Em Animals, Pink Floyd mostra que o capitalismo não é, nem de longe, a melhor opção
Lançado em janeiro de 1977, o álbum Animals, décimo disco de estúdio da banda britânica Pink Floyd, é repleto de significados, referências e alusões. É um trabalho ambientado em um viés conceitual numa história com início, meio e fim, assim como os seus antecessores “The Dark Side Of The Moon” (1973) e “Wish You Were Here” (1975), além do seu sucessor, “The Wall” (1979). Com críticas político-sociais e uma notável inspiração no livro “A Revolução dos Bichos”, de George Orwell, Animals marca uma mudança nas características sonoras e de relação entre os próprios membros da banda, com experiências conturbadas que, posteriormente, resultaram na saída do tecladista Richard Wright.
Capa do álbum "Animals" (1977).
O contexto e conceito do álbum
Na segunda parte da década de 70, a Inglaterra enfrentou um período marcado pela falta de emprego e as altas taxas de inflação, fato esse que foi importante para a criação do conceito do disco. Em “A Revolução dos Bichos”, Orwell compara os seres humanos com três animais; os cães, que representam homens da lei, como a polícia, os porcos, que representam políticos corruptos, e as ovelhas, em alusão às pessoas que seguem um líder sem questionar ou se opor. Usando tais representações como base, Roger Waters, baixista e compositor de todas as faixas do disco (com exceção de “Dogs”, em co-autoria com David Gilmour) faz uma crítica ao sistema capitalista e defende o socialismo democrático, assim como na obra de George.
A sonoridade e as letras do álbum
Animals possui “apenas” cinco faixas, mas três delas com mais de dez minutos de duração. Os destaques vão, justamente, para as faixas mais longas: “Dogs”, “Pigs (Three Diferent Ones)” e “Sheep”.
Em “Dogs”, é relatado sobre a necessidade de saber ser esperto o suficiente para conseguir sobreviver, mesmo que de forma agressiva, em um sistema opressor, comparando os seres humanos com cães impiedosos com suas presas, que representam pessoas consideradas mais frágeis e suscetíveis. É uma crítica à ganância e ao modo como o poder tem tanto dentro valor do sistema capitalista, que pode até mesmo fazer algumas pessoas abrirem mão da sua humanidade para conseguir o sucesso e o dinheiro.
Já na faixa seguinte, “Pigs (Three Diferent Ones)”, traz críticas a políticos, algumas delas até consideradas diretas, como a frase “'Hey you, Whitehouse”, em alusão a Mary Whitehouse, ativista social britânica conhecida por suas campanhas conservadoras. Na canção, os porcos são representações de autoridade e ganância, realizando manipulações e explorações para benefício próprio, em referência às corrupções.
A faixa que fecha o trio, “Sheep”, aborda a obediência e submissão no modo como a massa é manipulada. Mesmo com as ameaças ao redor, como os cães prontos para atacar, as ovelhas aceitam o que dito e proposto sem ao menos questionar ou mostrar resistência. Elas podem ser vistas como as pessoas que foram convencidas a acreditar no que os porcos dizem que é o certo ou a verdade, quando, na realidade, a única coisa que lhes interessa de fato é obter benefícios e lucros, custe o que custar.
O impacto do disco na indústria e o que veio após
Animals chegou ao público oficialmente em 23 de janeiro de 1977, na Inglaterra, e em 12 de fevereiro, nos Estados Unidos. No Reino Unido, o disco chegou a alcançar segundo lugar entre os mais vendidos, enquanto em solo estadunidense conseguiu a terceira colocação. Com o sucesso do trabalho, a banda deu início a turnê “In The Flesh Tour”, tocando na América e na Europa. Um dos símbolos das apresentações ao vivo do álbum foi um porco inflável, que flutuava em meio a plateia durante as músicas.
A turnê também foi o ponto de partida para os problemas de relação que mais tarde motivaram a criação do disco seguinte “The Wall”. Em um dos shows da In The Flesh Tour, um dos fãs fez tanto barulho que Roger Waters cuspiu em seu rosto. Ainda durante a turnê, Waters declarou para um dos produtores da banda que gostaria que houvesse um muro separando o grupo e o público, além de reforçar o seu desejo pela auto isolação. Gilmour, guitarrista do Pink Floyd, também se sentia incomodado e recusava o “bis” ao fim do show - o ato de tocar algumas músicas a mais do que o programado, a pedido dos fãs.
Animals foi o último álbum com o quarteto clássico do Pink Floyd; David Gilmour, Roger Waters, Richard Wright e Nick Mason. O tecladista, Wright, deixou o grupo tempo depois, em 1979, mas chegou a participar das gravações do álbum “The Wall” como um músico de apoio, e não mais como integrante da banda.
Danilo Souza
Estudante de Jornalismo pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), músico e produtor audiovisual independente.danilosouza.jornalismo@gmail.com (Email)
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