Superlotação em hospitais e aumento de casos de dengue expõem a fratura entre município e estado
Unidade de Pronto Atendimento presente em Vitória da Conquista. Foto: Sesab
Duas mortes confirmadas por dengue, centenas de casos também confirmados, queixas da população por superlotação nos hospitais e o município fora da lista dos que vão receber doses da vacina contra a dengue. Este é o retrospecto da saúde de Vitória da Conquista, pelo menos até o momento, no ano de 2024, fazendo com que a saúde do município seja pauta frequente em veículos de comunicação e trazendo uma questão para debate: o que está acontecendo com a saúde pública municipal?
Em um boletim epidemiológico divulgado pela Prefeitura no fim do mês passado, referente ao período entre 1 de janeiro e 24 de fevereiro, foram registrados 564 casos de dengue, 22 de chikungunya e um de zika. Ao comparar esses dados com o mesmo período do ano anterior, nota-se um aumento de 665,92% no número de casos notificados por dengue. Já no boletim divulgado nessa segunda-feira (4), que expõe estatísticas registradas entre 1 de janeiro e 2 de março, um total de 890 casos de dengue foram confirmados e outros 3658 estão em investigação. Ainda em fevereiro, no dia 29, a primeira morte no município pela doença foi confirmada pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), e cerca de uma semana depois, no dia 6 de março, um segundo óbito causado pela doença também foi registrado.
Em uma tentativa de amenizar a situação, carros fumacê retornaram às ruas da cidade, pulverizando inseticida em cerca de 40 bairros e loteamentos do município. De acordo com a Prefeitura, aproximadamente 2500 hectares, o que equivale a metade da cidade, serão alcançados pelo fumacê, abrangendo mais de 110 mil imóveis, e é estimado que cerca de 1670 litros de inseticida sejam utilizados durante as pulverizações. Mesmo assim, os casos seguiram surgindo e o que era visto apenas em outros municípios, maioria deles da região Sudoeste, passou a acontecer em Vitória da Conquista. De acordo com a Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Divep) da Sesab, Vitória da Conquista é um dos 122 municípios em estado de epidemia de dengue.
Os hospitais que fazem parte da saúde pública do município também têm sido motivo de discussão desde que o aumento dos casos de arboviroses se tornou notável, apesar de nenhum desses equipamentos confirmarem oficialmente uma relação entre o número de casos de dengue com o aumento no número de pacientes nos hospitais.
A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) presente em Vitória da Conquista e administrada pelo Governo do Estado, por exemplo, enfrenta uma superlotação. Em nota à Mega, a Sesab diz que "a falta de oferta de serviços típicos qualificados da Atenção Primária – que são responsabilidades constitucionais do município – faz com que as unidades estaduais tenham que atender a uma demanda maior que a planejada, o que pode prolongar o tempo de espera por atendimento. Cabe ressaltar que Vitória da Conquista não dispõe de nenhuma Unidade de Pronto Atendimento municipal, por exemplo. A única UPA instalada no município é de gestão estadual".
Já a Secretaria de Comunicação (Secom) da Prefeitura, que também foi procurada pela equipe de reportagem para se pronunciar sobre a superlotação nas unidades públicas de saúde, se limitou a dizer que “os dois equipamentos (Unidade de Pronto Atendimento e o Hospital Geral de Vitória da Conquista) são administrados pela Secretaria Estadual de Saúde”. Apesar disso, a Prefeitura disponibilizou quatro postos de saúde para atendimento prioritário para os casos relacionados às doenças de arboviroses. Os postos de saúde são Solange Hortélio (Urbis II), Morada dos Pássaros, João Melo Filho (Ibirapuera) e Nova Cidade.
Em um contexto em que a relação entre superlotação dos hospitais e aumento de casos de dengue não é confirmada pelas secretarias de Saúde do município e do estado, os moradores de Vitória da Conquista seguem tentando fazer a sua parte para se manter saudáveis em meio a um problema que deveria ser resolvido de forma conjunta pelos poderes públicos, mas não são.
Leia na íntegra a nota enviada pela Sesab à Mega Rádio.
"Prezados,
O Governo da Bahia, por meio da Secretaria da Saúde do Estado, vem investindo na ampliação da assistência no município de Vitória da Conquista e Região por meio da ampliação do Hospital Geral de Vitória da Conquista e do Hospital Afrânio Peixoto.
Porém, a falta de oferta de serviços típicos qualificados da Atenção Primária – que são responsabilidades constitucionais do município – faz com que as unidades estaduais tenham que atender a uma demanda maior que a planejada, o que pode prolongar o tempo de espera por atendimento. Cabe ressaltar que Vitória da Conquista não dispõe de nenhuma Unidade de Pronto Atendimento municipal, por exemplo. A única UPA instalada no município é de gestão estadual.
Além disso, de forma geral, as solicitações de feitas à Central Estadual de Regulação são atendidas de 48h a 72h. Em alguns casos mais específicos, nos quais que o quadro do paciente aponta a necessidade de profissionais especializados, a exemplo da especialidade oncohematologia, pacientes acabam aguardando um tempo maior. Mesmo diante de diversas tentativas de ampliação da assistência, por conta da escassez de profissionais, o estado não consegue ofertar mais atendimentos."