Entre troféus e troncos: quando o futebol apita o racismo


Foto: fogaonet

Vamos falar de uma partida que vai além do campo, onde cada jogada vira símbolo e cada ausência se faz presente. Vini Jr, o craque cuja habilidade ofusca a própria mídia, teve na recente temporada o direito ao reconhecimento. Mas, ao final, foi Rodri quem subiu ao palco. Não era sobre talento ou estatística – era sobre quem “encaixa” na narrativa global, quem leva e veste a camisa sem levantar bandeiras que o sistema prefere silenciar.

E é aqui que entra o “aconselhamento” de Tiago Leifert, o "sapatênis sabe-tudo", sugerindo que Vini deveria ter comparecido ao evento, encarar de cabeça erguida o sistema que o ignorou, como se só estar lá, com sorriso contido, pudesse transformar a situação. A velha fórmula de aplaudir educadamente enquanto o sistema decide se e quando merece mudar.

Futebol e privilégio caminham lado a lado, e o racismo na arena internacional tem um método: mostrar-se inclusivo sem querer realmente incluir. Na cerimônia, traz-se um ícone africano para posar ao lado da taça, enquanto Vini permanece em casa, seu brilho propositalmente ignorado, porque, no fim, um jogador negro que não se cala pode perturbar mais que um talento indiscutível. A FIFA nos brinda com um mecanismo batido, que reveste o palco com diversidade simbólica e invisibiliza as vozes que resistem. Um processo repetido em tantos lugares, da bola de ouro ao mundo corporativo – onde inclusão é uma fachada e mudanças são apenas cosméticas.

Tiago e outros “orientadores” esquecem que o racismo não se debate, vive-se. Quem carrega na pele a história não precisa de conselho sobre como ser forte, como reagir. Para entender o que Vini enfrenta, é preciso mais que assistir ao jogo – é sentir, e isso não vem de fora. Porque, no final, se futebol fosse só futebol, a luta seria pelo gol mais bonito, e não pela justiça de cada lance.


Laís Sousa

Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!
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