eis a questão: arriscar no amor? apostar na incerteza? pular de onde for? assumir como honra ‘ser cafona’ pro povo?

Dia desses, dedicando tempo a me tornar uma mulherzinha perigosa no consumo de ideias, conheci a palavra da antropóloga e teórica social Eleonor Leacock em seu livro lá de 1981, "Mitos da Dominação Masculina". Ela apresenta evidências etnográficas de sociedades caçadoras-coletoras que eram mais igualitárias em termos de gênero, destaca como as mulheres frequentemente desempenharam papéis ativos e significativos em sociedades pré-agrícolas e, sobretudo, argumenta que a transição para a agricultura muitas vezes levou a uma maior desigualdade de gênero devido à divisão do trabalho, propriedade privada e herança. Uma reviravolta no meio-campo das relações, afinal, para saber para quem deixar os bens, os senhores precisavam ter “certeza” de quem eram seus filhos, não é?! Senta que lá vem “monogamia” como uma boa ferramenta de controle social que impõe limites à liberdade individual, já dizia Engels, sobretudo, à gestora de vida na terra, a pobi da mulher.

E você pensando que era uma prova da paixão que desperta o desejo de declarar exclusividade. Ah, tá! Ao menor sinal de ciúmes, CORRA! É estruturação de posse, amores. A monogamia muitas vezes serviu como um veículo para a dominação masculina sobre as mulheres. E não é? A mulherada vai de peito aberto para fechar com o mano, mas recebe na caixa dos peitos um trabalho não remunerado no seio do lar, com direito a trouxa de roupa para lavar e passar, fogão para gerenciar, pia de pratos, cabo de vassoura sem poder voar, criança zunindo no ouvido e o que mais de chifre o parça quiser dar, para, ainda assim, ser considerado exemplo de cidadão de bem, homem de família, bom pai e, por vezes, cristão. Essa é a base!

Desde lá, teve muita mulher entrando desavisada nessa barca de monogamia que leva ao altar e separa a santa de casa da vagaba da rua. A essência foi romantizada para nos convencer, até porque, passamos a ser socialmente preparadas para não questionar ou pouco escolher na ocupação desse lugar de “escolhida” que se tornou “privilégio” e “prestígio”, afinal, facilita a vida ter um provedor, né?! E se não for? Socorro…

Muitas águas passaram e a gente continua a se afogar na estrutura que leva mais convenção que sentimento. Então, amores, nada contra, mas para ser a favor, é uma honra saber: monogamia sim, é um conceito de doido, mas um doido bem consciente sobre dominação e quase nunca desvairado de amor. O relacionamento por afeto talvez seja uma escolha que se perdeu nas conveniências, já que é tão raro quanto a família tradicional - brasileira - que se baseia no respeito ao invés do falso pudor. Os índices de violência, abuso, pedofilia e prostituição nas casas gritam. Misericórdia!

Os desafios da monogamia moderna estão fazendo bossa nova para nós. Em um mundo em constante evolução, onde as fronteiras do que é considerado um relacionamento "tradicional" estão se expandindo, é importante refletir sobre o que realmente significa ser livre para amar e ser amado. Escolher o que é mais autêntico para nós mesmos e saber respeitar as escolhas do outro.

Desde o ficar, passando pelo namoro, noivado, até o firmamento que constitui as famílias; Seja mono, seja poli, seja bi, tri, pan, hétero, homo… que haja direitos e que por vantagens consigamos instituir o amor e a liberdade nas relações. Eu gosto de poder dizer: “respeito é só o básico, não é cafona nem sai de moda”!


Laís Sousa

Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!
@laissousa_
laissousazn@gmail.com

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