A Política escatológica: cagando regras e injustiças
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Num dia comum de caos e baixaria, uma cena digna de um episódio de comédia que eu não teria tido a condição que o coleguinha teve de não rir: um vereador do Rio de Janeiro, em uma sessão online da Câmara, é flagrado literalmente “cagando” durante a transmissão. Não, não é metáfora. Tá gravado. O homem estava lá, em uma posição que dispensa descrições. Esse incidente, no entanto, é apenas um reflexo simbólico do que anda acontecendo nas esferas legislativas do nosso país, porque se a política brasileira já parecia uma grande latrina, agora temos provas concretas.
Vamos combinar, essa "cagada" em plena sessão legislativa resume bem a sensação de muitos brasileiros diante das últimas deliberações na Câmara dos Deputados. Num país onde se discute pena para mulheres que abortarem, mesmo em caso de estupro, para 6 a 20 anos, enquanto os estupradores têm penas de 8 a 15 anos, fica claro que a prioridade de nossos legisladores não é proteger as vítimas, mas perpetuar uma cultura de opressão e controle sobre o corpo feminino.
Essa aberração legal escancara a hipocrisia cultural entranhada nas nossas instituições. No mesmo espaço onde se propõem penalidades desproporcionais para mulheres em situações desesperadoras, discutem-se, sem a menor vergonha, questões sobre a "autenticidade" de ser mulher, com parlamentar afirmando que só quem pode reproduzir é que tem o direito de ser reconhecido como tal. Como se ser mulher se resumisse à capacidade biológica de dar à luz, ignorando completamente a identidade, a vivência e a dignidade das pessoas trans que nos representam tão bem como a Erika Hilton ou mesmo das CIS que não querem ou não podem gestar crianças.
E não para por aí. Crianças sendo levadas a manifestações LGBTQIA + são alvo de críticas ferrenhas, como se ali também famílias não estivessem lutando por um futuro onde o respeito e a aceitação sejam a norma, e não a exceção. Os moralistas de plantão preferem fechar os olhos para a realidade dessas famílias, fingindo que o problema não existe e perpetuando um ambiente de intolerância e preconceito.
Enquanto isso, uma luz de esperança e resistência aparece em figuras, pasmem, como Luana Piovani, que, tanto fez que ajudou a desviar temporariamente a atenção da privatização das praias. Sim, essa batalha ambiental crucial foi ignorada, por hora, mas não se enganem, o “ignóbil” continua à solta, sendo defendido com unhas e dentes e promovendo leilões de caridade que só servem para maquiar a desigualdade que ele mesmo ajuda a perpetuar.
Nesse mar de desinteligência, hipocrisia e retrocesso, a única arma eficaz que nos resta é uma limpeza política feita com a escova do voto consciente. Precisamos usar nossa voz para eleger representantes que realmente lutem por justiça, igualdade e respeito. Porque, se depender dos atuais, continuaremos vendo cenas “cagadas”, dignas de comédia pastelão, mas cujas consequências são desastrosas para toda a sociedade. Essa necessidade fisiológica é nossa, especialmente, das mulheres!
Laís Sousa
Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!@laissousa_
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