Sobre o que vemos e o que não queremos ver
Foto: Boutique Dluxreis
Estamos em uma era em que a realidade virtual tem filtrado tanto o mundo ao nosso redor que esquecemos de olhar para o que realmente importa. E essa semana, como se estivéssemos em um episódio de Black Mirror, o Instagram anunciou que vai retirar os filtros (de beleza e tudo mais). Sim, aqueles mesmos que suavizam imperfeições, afinam o nariz e fazem milagres em milissegundos. Mas será que estamos prontos para encarar a realidade sem essa lente?
Ao mesmo tempo, enquanto nos ajustamos à ideia de uma realidade menos editada nas redes, o mundo esportivo nos lembra do poder da superação. As Paralimpíadas começam, trazendo histórias de atletas que transformam limitações em força e desafios em conquistas. No contraste com o nosso cotidiano de likes e selfies, esses atletas nos mostram que a verdadeira beleza não está na perfeição, mas na capacidade de seguir em frente, de superar obstáculos e de brilhar naquilo que nos torna únicos.
Entre essas notícias, somos convidados a refletir sobre o que realmente significa ser autêntico em um mundo que constantemente nos diz para sermos outra coisa…
Nesta semana, Virgínia Fonseca, a queridinha das redes sociais, que, grávida de seu terceiro filho, viu sua intimidade devassada por teorias conspiratórias sobre a paternidade de sua primogênita. Não se engane, por trás das risadinhas e fofocas, há uma mulher grávida, lidando com o peso de ser julgada por milhões enquanto carrega um novo ser dentro de si. E, convenhamos, lidar com hormônios já é difícil o bastante sem precisar de um tribunal popular.
Em outro drama, temos a Iza, que, após reatar com o pai de sua filha, se viu pressionada a se pronunciar como "mulher preta" sobre sua escolha pessoal. Ah, o bom e velho double standard! Porque é claro, uma mulher negra, poderosa e talentosa não pode simplesmente viver sua vida amorosa sem ser convocada a defender uma causa maior. É quase como se esperassem que ela carregasse o peso de toda uma história de opressão em cada decisão íntima que toma. Será que algum "fofoqueiro" cobrou o mesmo das tantas mulheres envolvidas no pacto da branquitude que resolveram dar um voto de confiança ao parceiro infiel?
Enquanto isso, no campo das verdadeiras tragédias, a notícia da morte de Juan Izquierdo, jogador uruguaio de 27 anos, caiu como uma bomba. Em plena partida, o coração do jovem atleta descompassou e após internamento, deixou para trás uma esposa e dois filhos pequenos, um deles recém-nascido. Esse caso é um daqueles que nos lembra que a vida é um sopro, que o tempo que passamos discutindo pormenores e criticando as escolhas dos outros poderia ser melhor usado para valorizar o que realmente importa.
A vida, assim como as redes sociais, é cheia de filtros — sejam eles de beleza, de preconceitos ou de expectativas. Mas, no fim do dia, o que vemos no espelho quando esses filtros são retirados? Será que estamos prontos para nos ver, e aos outros, como realmente somos? Talvez a maior lição dessa semana seja essa: que nem sempre precisamos de um filtro para mostrar nossa melhor versão, e que, às vezes, a verdade — crua, sem embelezamento — é a que verdadeiramente pesa para carregar.
Que possamos aprender com os atletas das Paralimpíadas que a força verdadeira vem de dentro e que, sem filtros, também somos capazes de grandes feitos. Que saibamos valorizar as histórias, as vidas, e os legados que deixamos, sem precisar de retoques. E que, no fim das contas, nos lembremos que o que vale é o que somos, e não o que projetamos ser.
Essa é a reflexão que deixo para a semana. Vamos aproveitar o momento para ver além das aparências e descobrir o que realmente importa. Nos vemos na próxima crônica, sem filtros por aqui...
Laís Sousa
Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!@laissousa_
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