Brasil: da indicação ao Oscar ao indiciamento político
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Quando a imagem de Fernanda Torres em sua indicação ao Oscar foi divulgada, o Brasil não apenas vibrou. O que se seguiu foi um recorde de curtidas, comentários e compartilhamentos, um reflexo imediato da conexão emocional que o país tem com sua arte e sua história. Para além do reconhecimento individual de uma atriz excepcional, o impacto de sua indicação reverberou profundamente, tocando em temas que atravessam a cultura e a política do Brasil de hoje. Fernanda não está apenas sendo reconhecida pelo seu talento, mas também se tornando um símbolo de um Brasil que ainda busca se reinventar.
O filme Ainda Estou Aqui, onde a atriz interpreta Eunice Paiva, apresenta o drama de uma mulher marcada pela dor da ditadura militar. A obra, baseada na autobiografia de Marcelo Rubens Paiva, se distancia de um mero relato histórico e se torna uma reflexão visceral sobre o luto e a busca por reconstrução, tanto no plano pessoal quanto no coletivo. O Brasil, tal como Eunice, ainda lida com as feridas abertas por um período sombrio de sua história, sem conseguir, de fato, se curar. O filme não é apenas uma recriação de um tempo perdido, mas um grito silencioso para que o país não repita os erros do passado.
E é aqui que a sincronia entre a história da família Paiva e os acontecimentos políticos do Brasil se torna inescapável. A recente revelação de mais um indiciamento de Jair Bolsonaro, dessa vez por tentativa de golpe de Estado, é o reflexo de uma tentativa de reviver os tempos mais obscuros da história do país, como se uma continuação não resolvida da ditadura. Assim como o filme de Torres lida com os vestígios da repressão, o Brasil se viu à beira de reviver o trauma pós-democracia, uma ameaça à própria construção da nossa república.
A foto de Fernanda, portanto, vai além de uma simples imagem de glória pessoal: ela nos lembra da importância da arte na reconstrução do país, na recuperação da memória histórica, na necessidade de que não se repita e que não permaneça impune - sem anistia! A repercussão de sua indicação ao Oscar não é apenas sobre o sucesso de uma atriz, mas sobre um Brasil que ainda tenta entender e superar seu passado.
O indiciamento de Bolsonaro, por sua vez, não é apenas o julgamento de um ex-presidente. Ele representa a crítica, a avaliação de um período que marcou o país e que, de certa forma, ainda define o presente. A tentativa de golpe, as mentiras propagadas e as ameaças à democracia são uma extensão de uma mentalidade autoritária, uma herança que não desaparece facilmente.
O filme Ainda Estou Aqui e os acontecimentos políticos atuais se entrelaçam, ambos fazendo eco de um Brasil que luta para se reconstruir e ao mesmo tempo que tem que estar atento para evitar que suas feridas mais profundas se reabram. O Brasil segue seu caminho, entre o brilho de uma atriz no Oscar e o peso de uma polarização política, entre os símbolos de superação e os resquícios de um fantasma autoritário.
É necessário lembrar do que foi ocupar os lugares onde se cabe, com o reconhecimento que se deve e também sonhar com o que pode ser: um futuro mais livre, mais democrático, justo e, acima de tudo, mais consciente de suas próprias feridas e potencial de cura.
Laís Sousa
Jornalista-marketeira-publicitária comunicando em redes sociais de segunda a sexta. Escritora e viajante nas horas cheias e extras. Deusa, louca, feiticeira com trilha sonora em alta. Leitora, dançarina e pitaqueira por esporte sorte. Vamos fugir!@laissousa_
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