O absurdo entre vitórias e a consciência afro

imagem: companhia das  letras

Era uma vez, em um universo nada paralelo onde o absurdo parece ser a regra e não a exceção, que nos deparamos com histórias que desafiam a lógica e nos fazem questionar a própria sanidade. Não, eu não estou falando da senhora que levou um cadeirante morto para sacar R$ 17 mil no banco, pasmem! Entre os personagens da trama de hoje estão Davi, Endrick e Wanessa, cujas jornadas se entrelaçam por um assunto bem mais comum do que gostaríamos, não é mesmo?!

Enfim, após quase quatro meses de luta sofrida e televisionada, Davi, o campeão improvavelmente previsível que conquistou o coração do Brasil, fica oficialmente ciente de sua vitória no BBB. O prêmio no maior reality do país não foi apenas uma conquista pessoal, mas simboliza a luta diária de tantos brasileiros que acordam cedo para trabalhar, que erram, que aprendem, que se indignam com injustiças. Além de primeiro homem negro a ganhar o Big Brother Brasil em 24 edições, Davi vira retrato da resiliência, da esperança, da capacidade de se reinventar.

Nos bastidores da vitória de Davi, em um ambiente não tão vigiado, mas amplamente disponível que é a internet, eis que falas controversas do jogador palmeirense de apenas 17 anos repercutem negativamente em um podcast. Um negro de potencial estrondoso é criticado ao expor seu “contrato de namoro” com a loirinha padrão - entre periféricos e marginalizados, símbolo de “subir na vida”. Vale pontuar que o jovem é fruto da realidade de pais que viveram o sacrifício para garantir necessidades básicas e criar filhos para serem, mais que resistentes, sobreviventes. Resultado, Endrick não parece preocupado ou interessado em desenvolver o mínimo de consciência racial e ocupar o lugar de importante representatividade que tem.

Afinal, o caso de realização de Davi é exceção numa realidade em que o negro é constantemente influenciado a pensar naquilo que não quer ser: aquele que ocupa um lugar de dor, injustiça e dificuldade, que só se f*de, é perseguido e violentado a começar por instituições que deveriam lhe assegurar direitos, chega por último e não pega a melhor do baile. Aquele que para ascender socialmente deve mudar seu jeito, sua fala, sua classe, sua vida e suas companhias para estar preferencialmente acompanhado de quem tem fácil e livre acesso em todos os ambientes!

Companhias, talvez, como as de Wanessa, que aproveitando o hype da final do programa em que foi expulsa após cometer uma sequência de atitudes inocentemente racistas, lança sua música criticando a cultura do hate e anunciando sua jornada de "afrobetização". Dos mesmos criadores de quem culpabiliza o “racismo estrutural” ou “os que imperam” pelos seus próprios erros, veio muito aí a nomenclatura da busca por conhecimento e letramento racial pós exposição vexaminosa, já que percebemos uma dificuldade de que esse processo seja “afroditada” para tantos que parecem confortáveis sendo “afrolbetos”. Que o arrependimento da cantora de “Caça Like” seja genuíno e que a aprendizagem seja contínua para lembrar que a conscientização não é mera tentativa de se redimir.

Antes do alerta bipar o final de semana, foi anunciada a traição sofrida por Belo por Gracyanne, como chumbo trocado - intriga a oposição, mais numa espécie de lei do retorno pela ação cometida pelo cantor de pagode com a parceira anterior. Dizem que ainda existe amor, enfim! Mas o que fica desta semana é lembrar a importância de “não baixar a cabeça” para ocupar um lugar que cabe [Davi], de quando estiver ou alcançar esse lugar, despertar para importância de saber quem se é e diferença que se pode fazer [Enrick], e ainda, ter em vista que é sempre tarde para começar a fazer a diferença [Wanessa].

Em suma, enquanto continuamos nossa jornada nesta louca aventura chamada vida, que possamos encontrar inspiração e superações em histórias que nos rodeiam num furar de bolhas. Que sejamos todos responsáveis pela nossa (des)construção e, ao ocuparmos espaços, especialmente os relacionados a educação racial, estejamos menos preocupados em palestrar na Harvard e muito envolvidos em propagar uma conscientização ampla e de fácil acesso, com palavras simples, para que o maior número de pessoas possam despertar e entender que não existe mais esse tempo para perder justificando erros e nomeando pautas. O universo permanece cíclico e as dores são reais!


Laís Sousa

Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!
@laissousa_
laissousazn@gmail.com

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