Os ecos da guerra e a saúde mental

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Por Vanda Araujo

 

Você acreditaria na possibilidade de uma guerra deflagrada após a “mentalidade solidária e empática” cultivada durante as desafiadoras readaptações vividas em tempos pandêmicos? Quem acreditaria que após tanta superação (ou tentativa) viveríamos esse momento? Que razões poderiam se sobrepor a uma experiência de comoção mundial, com perdas ainda sendo elaboradas? 

Não. A guerra não tem razão. Tem egos inflados. A guerra não tem lados. Tem milhares. Cada mente uma sentença. A cada pessoa sua impotência e solidão. A cada um a dor do trauma a ser reconhecido, enfrentado, trabalhado, sofrido. Será mais uma dor que não se restringe apenas a este momento. Essas são vivências que impactam gerações, ecoando na saúde mental.

O interior do outro é ambiente sagrado. E a invasão do espaço do outro, seja do humano ou de uma nação, começa sempre no interesse egoísta e presunçoso. O desrespeito pelo alheio começa em si mesmo, se alimenta da desconsideração das próprias feridas emocionais e prolifera na inconsequência da falta de autopercepção, no ambiente da negação de quem si é... Só muda a proporção. Os despropósitos da ganância que desumaniza nunca terão seus verdadeiros motivos esclarecidos. Cabe a cada guerreiro lançar luz sobre as profundezas de seu abismo. 

Podemos lembrar outras experiências, dissecar motivações, ou sensacionalizar o fim do mundo. No entanto, ressoa um chamado para refletirmos no potencial que tem as crises de provocar reflexão e mudança. Como ecoa em você? 

Tão certo quanto o fato de a ambição de um autoritário estar aterrorizando a Europa é o de que sua mediocridade o priva da honra dos que reconhecem e lutam contra os próprios demônios internos. Afinal, não são os ditadores apenas extremistas inseguros que através de uma força intimidadora atestam sua extrema fraqueza?

1º de março - Homem observa o interior de uma cratera resultado de bombardeio num posto militar de Brovary, perto d Kiev, na Ucrânia — Foto: Genya Savilov/AFP

Ah, a tristeza de assistir a despedida de pais que beijam seus filhos antes de se alistarem na defesa da pátria. Ou os mais fragilizados suplicando um lugar no ônibus rumo a um lugar qualquer. Como lidar com o tormento da angústia provocada pela dúvida de se um dia poderão se abraçar novamente, sem ônibus ou trens apressando a partida?

A guerra é a nudez da humanidade. Sem filtros. O embate desmascara a cordialidade frágil. De todos nós. Ela escancara o ideal de segurança, equilíbrio e respeito de todos nós.

Haverá vencedor? Não há vencedores na conquista da mesquinhez que a alimenta. Que vença a consciência de que o que é essencial em nós precisa perdurar, a humanidade. A que implica diálogo respeitoso. Sem expressão e escuta, a começar de nossas próprias vozes internas, que podem martirizar com feridas emocionais, só nos resta a derrota.

Esse jogo terminará. Que seja muito em breve. Mas ao final desse confronto nem todas as peças de xadrez voltarão para a caixa, ou para o tabuleiro. Os espaços vazios, as ausências que poderiam ter sido evitadas, as questões sem respostas, esses levarão o tempo necessário a cada enlutado. 

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Sobre a autora: Eu sou Vanda Araujo (abreviatura, viu?!). Sou graduada em Psicologia, especialista em Terapia Familiar Sistêmica, com formação em Terapia Comunitária Integrativa e em Análise Corporal.  Atendo adultos (individual e casal) de forma predominantemente remota e te afirmo que a maior distância entre as pessoas não é geográfica, é afetiva. Não importa em que parte do mundo você esteja, a distância é indiferente. O que é realmente importante é a relação sincera e confiável que estabelecemos entre eu e você.

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Vanda Araujo

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