Machismo transparente: respeito em “des”construção

 

Foto: TV Globo

Na infância, ouvi uma frase intrigante que, anos depois, ainda ressoa: "Escondam suas cabritinhas que meus bodes estão soltos". Essa expressão, proferida durante um aniversário infantil, marcava um cenário em que meninos eram incentivados a "roubar beijinhos", uma prática que, mesmo na década de 90, já parecia deslocada.

Essa atmosfera também permeava a comunidade evangélica que frequentei ainda em maturação da adolescência, onde normas rígidas ditavam o comprimento das saias e demonizavam a transparência, associando o vestuário feminino ao mérito, desconsiderando questões como conforto e segurança, diga-se de passagem. Questionamentos inevitáveis surgiram quando fui informada de que as mulheres eram responsáveis por evitar pensamentos "errados" nos homens, que, por sua vez, não eram culpados por seus "instintos sexuais".

As justificativas dadas por participantes do BBB 24, como Maycon e Luidi, diante da beleza de Yasmin Brunet, evocaram lembranças dessas situações que, de formas similares, fizeram parte da formação de tantos de nós. As explicações sobre o incômodo gerado por um vestido transparente ou um piercing no seio refletem uma mentalidade ultrapassada e repugnante que Thaís Fersoza “macetou” em entrevista ao eliminado da semana e ‘esfrega em nossa cara’ sobre como os homens ainda se sentem aptos a “julgar” mulheres – implicar com a beleza incontestável ou ausência dela como se fosse questão de ‘falta de cuidado’.

É preciso reconhecer o quão decadente é perpetuar ideologias de desrespeito como se respeito fosse algo que o outro faça para merecê-lo ou não. Isso segue pesando sobre as mulheres e abstendo o comportamento de homens que, paradoxalmente, são até elogiados por evitar olhar, como se isso fosse um ato heroico de respeito para com suas parceiras. Educação e conduta a gente vê de longe…

Durante o reality, Yasmin proporcionou um abraço emocionado a Davi, também comprometido, mas cujo comportamento respeitoso independia do tipo de roupa. Essa cena contrastou com a explicação necessária de Vanessa Lopes a MC Bin Laden sobre como as mulheres muitas vezes estão condicionadas a abraços que evitam situações de assédio.

Vanessa Lopes, no entanto, não demorou a mostrar um perfil que defende e se satisfaz em ouvir apenas versões masculinas dos fatos, vendo os valores que deseja acreditar em um “hetero top” e adotando a rivalidade feminina como causa natural. Homens criticando vestimentas, corpos, alimentação e posturas femininas frente ao espelho é comum entre eles, mas normal não é não!

Não é todo homem, mas o machismo persiste declaradamente e sem qualquer pudor em versões como Rodriguinho e Nizan. Pena também em quem, mesmo consciente da “merda”, se torna cúmplice em silêncio, como Pizzane que “pagou o pato”. Muito mais que virar fofoca e picuinha, como propagou Vinicius para que chegasse ao ouvido de um alvo no jogo, ver esse reflexo tão nítido de posturas e posicionamentos da sociedade evidencia a necessidade urgente de desconstruir padrões e abraçar uma mentalidade respeitosa, ainda que ninguém esteja vendo. Na vida real não tem eliminação…


Laís Sousa

Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!
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