Em meio à polêmicas, Oruam entrega álbum fraco e cansativo musicalmente

São tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo que nem sei por onde começar. Mas aqui falarei principalmente sobre música, e nisso o Oruam ficou devendo em seu novo álbum, o “Liberdade”, lançado um dia após o rapper ter sido preso durante uma blitz, no Rio de Janeiro, na última quinta-feira (20). Não acho que seja um problema especificamente do artista, mas sim do movimento em que ele está incluído, o Trap, que carece de novidades e tem se perdido na mesmice, como eu já havia abordado em uma das colunas anteriores.

É um disco de quinze faixas, que, juntas, chegam a um pouco mais de 45 minutos de duração, que, pelo menos na teoria, tem um conceito baseado na prisão do pai de Oruam, o Marcinho da VP, líder de uma das maiores facções criminosas do Brasil e que está preso desde agosto de 1996. O artista defende que Marcinho já deveria ter sido solto, fazendo, inclusive, manifestações públicas, como aconteceu no último Lollapalooza.

Quase metade do álbum tem participações especiais, com sete das quinze faixas possuindo pelo menos um feat. A maioria deles são nomes também já consolidados na cena, como MC Cabelinho, Borges, Chefin, MC Poze do Rodo e Ryan SP. Nenhum deles chega a ser o grande destaque ou torna as músicas memoráveis, na verdade, em alguns momentos, para mim, parecem ser mais um apoio para o artista principal e uma tentativa de deixar o trabalho menos enjoativo, trazendo mais vozes para o projeto.

Uma das faixas mais esperadas pelos ouvintes – e até por quem não é, por conta do seu contexto – é faixa “Lei Anti O.R.U.A.M”, lançada em meio à polêmica sobre o Projeto de Lei que pode proibir shows de artistas que façam apologia ao crime organizado ou ao uso de drogas nas letras de suas músicas, proposto pela vereadora Amanda Vetorazzo (União Brasil) e colocado em pauta em Vitória da Conquista pelo também vereador Edvaldo Ferreira Júnior (PSDB).

Sonoramente falando, não é um álbum inovador para quem já é adepto do Trap. Tem instrumentais bons, mas nada que um fã do gênero já não tenha escutado várias e várias vezes em outras músicas parecidas. Já a respeito dos vocais, é uma pena ter que ser chato, mas, algumas performances estão em um nível mediano para baixo. Entendo que o autotune é uma ferramenta não só de correção, mas hoje também se enquadra como parte da estética do estilo musical que o Oruam produz, entretanto, em minha opinião, poderia haver mais cuidado no uso.

Este foi o primeiro álbum de Oruam, que, honestamente, poderia ter feito melhor. Mas é o que recebemos e que de qualquer forma será consumido pelos seus mais de treze milhões de ouvintes mensais no Spotify, em um momento atual em que números passam a significar qualidade e que resultam em mais contratações para shows e etc. Aqui, caímos novamente no Projeto de Lei, já que isso pode afetar diretamente na carreira do artista, o impedindo de se apresentar.

Não sou favorável ao Projeto, pois, em minha visão, ele tenta, de certa forma, censurar o que de fato é a realidade de algumas pessoas, como viver em meio ao crime organizado não por uma opção, mas porque é o que podem fazer nas condições que tem. Impedir apresentações com a proposta de “proteger crianças e adolescentes” é tentar fazer uma cortina de fumaça para um problema muito maior que é de responsabilidade das autoridades. Entretanto, isso não significa que eu esteja defendendo o Oruam, que, sim, tem o direito de se expressar, mas que possui falas e decisões que o levam para o centro da mídia e faz com que a ideia do Projeto seja reforçada.

No dia em que escrevo esta coluna, 26 de fevereiro de 2025, Oruam foi preso pela segunda vez em um intervalo de uma semana, desta vez por abrigar um foragido da Justiça em sua casa, além de também estar com armas e munição na residência, armas essas que pertencem ao envolvido, e não ao Oruam, de acordo com a Polícia. Ele foi solto ainda pela manhã, por volta das 11h. Ao falar com jornalistas que estavam no local cobrindo o fato, o artista comentou: “Vou voltar tranquilo para casa. O meu álbum está bombando e está do jeito que eu queria.”

Novamente, liberdade. Novamente, polêmicas. Ainda há muitos capítulos para esta história e eu espero falar do Oruam, no futuro, de forma positiva em algum dos seus próximos trabalhos. "Eles sempre tentaram criminalizar o funk, o rap e o trap. Coincidentemente, o universo fez um filho de traficante fazer sucesso, eles encontraram a oportunidade perfeita pra isso. Virei uma pauta política. Mas o que vocês não entendem é que a lei anti-Oruam não ataca só o Oruam, mas todos os artistas da cena."


Danilo Souza

Estudante de Jornalismo pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), músico e produtor audiovisual independente.

danilosouza.jornalismo@gmail.com (Email)
@danilosouza.jornalismo (Instagram)

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