A internet está offline, mas a gente não desliga


Reprodução Instagram Iza

Nada como um evento feliz e uma tragédia para fazer da internet uma arena descontrolada. Numa timeline, nasce a pequena Nala, filha da cantora Iza. Em outra, o cantor de ex-boy band One Direction, Liam Payne falece, e logo surgem dedos apontados para a ex-namorada Maya Henry e a atual companheira Kate Cassidy. A tragédia e o nascimento de vidas se tornam combustível para debates tóxicos – e, claro, “todo mundo” tem algo a dizer.

No caso de Nala, a cor da mãozinha do bebê vira assunto. Influenciadores negros que discutem racismo são obrigados a ouvir sobre “racismo reverso” quando uma recém-nascida vira alvo. Como se fosse possível colocar “reverso” no racismo e, por mágica, ele se tornar inofensivo ou justificável. Enquanto isso, Iza mais uma vez é questionada como se fosse ré num tribunal imaginário. Por que enfatizar o tom de pele do bebê?

Do outro lado, a morte de Liam é tratada como um roteiro de série sensacionalista. Maya Henry, que já havia publicado um livro relatando um relacionamento tóxico e revelações sobre um aborto, torna-se alvo imediato de acusações. Seu relato é distorcido e sua culpa é decretada: se ele está morto, é porque ela falou demais. E Kate Cassidy, namorada no momento da morte, não se livra das cobranças: “Por que não se pronunciou?”. Não há espaço para luto sincero – apenas para a expectativa de declarações e likes rápidos​.

A lógica é clara: as redes exigem que você seja sempre on. A cada segundo de silêncio, surge um comentário inquisidor, e ao primeiro erro, a internet inteira está com as pedras na mão. Afinal, culpabilizar é mais fácil do que entender. As pessoas fazem isso não porque querem justiça, mas porque o caos também gera identificação. Como consumidores, fazemos parte de um show de horrores, onde a compaixão sai de férias e a empatia é tratada como fraqueza.

Lições? Talvez apenas uma: em algum momento, todos seremos o “tópico do momento”. E quando isso acontecer, é bom lembrar que o botão de “desligar” existe – se não no Wi-Fi, pelo menos na nossa consciência.


Laís Sousa

Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!
@laissousa_
laissousazn@gmail.com

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