Os melhores livros que li em 2024
Todo final de ano, escrevo como nunca. Registro minhas alegrias, tristezas, decepções e ambições para o que vem por aí. Ao refletir sobre 2024, percebi que, em nenhuma das minhas tentativas, consegui desvincular minha vida das minhas leituras. Os livros fazem parte do meu cotidiano de forma tão intrínseca que todas as minhas vivências, visões de mundo e opiniões acabam sendo, de alguma forma, atravessadas por aquilo que leio. E o que leio, inevitavelmente, influencia a maneira como escrevo. Não há como separar uma coisa da outra.
Comparado aos últimos dois anos, 2024 foi o ano em que menos li até hoje. No entanto, arrisco dizer que, em termos de qualidade, foi o mais marcante. Li 20 livros e, talvez pela primeira vez, todos me impactaram de alguma forma, conectaram-se com o que vivi e adaptaram-se às minhas circunstâncias.
Abaixo, fiz considerações sobre os meus nove livros favoritos dos últimos 12 meses:
Talvez você deva conversar com alguém
Essa foi uma das minhas primeiras leituras do ano e, apesar do título, posso prometer para você que não se trata de uma autoajuda barata. Nesse livro, a psicóloga norte-americana Lori Gottlieb compartilha histórias densas, sensíveis e curiosas sobre alguns de seus pacientes mais marcantes ao longo de sua trajetória nos consultórios. Adorei a profundidade dos personagens e o quanto eles apresentaram nuances da complexidade humana.
O mais interessante é como a autora não se coloca apenas como uma profissional que observa e analisa seus pacientes, mas também como alguém que enfrenta seus próprios dilemas, vícios e crises. Lori divide com o leitor momentos de vulnerabilidade, quando ela mesma busca a ajuda de um terapeuta para lidar com a sua ansiedade. Essa leitura é um convite para refletir sobre como todos nós carregamos histórias que nos moldam, nos ferem e, ao mesmo tempo, nos fortalecem, além de nos lembrar da importância de olhar para os nossos sentimentos não apenas de forma solitária, mas também sob a ótica de uma perspectiva profissional. (Façam terapia!)
A amiga genial
Esse livro é sensacional — e não sou só eu que penso assim. A Amiga Genial foi eleito o melhor livro do século XXI pelo jornal norte-americano The New York Times. Elena Ferrante aborda a complexidade das relações femininas de uma maneira tão bruta e crua que a narrativa acaba atravessando qualquer leitor que se disponha a ler a história. Durante a leitura, muitas vezes voltei a alguns trechos apenas para apreciar o estilo de escrita da autora.
A pessoa Elena Ferrante ainda é um mistério para todos. Para quem não sabe, esse nome é apenas um pseudônimo, e a verdadeira identidade da autora nunca foi revelada. Existem alguns conspiracionistas que afirmam que Elena seria, na verdade, um homem escrevendo essas histórias. Para mim, essa teoria é impossível de acreditar, considerando a genialidade da autora em capturar as milhares de nuances e complexidades das relações e sentimentos femininos. A man could never, rs
A Amiga Genial é o primeiro livro da famosa Tetralogia Napolitana e nos apresenta Lila e Lenù, duas amigas que crescem juntas em um bairro humilde de Nápoles. A relação entre elas é tudo, menos simples. É uma amizade marcada por amor, inveja, admiração, competição e um profundo laço (problemático e estranhamente muito bonito) que resiste ao tempo e às adversidades.
Esse é um livro que fala sobre crescer, se encontrar (ou se perder) e sobre como as pessoas que passam por nossas vidas nos moldam de maneiras que nem sempre percebemos. Poderia passar horas escrevendo sobre este livro, mas prefiro deixar a sinopse aqui. Concluo dizendo que, sem dúvidas, Ferrante criou algo que não é apenas genial — é profundamente humano.
A redoma de vidro
Gostei tanto desse livro que até escrevi uma coluna sobre ele aqui no site da Mega. Costumo brincar que A Redoma de Vidro se tornou um tópico constante na minha terapia, mas, acho que essa história vai um pouco além disso, as questões que a protagonista enfrenta — sobre identidade, futuro e o peso das expectativas — ressoam até hoje, mesmo depois de 10 meses, dentro de mim.
A morte de Ivan Ilitch
Uma reflexão sobre a vida pela ótica da morte. Esse livro foi, sem dúvida, minha maior obsessão literária do ano. Comecei a leitura sem grandes expectativas, apenas buscando algo rápido para ocupar as próximas horas. No entanto, já na metade da história, me vi completamente envolvida: fascinada pelos trechos que conectei à minha vida e pelos questionamentos que surgiram, como “será que estou vivendo o que realmente desejo?”.
Em Por que Ler os Clássicos, Italo Calvino afirma que “um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”. Essa frase, além de atemporal, define perfeitamente A Morte de Ivan Ilitch. Escrito em 1886, é impressionante como essa obra continua atual. Ao longo das páginas, confrontei minhas convicções (ou a falta delas), minhas máscaras e a forma como enxergo a vida. As crises existenciais que tive após essa leitura não foram poucas, rs.
Recomendo este livro a todos e acredito que seja uma excelente porta de entrada para quem deseja começar a ler literatura russa.
Pacientes que curam
Pacientes que Curam conta o cotidiano de uma médica do SUS em formato de pequenas histórias que conseguem, ao mesmo tempo, entristecer e aquecer o nosso coração. Entre sorrisos e lágrimas, Júlia Rocha conseguiu me fazer ficar vidrada na leitura. De uma maneira bastante politizada, ela aborda as desigualdades do sistema de saúde pública brasileiro e a força de quem trabalha e depende do SUS.
Acho que qualquer pessoa da área da saúde deveria ler esse livro, mas ele também é indispensável para quem quer entender um pouco mais sobre o que é viver (e sobreviver) no Brasil.
Cartas a um jovem poeta
Comprei essa obra na expectativa de ler coisas que ajudassem, de alguma forma, no meu fazer literário. Mas encontrei uma espécie de manual com conselhos sobre a vida. Como eu disse no começo dessa coluna, não tem como desvencilhar uma coisa da outra. Falar de escrever é falar de viver.
Nas cartas de Rainer Maria Rilke, ele não apenas oferece reflexões sobre a escrita, mas também nos convida a olhar para dentro, a encontrar respostas nas nossas experiências, nas nossas angústias e nas nossas próprias verdades. O autor nos incentiva a aceitar as incertezas, a valorizar o silêncio e a respeitar o tempo das coisas.
Essa obra me marcou não apenas como leitora e pessoa que ocasionalmente escreve (ainda não me considero escritora, risos), mas, acima de tudo, como ser humano. Me lembrou que o ato de escrever não é apenas técnica, mas também entrega, coragem, paciência e persistência. É um livro que traz inspirações para a escrita, sim, mas, acima de tudo, nos ensina a viver com mais profundidade e intensidade, para sermos melhores e, principalmente, para que isso se reflita na nossa escrita.
Histórias lindas de morrer
Decidi ir na contramão e comecei a ler Ana Claudia Quintana Arantes pelo livro Histórias Lindas de Morrer, em vez de começar pela sua obra mais conhecida (A Morte é um Dia que Vale a Pena Viver), que já está na minha lista de leituras para 2025. Sinceramente, não poderia ter feito uma escolha melhor. O luto é um tema que sempre me interessou, talvez porque, admito, tenho uma relação difícil com a morte. Ela me apavora.
Aprendi muito com esse livro e, durante a leitura, tive a sensação de que cada palavra foi escolhida cuidadosamente para compor as histórias. Fiquei surpresa ao perceber que uma das escritas mais assertivas que já tive a oportunidade de ler é, também, uma das mais sensíveis.
A sombra do vento
Geralmente, escrevo longos textos sobre as minhas leituras após terminá-las, como uma forma de relembrar a história e também de registrar todos os meus sentimentos, sensações e pensamentos durante a leitura. Com A Sombra do Vento, a única coisa que consegui pensar e escrevi quando terminei o livro foi “Zafón, gênio absoluto”, e acho que isso seria o suficiente para falar sobre essa história.
A Sombra do Vento me cativou e me prendeu de uma forma que eu já havia esquecido que poderia acontecer. Passei a madrugada lendo e, quando terminei, queria que o livro tivesse mais 100 páginas. Sigo ansiosa para continuar a série e explorar as outras obras de Zafón no ano que vem.
Ensaio sobre a cegueira
Por último, e definitivamente não menos importante, Ensaio Sobre a Cegueira foi minha última leitura do ano. Não foi meu primeiro contato com Saramago, mas foi a obra que me fez compreender por que ele é considerado um gênio das palavras. Acho que todos deveriam ler esse livro pelo menos uma vez na vida.
Essa é uma história que provoca e nos faz questionar se realmente enxergamos ou escolhemos ignorar as adversidades do mundo. Ela mostra que a cegueira não é apenas uma condição, mas, muitas vezes, uma escolha. Ao finalizar a última página, precisei de um tempo para refletir e absorver tudo o que havia lido. Uma excelente maneira de terminar o ano.
✵ Por fim, se você chegou até aqui, desejo um feliz ano novo! Que 2025 traga paz, momentos felizes ao lado de quem amamos e muitos bons livros para nossas estantes. Mal posso esperar pelas leituras que me aguardam no próximo ano (e espero escrever sobre todas elas na coluna). :)