Corpos e Contrastes: Dia das Mulheres no Plural
Foto: Reprodução Globo
O Dia das Mulheres - plural, para ser inclusivo com a gorda, a negra, a PCD, a mais velha… - é uma data que deveria ser de celebração das lutas conquistadas, mas que muitas vezes nos confronta com as complexidades e contradições das lutas constantes que ainda temos a enfrentar. É um momento para refletir sobre o que significa ser mulher na sociedade contemporânea, com todos os seus desafios, pressões e expectativas. O que faz de nós “pequenas criaturas” sabendo ser tão grandiosas?!
Nas últimas semanas, testemunhamos verdadeiros contrastes no Brasil e no mundo. Por um lado, vimos a poderosa e implacável sororidade masculina com a generosa doação de Neymar para amenizar a pena de Daniel Alves, condenado por estupro. Isso nos faz refletir sobre a violência contra nossos corpos e como ela muitas vezes tem um preço.
Por outro lado, no mundo do entretenimento, vimos o "desfile da auto aceitação" no Big Brother Brasil, onde participantes não padrão se uniram para mostrar suas imperfeições e confortar Yasmin Brunet, que, apesar de ser considerada padrão de beleza, também enfrenta suas próprias inseguranças, especialmente ao descobrir comentários sobre seu corpo.
Quando nos confrontamos com a realidade cruel que fere nossos corpos e quem a gente é, que ignora a resistência, nossa voz que não se cala e a diferença dos nossos corpos ainda que praticando a mesma série de exercícios ou se alimentando igual, somos obrigados a reconhecer quão opressiva e esmagadora é a pressão social e estética, especialmente para as mulheres. Como isso nos impulsiona a viver em total estado de descontentamento e insatisfação com a nossa imagem, em competição e cobrança entre nós.
É contundente que as maiores críticas e cobranças muitas vezes vêm de nós mesmos, alimentadas por padrões inatingíveis impostos pela mídia, pelas redes sociais, pela indústria da beleza. Notamos que, com a quantidade de lipo, silicone, design de sobrancelha, harmonização facial, uma série de cirurgias plásticas, o objetivo é ter a mesma “chapa” numa espécie de industrialização de mesmos aspectos, quando a graça do mundo está em não ter a “chapa” de todo mundo. O caminho para libertação desse referencial feio x bonito nos permite ser quem se é, abraçar a diversidade e a singularidade de cada corpo e cada pessoa.
Que neste Dia das Mulheres possamos nos amar e nos aceitar como somos, naturalizar o plural, desafiando os padrões impostos e celebrando a força que nos molda e constrói a cada dia, a nossa capacidade de nos reinventar. Isso é um apelo! Porque, afinal, a verdadeira beleza está na autenticidade e na coragem de sermos nós mesmas, sem desculpas nem concessões. Na prática da empatia, confiança, cooperação e acolhimento entre nós, porque sobre isto, temos muito que aprender, especialmente com o homem - hétero, branco, calvo, mediano...
Laís Sousa
Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!@laissousa_
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