Espelho Virtual: Reflexos da Realidade Frágil no BBB 24


Foto: TV Globo

Você me deixa doidião
Oh, yes! Oh, no!

(Mamonas Assassinas)

No "BBB 24", Vanessa Lopes se tornou o epicentro de um espetáculo que oscilou entre a hipótese de um surto psicótico e as teorias de uma performance calculada por uma figura midiática em busca de atenção. Seu estado de saúde mental tornou-se cada vez mais frágil dentro da casa, gerando uma necessidade evidente de intervenção, visto que afetava não apenas ela, mas todos ao redor. Sofrido de ver!

Com a desistência de Vanessa, a produção se viu aliviada da preocupação de como retirá-la do jogo sem quebrar regras, uma vez que a situação clamava por um acompanhamento mais atento. Em pleno Janeiro Branco, fomos confrontados com nossa incapacidade coletiva de lidar com questões de saúde mental, respondendo com rapidez em risos, irritação, diagnósticos e sentenças diante de crises e desafios emocionais. Não podemos deixar de vigiar com a imagem que some na abertura do reality: nosso despreparo para cuidar, acolher e apoiar, inclusive por parte de seus pais, que, ao gravarem dancinhas e garantirem que tudo estava bem, pareciam não compreender verdadeiramente o estado da filha. É importante recordar que, nesta mesma edição, uma frase controversa questionou um desmaio por ansiedade...

Vanessa, em constante observação nos espelhos, passou a enxergar os demais participantes como atores colocados ali para testá-la, confrontando-os como se fossem peças dos Jogos Vorazes em que ela se reconhecia como Katniss. A consciência de seu poder de influenciar 40 milhões de seguidores,como se fossem “zumbis” que a obedeciam sem pensar e, inclusive, poderiam sentenciá-la ao cancelamento, a fazia repensar não apenas suas ações, mas também sua própria identidade. De alguma forma, na cabeça dela fazia sentido que todas as coisas tinham um significado e estavam conectadas ao conhecimento que as pessoas tinham sobre ela, inclusive a nova música da Ludmila que interpretou ser uma alerta para que fosse mais “maliciosa”. Ela conversava com paredes e recebia “respostas” do dragão decorativo, enquanto identificou que vivia como "1984", obra em que o escritor George Orwell cria uma sociedade em que todos são filmados e vigiados o tempo inteiro em crítica a ditadura. 

Em meio aos memes, li de um sábio ON que “a performance da loucura é a forma mais autêntica da loucura”. A desconexão entre o virtual e o real, característica marcante da geração TikTok, ficou evidente nas experiências de Vanessa, onde a exposição da imagem muitas vezes parece sobrepor-se à saúde emocional. As informações absorvidas de forma superficial resultaram em confusão, especialmente sob a pressão do reality show. 

A visão de uma adolescente e também influenciadora do TikTok, que afirmou categoricamente que "Vanessa enlouqueceu porque não sabia a opinião das pessoas sobre ela", destaca o perigoso delírio desses influenciadores, a crença em seu poder de cancelamento e na capacidade de moldar a sociedade a partir do virtual. Isso vai além da busca pela fama; trata-se da necessidade de aceitação e validação que enlouquece. Em um mundo onde a exposição nas redes sociais dita a relevância, a falta de controle sobre o que os outros pensam pode ser esmagadora. 

O entretenimento, por vezes, nos ensina que o poder efêmero pode se tornar uma armadilha, e personagens muitas vezes caem do topo da cadeia alimentar quando acreditam ser invencíveis. Que a mão de Thanos não paire sobre essas cabeças, e que possamos questionar a narrativa de que o mundo virtual é o recorte definitivo da existência, reconhecendo o valor do que está além das telas…


Laís Sousa

Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!
@laissousa_
laissousazn@gmail.com

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