Como é feita e para que serve a técnica de “empalhar” animais?
Por Patrick Moraes - Publicada em: 10 de julho de 2023 Fonte: Uesb.br
Você já deve ter visto aquelas espécies de “estátuas de animais” em filmes, séries de TV, museus ou, até mesmo, em exposições e feiras de escolas. Popularmente conhecidos como “animais empalhados”, a técnica de preservar a pele e montar animais muito similares à realidade é chamada de taxidermia e vem sendo feita há muitos anos, com os primeiros registros datados de séculos antes de Cristo, no Egito Antigo.
Mas como essa técnica é realizada? Conforme explica a professora Maria Lúcia Del-Grande, do Departamento de Ciências Naturais da Uesb, o procedimento é, basicamente, a preservação da pele dos animais, retirando todas as estruturas internas
dele que poderiam se decompor. A partir daí, essa pele passa por procedimentos químicos para sua preservação adequada, enquanto todo o interior do animal é preenchido com um material que tenha o mínimo de chance de entrar em decomposição.
O nome “empalhar” está associado, justamente, ao material usado por muitos anos no preenchimento dessas estruturas: a palha. Porém, a professora explica que, ao longo do tempo, outros materiais foram ganhando espaço e substituindo a palha. “Hoje, a gente tem algumas substituições. Mas, na essência, a gente usa muito o algodão, especialmente para bichos de pequeno porte, espuma expansiva, entre outras técnicas”, cita.
Todos os animais podem passar por esse procedimento. No entanto, Del-Grande aponta que os mamíferos e as aves tendem a ter uma montagem final mais satisfatória e similar à realidade, “por conta dos pelos e das penas, que não vão sofrer modificação mesmo depois de seco. Dá para fazer com outros animais, mas não fica tão bonito”. Sapos, por exemplo, tendem a ressecar sua pele no processo, assim como peixes com as escamas.
Outro fato interessante é que os animais taxidermizados, se mantidos nas condições adequadas, podem durar por séculos e séculos. O principal cuidado é impedir que as peças sofram ataques de agentes decompositores, que possam causar degradação no material. Por isso, é importante que a técnica seja feita dentro dos protocolos adequados e o animal taxidermizado seja preservado.
A coleção científica exige protocolos mais rígidos na aplicação da técnica
Para que serve? – Os dois principais usos da taxidermia são para fins científicos e educacionais. No primeiro caso, a técnica é aplicada para produção de coleções científicas, com protocolos mais rígidos para atender normas estabelecidas tanto na montagem como na finalização desses animais. Cada grupo de animal tem uma técnica específica: a de aves, por exemplo, é diferente das utilizadas em mamíferos.
Já quando o propósito é didático, existe uma “liberdade” maior no processo de taxidermização, mas é preciso respeitar as estruturas e posições originais do bicho. “Uma ave que pareça que está voando, um animal que está comendo ou andando, tudo isso vai ter uma função didática que, uma vez alguém olhando para esse material, vai poder extrair informações a respeito da vida daquele animal”, explica Del-Grande. Para esse tipo de taxidermia, o trabalho final, geralmente, é exposto em museus, feiras de ciência, exposições escolares ou, até mesmo, dentro de universidades.
Israel Vitor Rodrigues é estudante do bacharelado em Ciências Biológicas da Uesb e cursou, recentemente, a disciplina optativa “Preparação de vertebrados para coleções zoológicas”, onde a técnica de taxidermia é ensinada. Para ele, aprender a técnica é
também valorizar uma produção que auxiliou, inclusive, em sua formação. “Nas aulas de Zoologia, são bastante usadas coleções didáticas e científicas para poder ver de perto as estruturas e suas funções. Isso implica diretamente na nossa formação”,
destaca.
A Uesb conta com uma série de espécies taxidermizadas no Laboratório de Zoologia 2
De onde vem os animais? – Na Uesb, os animais taxidermizados são, majoritariamente, advindos do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do município de Vitória da Conquista, por meio de um convênio entre as duas instituições.
Esses animais já estão mortos quando são encaminhados para a Universidade, muitas vezes por não sobreviverem após serem resgatados do tráfico animal ou de outro tipo de maus tratos. Em quantidade bem menores, esses animais também chegam após serem encontrados mortos em algum tipo de acidente e ainda com condições físicas de serem submetidos à técnica.
Para fins científicos, alguns espaços fazem coleta de animais, mas em casos estritamente necessários e com a autorização do Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (ICMBio-Sisbio), que define uma série de protocolos.