Poética realidade x intolerâncias: respeita a história e foca na arte

  • Laís Sousa

 

Em um mundo onde cada pixel é um ponto de vista, Ludmilla virou alvo ao expor em sua arte a realidade nua e crua da periferia. Assim como para os olhos atentos tudo é poesia, para os mal intérpretes não existe contexto e, pelas distorções ‘maliciosas’ que repercutiram nesta semana, a imagem da nossa ‘Rainha da Favela’ não consegue ficar ‘Numanice’ por muito tempo…

Ao se apresentar no Coachella, a nossa ‘de fé’ levou consigo não apenas clássicos de sua música cantando funk raiz e pagode em português, mas também uma representação autêntica, com as contradições e desafios que enfrenta diariamente a comunidade que não está em nenhuma ‘Maldivas’. Utilizando imagens reais da artista documentarista @Najur, Ludmilla mostrou que a criatividade coexiste com o tráfico de animais, gente sendo presa, gente entrando no ônibus pela janela, entre outras tantas realidades que desafiam a narrativa idealizada, colorida, filtrada e maquiada da favela, que muitos preferem para ocultar problemas e fazer caber de forma positiva e inofensiva em trabalhos publicitários.

Se temos pichado em algum muro que “só Jesus expulsa o Demônio das pessoas”, a intolerância religiosa é real e não passa a existir quando uma imagem é registrada e exposta. Se existe algum ‘sintoma de prazer’ com os ataques direcionados a Ludmilla, ‘você não sabe o que é amor’ e também reflete intolerância, especialmente no que se diz respeito à resistência que ‘Ela’ representa. Como uma mulher negra e favelada que ‘chega chegando’ para ocupar espaços de poder e visibilidade, ela está desafiando as normas estabelecidas e quebrando barreiras para além da ‘verdinha’ no quintal.

Com todas as porradas, ela pode não ser a ‘preferida’, mas ninguém pode apagar o fato de que Ludmilla é a primeira cantora negra latina a pisar no palco principal do Coachella e fazer história, sem esconder sua identidade, sua sexualidade ou suas origens. Ela levou consigo sua esposa, sua equipe capacitadíssima e a voz de outras mulheres pretas poderosas, como Beyoncé e Erika Hilton. Ela está pintando um quadro, sobretudo, verdadeiro e que, no mínimo, deveria servir de ‘espelho’.

Que não sejamos nós a permitir que paisagens sejam tomadas de sombras e injustiças. Que possamos colorir nossas interações com a tinta do respeito para apagar a intolerância que, de fato, mancha tantas mentes. Que ao ‘olharmos para o lado’ nós consigamos enxergar, com admiração e apoio, que ‘a preta venceu’ e está no topo, passando com o bonde e enchendo mamãe e muitos brasileiros de orgulho…

Melhor que ficar de “caozada” é fazer sua parte para melhorar seu contexto e nossa realidade. Pra ‘hoje’: Respeita a história e foca na arte da Ludmilla!


Laís Sousa

Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!
@laissousa_
laissousazn@gmail.com

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