ENEM: realidade de alguns, [in]visibilidade de todes nós

Laís Sousa - arquivo pessoal

Me dei conta de que o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) não faz mais parte das minhas prioridades quando exatamente ninguém do meu ciclo comentou acerca de fazer a prova. Me dei conta de que aconteceria no último domingo (06) por ver fila de estudantes se formando enquanto eu transitava para um relaxante almoço e, logo depois, me deparar com a postagem de um amigo que levou sua filha para realizar a primeira prova. Um choque de realidade sobre como o tempo é implacável para todes nós! 

Sobre a prova, senti uma mistura de alívio e tristeza. Por um lado, me vi libertada dessa pressão constante de estudar exaustivamente para alcançar mais uma pontuação competitiva e, por outro, após ver alguns comentários analíticos que valem a pena, a exemplo dos da Débora Aladim, percebi como o nosso sistema educacional limita as possibilidades de muitos estudantes, especialmente os de escola pública. Mas sinto pena por quem não consegue entender a importância no tema da redação!

Diferente da prova, este é um aspecto com o qual lido constantemente em contato com empreendedoras e, que bom que veio à tona no tema dessa redação, pois é uma necessidade urgente discutir amplamente na sociedade: a invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pelas mulheres. É como se o ENEM fosse apenas uma gota no oceano das questões que afetam as mulheres diariamente. Luz!

Para embasar essa reflexão, lembrei do livro "Mulheres não são chatas, mulheres estão cansadas", de Ruth Manus e indico como leitura indispensável. Com seu jeitinho simples e bem-humorado a autora aborda temas sérios e nos apresenta uma visão precisa e contundente sobre a sobrecarga emocional e física que as mulheres enfrentam ao acumularem responsabilidades como tarefas domésticas, cuidado dos filhos e apoio às famílias, muitas vezes sem qualquer apoio ou reconhecimento. Além disso, vale acompanhar o conteúdo de humor sagaz da Giovana Fagundes no Instagram, que através de relatos e análises do cotidiano, ela expõe como a sociedade perpetua a ideia de que essas atividades são inerentes às mulheres, naturalizando a desigualdade a começar pelo cuidado.

Especialmente essa semana, é preciso pensar muito mais  além no que envolve as pressões do universo feminino! Não consigo deixar de mencionar o fenômeno da perda de mulheres para o culto da beleza. A recente morte da assistente de palco do Domingo Legal (SBT) e ex-participante do reality show Power Couple Brasil, Luana Andrade, nos dá três tapinhas de “acorda” na cara. No auge de seus 29 anos, uma mulher que geral vai concordar em dizer que é linda, faleceu após quatro paradas cardíacas ao realizar um procedimento estético "simples", lipo no joelho e abdômen, o que nos faz questionar os padrões de beleza impostos pelo patriarcado e como muitas de nós nos tornamos inseguras e deixamos de aceitar mínimas imperfeições a ponto de nos submeter a intervenções perigosas em busca da “perfeição” que não chega. O tempo é implacável, lembra?!

Não podemos deixar neste lugar de “invisibilidade”, que só vem à tona quando falta, o trabalho de cuidado ou as vidas femininas. O olhar crítico deve ser lançado, sim, sobre os estereótipos de gênero, para valorizar o trabalho feminino, seja ele realizado no ambiente doméstico ou no mercado de trabalho; para valorizar a beleza feminina, seja ela interior ou com procedimentos necessários, que não afetem a saúde, especialmente a mental!


Laís Sousa

Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!
@laissousa_
laissousazn@gmail.com

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