Brasil: pódio Olímpico e o subsolo do preconceito


Loic VENANCE / AFP

Plot twist: aquela reviravolta inesperada que muda o rumo do caso e faz você arregalar os olhos e soltar um “não acredito!”. E foi exatamente isso que aconteceu quando um canal de TV francês, o CNews, decidiu eleger o uniforme olímpico brasileiro como um dos mais bonitos das delegações para a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris. Sim, fugitivos, o Brasil, um dos principais produtores mundiais de roupas jeans e propagador do chinelo que todo mundo usa e recusa imitações, conseguiu capturar os olhares franceses com um traje que, ao que parece, representa nossa fauna e flora e faz um aceno para a sustentabilidade com tecidos reciclados. Mas, cá entre nós, sabemos que poderíamos oferecer aos nossos atletas algo bem melhor!

Nossa delegação de 274 atletas está em Paris para competir em 39 modalidades, e já trouxemos para casa 1 ouro, 3 pratas e 3 bronzes. Bia Souza conquistou nosso primeiro ouro, Willian Lima, Caio Bonfim e Rebeca Andrade estão levando a bandeira verde e amarela com orgulho, enquanto Larissa Pimenta, a equipe feminina de ginástica artística e Rayssa Leal complementam a coleção de medalhas. Mas não vamos parar por aí! Com Gabriel Medina no surf, Isaquias Queiroz na canoagem, Beatriz Ferreira no boxe e Alison dos Santos no atletismo, as chances de mais medalhas estão na ponta dos dedos (ou das pranchas e dos pés).

É de se emocionar ver esses atletas representando a nossa brasilidade e dando literalmente o sangue pela vitória né Flavinha?! A rivalidade entre Rebeca Andrade e a campeã Bailes? Nada disso! Duas potências negras se reconheceram como grandes competidoras, mostrando que o espírito olímpico é muito mais sobre união do que sobre disputa e que a história que fazem inspira os mais novos, os mais velhos e que estão aqui para admirar! A gente comemora toda vitória como se fosse ouro, porque vale. Mesmo sem entender todas as regras, torcemos a ponto de julgar juízes. Alguns com razão, como no caso do Pedro Scooby, que desmascarou um imparcial ao melhor estilo Luana Piovanni, sem papas na língua e com a boca no mundo.

Enquanto nossos atletas batalham em Paris, por aqui os dispensáveis conservadores e espalhadores de fake news não descansam. Recentemente, dispararam informações falsas sobre a boxeadora argelina Imane Khelif, que é intersexo. Falaram dela como se fosse uma mulher trans ou um “homem biológico” para questionar sua participação e os “direitos iguais” alegando covardia contra mulheres. Pessoal, intersexo não é a mesma coisa que ser trans. Intersexo se refere a pessoas com características sexuais que não se encaixam exatamente nas definições típicas de masculino ou feminino. Já uma pessoa transexual tem uma identidade de gênero diferente do sexo que foi atribuído ao nascer. No ringue, a italiana Angela Carini, adversária de Khelif, declarou ter desistido por conta de dores no nariz, desmentindo qualquer relação com a condição da rival.

Assim seguimos, celebrando cada conquista, desmascarando injustiças e batalhando contra essa desinformação persistente que, por Deus (rs), nos assola e assola até as apresentações artísticas de abertura das Olimpíadas confundindo O Olimpo com Santa Ceia. O Brasil não é apenas um país para amadores e ainda tem atletas incríveis, moda sustentável e muita, mas muita garra!


Laís Sousa

Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!
@laissousa_
laissousazn@gmail.com

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