Mulheres também traem por prazer?
Mulheres têm me confidenciado sobre seus casos de traição e entre as motivações delas prevalecem a insatisfação sexual e afetiva no relacionamento. Homens sempre justificaram suas traições em busca do prazer fora da relação. Como tem sido com as mulheres?
Resolvi estender a conversa por aqui também, para refletirmos sobre algumas questões que envolvem sexualidade e a infidelidade feminina.
Ao falar sobre infidelidade, preciso fazer um recorte de gênero aqui: homens e mulheres infiéis são julgados de formas diferentes, especialmente se o maior motivador da relação extraconjugal for o prazer e a satisfação sexual.
Estou falando de mulheres que gozaram e realizaram suas fantasias pela primeira vez com os seus amantes. Alguns relatos carregados de muita culpa outros de muita satisfação em ter descoberto o prazer. Há também aquelas que se sentem vingadas pela falta de afeto, atenção, parceria e abertura do parceiro com seus desejos sexuais.
Então, sim, mulheres também traem por prazer. Mas diferente dos homens, que em muitos casos, basta a atração física e uma oportunidade, as mulheres antes de trair relatam suportar anos de insatisfação.
Mulheres traem menos ou temem mais as consequências da traição?
O julgamento moral e, até mesmo, jurídico são diferentes em casos onde a mulher é a traidora. Somente em 2021, o STF tornou inconstitucional a tese de “legítima defesa de honra”, usada nos tribunais para absorver homens acusados de feminicídio e agressão.
E então uma pergunta que você deve estar se fazendo também: por que permanecer em um relacionamento falido e ainda correndo tantos riscos? Muitas vezes por dependência financeira, filhos e outro fatores ligados aos papéis que a mulher socialmente é cobrada a cumprir.
Outro ponto que me chama atenção é que em muitos relatos elas só criam coragem para trair depois de um longo histórico de traição dos seus parceiros. Aqui temos uma grande brecha para discutirmos a solidez dos contratos monogâmicos em uma outra oportunidade.
No livro Histórias íntimas: Sexualidade e Erotismo na história do Brasil, a autora Mary Del traz um recorte histórico e cultural sobre o adultério. Fica explícito que homens sempre tiveram passe livre para buscar prazer com suas amantes ou em bordéis, enquanto suas esposas, cientes do seu papel exclusivamente reprodutor, não questionavam o contrato de fidelidade desproporcionalmente injusto.
Embora não haja estatísticas sobre o assunto, é de imaginar-se que as relações extraconjugais fossem correntes, depois do casamento. [...] Fazia-se amor com a esposa quando se queria descendência; o resto do tempo era com a outra (p. 67).
Nesse quadro onde se misturavam casamentos por interesse e concubinatos, a prostituta tornou-se necessária. O adultério masculino era, nessa lógica, necessário ao bom funcionamento do sistema. As mulheres ocupavam-se da casa e iam à igreja; os homens bebiam, fumavam charutos e se divertiam com as prostitutas (p83).
Alguns séculos depois e o que mudou?
Agora as mulheres também querem se divertir, até mesmo aquelas que não consumam uma traição. Na falta de interesse dos maridos em satisfazê-las, elas se descobrem com os brinquedos sexuais. E ainda assim, escondido, como em um adultério.
A intenção dessas observações não é absorver o erro da traição quando feita por mulheres, mas sim refletir sobre como a insatisfação sexual incomoda muito mais as mulheres deste século comparado há algumas décadas. Mesmo porque, eu jamais incentivaria algo que pode custar uma vida.
Eu espero que na indiferença do outro em retribuir o prazer na relação, todos, incluindo os homens, busquem um caminho mais honesto antes de chegar a uma traição, que deixa sempre um rastro.
E por fim, me pergunto se na ausência do machismo e desigualdade de gênero, teríamos menos traições ou talvez as relações não-monogâmicas se tornariam uma via mais natural e conveniente.