De Tom Jobim a Odair José: meu coração tem lá suas razões!

Era quinta-feira à noite. Me sentia moída, tal qual aquela carne que compramos para determinadas receitas. Entre os trabalhos para uma nova matéria, os estudos para um concurso e os afazeres domésticos, mal vi o tempo passar. Deitada, celular na mão, rolo o feed do Instagram. Eu merecia um pouco de descanso, afinal. De repente um reel me chamou a atenção. Um rapaz cantando o refrão da música “Sufoco”, sucesso na voz de Alcione, numa pegada assim, meio Johnny Hooker, sabe? Fiquei apaixonada. Pedro Mahal, o nome dele. É músico independente no Rio de Janeiro, toca nas noites cariocas, tem um EP lançado e um canal no YouTube onde publica os covers e versões que faz. Passeia por diversos estilos e canta Tim Maia lindamente. Descobri tudo isso fuçando o seu perfil. De tão encantada com a sua interpretação da canção imortalizada na voz da nossa diva, a Marrom, compartilhei seu reel no meu stories e aí algumas pessoas comentaram, surpresas com minha pieguice! Elas não sabiam que eu sou da turma do sentimentalismo escancarado.

Pois bem! Vou lhes contar: meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, foi sobre a Música Brega, senhoras e senhores. Na parte escrita, o memorial descritivo, conto a história do rádio, meio de comunicação pelo qual sou fascinada, falo de outros estilos musicais, inclusive da Bossa Nova (que eu amo tanto) e chego no Brega. Além disso, produzi e apresentei um programa de rádio que conta como surgiu esse gênero musical tão potente, que traz histórias de compositores e intérpretes, além de uma entrevista com o vocalista dos Homens de Cabaré, um grupo de jovens músicos que cantam os clássicos do gênero.

Lá em 2014, enquanto estudante de jornalismo, e, ainda hoje, esclareço para muita gente que nem só por Chico Buarque, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Elis Regina, Gonzaguinha, Gal Costa, Milton Nascimento e tantos outros grandiosos nomes da Música Popular Brasileira, bate o meu coração. A Universidade, enquanto espaço plural, acolheu muito bem a minha escolha pelo tema. Fora do ambiente acadêmico é que eu precisava sempre argumentar. Sobre a Bossa Nova, desde que a descobri, na adolescência, me percebo totalmente nostálgica, ouvindo Tom Jobim, João Gilberto, Nara Leão e Vinicius de Moraes, como se eu tivesse vivido no tempo em que eles encantaram o país. Creio que esse seja o poder da música. Como explicar que os clássicos do gênero brega causam em mim o mesmo efeito? É como se, gostando de um estilo, não se pudesse gostar do outro. Isso é preconceito, viu?

A Música Brega é assim chamada por ter arranjos simples e, sobretudo, forte apelo sentimental. Na forma de balada romântica, surgiu no final da década de 1960, sob influência de outros ritmos, como o bolero (que tinha como grandes intérpretes, Orlando Dias, Silvinho e Valdick Soriano, entre outros). Paulo Sérgio foi o pioneiro e um dos maiores ícones do estilo. Lançou seu primeiro LP em 1968 e logo atingiu a marca de 300 mil cópias vendidas, algo grandioso para a época. Entre as faixas que tocavam nas emissoras de rádio, Brasil afora, estava a música “Última Canção”. O cantor emplacou vários outros sucessos e influenciou nomes como Fernando Mendes e Odair José.

Essa música considerada excessivamente dramática. Durante os anos 70 era definida pela palavra cafona, de origem italiana. Segundo o escritor Paulo César de Araújo, ela foi difundida no Brasil pelo compositor e jornalista Carlos Imperial. O termo brega só passou a ser utilizado a partir de 1980. O movimento brega avançou pelas décadas seguintes, revelando novos compositores e intérpretes e ganhou novas roupagens, como o Brega Pop, o Tecnobrega, de Gaby Amarantos, e o Arrocha, de Pablo, mas todas elas conservam a essência do estilo: o romantismo. E é exatamente aqui, no romantismo, que eu lhes provoco, meus queridos leitores. Roberto Carlos, desde a Jovem Guarda, cantava o quê? Eu vivia dizendo ao meu amigo Gilberto Santos, grande comunicador do rádio conquistense, que nos deixou em 2016, que o Rei sempre foi brega.

A Inesquecível Maysa Monjardim, considerada a precursora do Samba-Canção, muitas décadas antes de Marília Mendonça surgir como rainha da sofrência, foi chamada de rainha da fossa. Prestem atenção nas letras de “Meu mundo caiu”, “Conselho” e “Ouça” e depois me digam se não são músicas de rasgar o peito!  Se partirmos da premissa de que a Música Brega é assim definida principalmente por seu sentimentalismo exacerbado, muita gente do meio musical é brega. Aqueles que curtem também o são. Eu, amante de tantos gêneros musicais, eclética desde que me entendo por gente, lhes confesso: acho interessantíssimo quem se permite não ser uma coisa só.


Thaty Miranda

Thaty Miranda: jornalista, radialista, viajante, concurseira, baiana, ariana e apaixonada pela vida!

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