Viva o amor e a realidade das mulheres negras!
ISTOCK/PIOLA666/REPRODUÇÃO
Essa semana, enquanto eu celebrava a vitória histórica de Vinny Jr., que conseguiu fazer com que racistas fossem condenados e presos na Europa, ouvi uma pérola que me fez rir de tamanha petulância: "Se acabar o racismo, os influenciadores e produtores de conteúdo negro não terão mais o que falar." Ah, seria um sonho poder falar apenas do que gostamos, né? Eu mesma adoraria discorrer só sobre entretenimento, música e fantasia. Mas, infelizmente, a realidade insiste em esfregar na nossa cara dores que são impossíveis de ignorar. E quando essas dores não são nossas individualmente, são coletivas!
Essa semana também tivemos o Dia dos Namorados, e por aqui, você nunca me verá falando mal de explorar bons sentimentos. Viva o amor, nem que seja o amor próprio! Agora, eu sou afrontosa e vou pegar o gancho do racismo novamente para falar sobre a "solidão da mulher negra" – um tema que precisa ser discutido com urgência após surra de amor declarados e presenteados em rede social.
Como bem pontuou bell hooks, estamos em último lugar na base de uma pirâmide de prioridades e privilégios sociais. E será que isso não se refletiria no amor, no afeto? Mas é óbvio! Antes que alguém venha me dizer que existe afeto sim, que somos “a cor do pecado”, “preferência para sexo e exportação”, rs... Eu falo sobre afeto verdadeiro, não atrelado aos traços mais “afilados”, já ouvi!
Estou cansada de ouvir histórias de mulheres que são abandonadas quando deveriam ser apresentadas para amigos e família, com relacionamentos oficializados. Mulheres que nunca receberam uma flor sequer ou foram convidadas para um jantar em um lugar legal e público. Mulheres que nunca foram exibidas como troféu. Mulheres que vivem e se dedicam aos amores na penumbra, nunca como a primeira ou melhor opção. Mulheres que, ao invés de serem celebradas, são informadas de que viraram amantes, que se acostumam a confundir amor com prazer para ter migalhas.
Como disse meu amigo inspirador de esperanças Edgard Abbehusen, “pra frente é que se ama”, mas é impossível não olhar para trás historicamente e ver que existe uma maneira de acolher e amar mais as mulheres negras. Precisamos de mais histórias de amor verdadeiro, onde o afeto não é condicionado pela cor da pele, mas sim pelo respeito e admiração genuínos.
Então, vamos sim falar de amor, mas também de todas as barreiras que ainda existem e que precisam ser derrubadas. Porque o verdadeiro amor inclui igualdade, respeito e a celebração de todas as diferenças. E, enquanto isso não for realidade, continuaremos a falar sobre a luta e as conquistas necessárias para que um dia possamos falar só de entretenimento, música e fantasia, como todos merecemos.
Laís Sousa
Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!@laissousa_
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