Afroconveniência real para racismo recreativo ou uma injustiça misteriosa?

Reprodução/Instagram

Da saga de absurdos cotidianos veio aí o caso repugnante do youtuber Julio Cocielo, que por anos incitou racismo nas redes sociais, descaradamente, abertamente, e, ainda assim, foi absolvido pelo Judiciário de São Paulo. O ‘translúcido’ juiz Rojne Roncada alegou que, apesar de as práticas de Cocielo serem moralmente reprováveis, não havia nitidez de racismo. Sim, você leu certo: racismo sem clareza de racismo, rs. Parece que a cegueira aqui não é apenas moral, mas principalmente judicial, não é mesmo?!

Para tal feito, a defesa de Cocielo tirou da cartola o argumento mais infame da "Afroconveniência". Sim, o rapaz branco que sempre fez piadas racistas, agora se declarou negro. ‘Negão, vish!’ E o advogado dele afirmou que, sendo negro, Cocielo não poderia cometer um crime contra o grupo ao qual pertence. É, parece piada, mas é só mais um capítulo do pacto da branquitude que é surreal no Brasil.

E mesmo que o cara fosse negro (spoiler: ele não é), ainda assim racismo é racismo, seja lá quem o pratique. Pessoas negras que reproduzem racismo, por exemplo, são presas, como aquela senhora negra que chamou o motorista de macaco. Mas, claro, a branquitude tem seus privilégios até na afroconveniência.

A decisão judicial, pasmem, acolheu os argumentos da defesa, dizendo que as falas de Cocielo, apesar de "gosto discutível", não configuravam incitação ao racismo. O juiz ainda escreveu que o humorista não tinha a intenção de ofender e que nunca demonstrou comportamento racista. Particularmente, simpatizo com a versão que amadureceu em família do Cocielo e, se a justificativa fosse algo sobre a falta de educação racial da época, seria menos indigesto seguir em frente agora. Mas alegar que é negro para se safar? Isso é um novo nível de audácia.

Enquanto isso, uma senhora de 78 anos foi presa por chamar um motorista de ônibus de macaco. Ela xingou o motorista repetidamente e, mesmo na delegacia, manteve suas falas racistas. Claro, ela foi presa, mas rapidamente liberada também. A justiça é rápida em tardar e falha rapidamente, rs…

Fato é que a sofisticação do racismo no Brasil atinge níveis impressionantes. A reedição do mito da democracia racial e a afroconveniência são só mais exemplos de como a sociedade se reinventa para manter velhas estruturas de poder. O mais irônico é ver que até o argumento de ser negro só vale para brancos.

Então, da próxima vez que ouvirmos sobre liberdade de expressão e humor como defesa para o racismo, vamos lembrar que a justiça aqui tem um olho cego e o outro... míope. E enquanto uns usam a afroconveniência para se safar, outros ainda lutam para ter sua dignidade reconhecida. No fim das contas, a verdadeira piada é a justiça que ri na cara da igualdade. Somos uma piada pra você?!

 


Laís Sousa

Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!
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laissousazn@gmail.com

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