Amigo Estou Aqui

Tom Jobim em uma de suas músicas mais conhecidas diz que “fundamental é mesmo o amor e é impossível ser feliz sozinho”. Sejam amizades, colegas de trabalho ou estudo, familiares, amores, ou qualquer outro tipo de relação, o ser humano é social e não consegue viver sem se relacionar. Relações com pessoas e com o mundo. Relacionar-se é imprescindível para ter uma boa saúde mental, a psicologia já sabe disso há algum tempo. Em alguma medida sabemos disso também, tanto que boa parte da produção humana envolve os conflitos presentes entre nós e os outros.

Foto: Reprodução. Personagens de sitcoms populares

As populares sitcoms, séries que mimetizam acontecimentos cotidianos com exagero e comédia, são bons exemplos de como nos reconhecemos em produtos que falam sobre a natureza das relações. Caso seja um consumidor deste tipo de mídia, pare e observe: existe algum tipo de série do gênero cujo maior atrativo não sejam as relações?

Eu sou fã de FRIENDS, não entendam mal o que falarei a seguir. Mas, por vezes eu tenho a sensação de que os personagens separadamente não são pessoas tão boas e só o conjunto deles faz sentido. Eu não vou fazer uma análise profunda sobre os motivos que levaram essa ou outras séries a serem tão populares. O que proponho aqui é um recorte. Rejeição, solidão, problemas de relacionamento, falta de realização profissional, conflitos familiares, dificuldades em entender as minúcias das interações sociais. Todas essas expressões são extremamente humanas e atrativas de se acompanhar. Envolvem identificação. Voltarei nesse ponto em outro momento.

As interações sociais mais emocionantes e bonitas que você já teve, assim como aquelas que levaram a mais decepções e traições são responsáveis em alguma medida pela pessoa que você é hoje. Toda interação gera aprendizagem, todas “modificam nosso cérebro” (e eu não tenho palavras para expressar o quanto odeio quando modificação no cérebro é utilizado na mídia como algo de outro mundo).

Em um capítulo sobre conexão social, Holman, Kanter, Tsai e Kohlenberg (2017) resumem algumas pesquisas que comparam ter relações sociais pobres a: efeito comparável ao de fumar, correlações com aumento dos hormônios do estresse, problemas de saúde e comprometimento do sistema imunológico. Em outras palavras: relações sociais saudáveis ajudam pessoas a viverem por mais tempo e mais felizes.

Percebam que eu citei diretamente relações saudáveis. Não sei se Tom Jobim quis falar apenas de relacionamentos amorosos, mas não são eles os únicos que importam. Vamos fazer um pequeno exercício: caso você esteja em uma situação difícil ou em uma emergência existem pessoas com quem você pode contar? Quem são elas? De que forma elas poderiam te ajudar? Você se sente incluída em um grupo de pessoas (com valores ou interesses em comum)? Como você se sente agora pensando sobre essas pessoas?

Aprendemos a nos relacionar na prática. Ao longo da vida nossos grupos de pessoas mais próximas variam. O tempo que temos disponível para nossos relacionamentos também varia e é comum ouvir que ao longo da vida fica mais difícil fazer novas amizades. Mas, existem relações diferentes. Níveis de intimidade diferentes. Cada uma com uma função na nossa vida, todas importantes. Relacionar-se é aproximar-se e afastar-se. Estar vulnerável e se recolher. Agir de acordo com o que você é e quer ser e não com o que acredita que é necessário mostrar. Relações mais fortes e saudáveis são relações genuínas.

Eu já me estendi mais do que planejei. Meu jeitinho. Mas deixo aqui algumas dicas para você que quer fazer mais amizades: experimente. Procure amigos de amigos, procure pessoas com interesses em comum, regule suas expectativas e veja qual a relação possível com aquela pessoa (existem diferentes tipos, lembra?). “Se a fase é ruim e são tantos problemas que não tem fim” uma rede estará lá para não te deixar cair.

Holman, G., Kanter, J. W., Tsai, M., & Kohlenberg, R. (2017). Social Connection and the Therapeutic Relationship as Contexts for Change. In: Holman, G., Kanter, Tsai & Kohlenberg (coords) -  Functional analytic psychotherapy made simple: A practical guide to therapeutic relationships. New Harbinger Publications.


Maiana Pereira

Psicóloga, baiana, feminista e palestrinha que ama dar um pitaco. Falo sobre os cotovelos sobre tudo que me move. Sou daquelas que a vida tem uma trilha sonora própria. Quero saber mais, ouvir mais, ver mais, ler mais, ver como cada contexto se relaciona. Vem comigo?
Conheça também meu site https://www.maianapereirapsi.com/

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